segunda-feira, 19 de agosto de 2024

No Cais, Pastando as Horas




Solarization (1937) - Maurice Tabard




Quem vem lá?

O escuro do corpo
no escuro da noite.

A noite: ideia fragmentada
embalada no engano.

Quando jovem
isto não via.

Não assim
tão verdadeiro.

É inadiável a verdade
quando se envelhece.

Ou a ilusão dourada
nos consome, sem piedade.

Quem vem lá?

Talvez amiga mão
de distante amigo.

Um sonho sem ásperos,
água sem ardis.


|Autor: Webston Moura|

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Webston Moura
, administrador deste blog, é Tecnólogo de Frutos Tropicais, poeta e cronista. Natural do Ceará, Brasil, mora no município de Russas, na região do Vale do Jaguaribe. Aprendiz de Teosofia, segue a Loja Independente de Teosofistas - LIT. Tem apreço por silêncio, música, artes plásticas, bichos e plantas. É também administrador dos blogs O Caderno Livre e Só Um Transeunte.
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domingo, 18 de agosto de 2024

A Solidão



Loneliness (1927) - Carlos Saenz de Tejada



Diz a banda Engenheiros do Hawaii, na música "Nau a Deriva": "Meu coração é um porta aviões / Perdido no mar, esperando alguém chegar / Meu coração é um porto sem endereço certo / É um deserto em frente ao mar".

É a solidão. E, neste caso, a solidão de alguém que se diz à deriva, perdido, desconectado dos outros ou, quem sabe, e mais especialmente, necessitado de alguém como uma namorada. Ou um bom amigo, simplesmente.

O poeta Vinícius de Moraes, no texto "Da Solidão", diz: "A maior solidão é a do ser que se ausenta, que se defende, que se fecha, que se recusa a participar da vida humana."

sábado, 17 de agosto de 2024

Lírio



Lily Fairy (1888) - Luis Ricardo Falero 



Lírio é bonita.
Digo da palavra.

Lírio não açoita,
não danifica,
não macula.

Lírio lembra campo,
lembra liberdade,
lembra água num lídimo copo de vidro.

Lírio, a palavra,
nós a comemos nos ouvidos,
                         devagar,
como se ela se aninhasse
e, enfim, dormisse,
a pele suave,
viagem de trem,
num tempo remoto,
para algum oriente inventado.

Lírio!



|Poema da Série "Palavra" Autor: Webston Moura|

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sexta-feira, 16 de agosto de 2024

Selvageria Racionalizada



Study to 'War' (1896) - Arnold Böcklin



Guerra. Países em guerra. Dessas situações, sempre penso algo específico: como se sentem as pessoas no meio dos combates?

Somos de carne e osso, frágeis, facilmente mortais, ainda mais diante de armas potentes. E os que são treinados para a guerra, treinados são para dominar, controlar e exterminar. Lida-se aí com a selvageria racionalizada. A atmosfera da coisa deve ser terrível. Ainda mais para pessoas comuns, não-guerreiras, não-treinadas, civis. Crianças, velhos, doentes, mulheres como se sentem?

quinta-feira, 15 de agosto de 2024

Fantasmas



Phantoms (1928) - Yves Tanguy



Por medo, perdeste o passo do tempo
e o diálogo com a novidade.
Perdeste, também, o olhar
do antigo, a casa da infância
na moldura agora espatifada.

Por medo, criaste um mundo de assombrações,
às quais chama de amigos e conselhos,
lançaste ao fogo teu instinto e a tua luz,
afogando em ansiolíticos e álcool
o que restou da tua alegria e dos teus sonhos.

Por medo, andejas na noite da casa que habitas,
não menos estranho que os bichos que se escondem
nas paredes e na ilusão que teus fantasmas criam.




|Poema da Série "Medo" Autor: Webston Moura|

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Deveríamos Ser Uma Comunidade




Imagem do Pinterest



Imaginando uma vida melhor, acho que nossas escolas deveriam ensinar aos aprendizes a como cuidar da cidade em que moram. Em verdade, minha conjectura é a de que se cumprisse a seguinte sequência: casa, rua, bairro, cidade, município. Estudar os diferentes aspectos disso, objetivando a formar, seguramente, uma comunidade, onde cada pessoa saberia, com a profundidade necessária e suficiente, o que fazer em cada parte das citadas. Imagine umas três gerações de pessoas formadas num modelo assim!

Profecia



Weight of the Soul - Wojciech Siudmak




"Haverá quem mude como os ventos
E haverá quem permaneça na pureza dos rochedos.
- Vinícius de Moraes, in "Acontecimento" 




Entre um e outro,
os que escaparão da luz azul-pérfida
que virá abater ao distraído
e confundir ao vaidoso.


|Autor: Webston Moura|

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quarta-feira, 14 de agosto de 2024

Adriana Calcanhotto | "Esquadros"






Uma linda música e uma bela recordação dos anos 1990. A voz da Adriana Calcanhotto e sua maneira de cantar são comoventes. A música faz parte do LP "Senhas", de 1992.

Escute aí! 🍀


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Café Filosófico: Hamlet e o Mundo Como Palco | Leandro Karnal





"Hamlet é o personagem fundador da modernidade, dono de seu destino, ele é o primeiro personagem que vive “O Príncipe”, de Maquiavel, tem a crença no poder do eu e na glória. É dele, e de mais ninguém, o poder de se proclamar e a decisão de não se matar. Ele é, sobretudo, um grande crítico da retórica da etiqueta, dos personagens que interpretam o tempo todo e que sempre dizem apenas o que deve ser dito. Segundo o historiador Leandro Karnal, o personagem era um grande crítico da sociedade contemporânea. Hamlet é melancólico, tem uma consciência brutal e quem tem consciência brutal não sorri nem compartilha sua vida medíocre o tempo todo. Ele é o anti-facebook”, disse o historiador .Segundo o historiador, somos cada vez mais solitários porque temos cada vez mais dificuldade em estabelecer algo significativo com o mundo. Na peça de Shakespeare, o príncipe se questiona o tempo todo. O que Hamlet nos diz é: só interpretamos cenas, etiquetas e formalidades porque não aguentamos saber que todos fazem parte de um teatro. Hamlet, lembrou o palestrante, não governou seu reino, ele foi o primeiro homem livre, o primeiro homem moderno. E pagou um preço altíssimo por isso."

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Webston Moura
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terça-feira, 13 de agosto de 2024

Você Daria Dislike na Legião Urbana?






Apreciando música no YouTube, você daria dislike num clássico da Legião Urbana?

Pois é! No decorrer dos anos, eu mesmo ali, curtindo recordações, vi isso: jovens, adolescentes, parece-me, dando dislike no cantar de Renato Russo. "Pais e Filhos", "Será", "Vento no Litoral", "Daniel na Cova dos Leões", "Andrea Doria", músicas que, para essas novas gerações, não fazem sentido.

Obviamente, ninguém é obrigado a gostar seja lá do que for, mas acho tão estranho quando vejo alguém jovem que não consegue criar qualquer identidade com algo desse tipo.

Imagine se a pessoa ouvisse, por exemplo, rock ainda mais antigo ou música clássica!


|Autor: Webston Moura|



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segunda-feira, 12 de agosto de 2024

Ponto



Points (1920) - Wassily Kandinsky



Ponto:
diminuta coisa
em que se pensar.

Uma nódoa,
sal, seu grão,
cisco no vento.

Um nome que se foi,
silabas desfeitas na acidez do tempo.

Tempo.

Longe, o cais em que um adeus se pôs
- sol ao fundo, crepúsculo -
e nunca se decompôs.

Um nome,
restos de um,
madeira corroída
pela intempérie,
a sombra de alguém,
               ausência,
  canção no inverno.

Ponto:
retrato que se apaga,
novilha perdida na mata,
carta extraviada,
lágrima.





|Autor: Webston Moura|

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