sábado, 19 de dezembro de 2015

UM HOMEM NO ESCURO

Plano aberto:
pontos de luz pela cidade.
Um beco.
Um homem caminha só.

Não se sabe seu nome
ou se desposou uma Evelyn
numa quarta-feira de verão.
Sabe-se que ele segue,
passos apressados,
sumindo-se com seu corpo
e seus sonhos,
se ainda os tem,
se é que algum dia os teve.

Solidão.

Uma folha de jornal,
presa à ferragem de uma usina,
estampa o que já é ontem.

E é natal.


│Autor: Webston Moura

ALDEBARÃ VISTA PELA PRIMEIRA VEZ


Sabem-me pássaros
no trânsito desta varanda.
Sei-lhes a travessia que,
mesmo em seu todo secreta,
está-me paraíso de signos.
E o denso é a emoção que sinto:
rio suave ante um tanger de cabras
nalgum entardecer de uma aldeia
cujo nome supõe raras gemas
e ócios de um tempo sem relógios.

Pronunciam-me âmbar de entalhe feminino,
tal ao que (voz a mais acima) diria afável:
Paco de Lucía em todo frescor.

Não quero o mundo, este do perde-ganha.
Quero o trigo no estalo mais certo sob o sol.

E direi vezes tantas meus olhos fechados,
que minha boca, um sim a pico, agora sorri.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2015



Havia sempre o velho,
a partir das cinco da tarde,
à calçada, cadeira posta,
cabelos encanecidos,
olhar de sem-espanto,
como a contar apenas
a passagem daquela hora
em que seu pouco de senhorio
se assenhorava de apenas estar.

Até o dia de nunca mais,
onde se passou a contar
o tempo provido somente
do cachorro que antes havia
em redor do velho,
silente bicho de olhos
agora ainda mais aguados
(ou seriam secos?)

Na pequena sala,
a imagem do Sagrado Coração de Jesus
e um encontro de pequenos sons
vindos de onde não mais havia um velho,
mas só seu nome
(que era mínimo como a vila
que ajudara a construir): Zé.

│Autor: Webston Moura