domingo, 29 de setembro de 2024

Nosso Espaço Interior e os Desejos




Espaços Interiores (1989) - Charles Bezie



Em geral, pensamos que o nosso interior é apenas o espaço dos desejos, que ele só produz isso, além de alguma dor. E que, satisfazendo-os, nós nos realizamos. Porém, o que mais experimentamos, a vida inteira, é a frustração diante das tantas tentativas que encontram pela frente obstáculos intransponíveis. Alguns desejos encontram seu caminho e seu objetivo, chegando à realização. A maioria, não.

Assim sendo, se considerarmos que o máximo de nós são os desejos, teremos de concordar com a verdade de que somos imensamente falhos, como um projeto que, desde o início, existe para dar errado mesmo afinal o enredo de ilusões e quedas é tal que até parece que somos um tipo de ser que não funciona. Concorda?

O equívoco é ver o espaço interior somente como lar dos desejos e da luta para realizá-los. E como é possível que tenhamos muitos, então é claro que não será possível realizar a todos, até porque há desejos errados, inconvenientes, perigosos, destrutivos.

Somos algo mais que desejos? Sim, e se pode dizer inclusive que, reduzidos aos nossos desejos, nós estaremos nos considerando somente como seres inferiores, já que entre desejos e instintos há uma semelhança clara. Somos, e precisamos ser, mais que desejos. Para que possamos construir um caminho que ultrapasse o círculo vicioso da dor e do prazer. Somos seres que precisam levantar a cabeça e pensar, mas pensar de verdade em como crescer interiormente. Em sentido intelectual, emocional, ético e espiritual. Porque em nós algo fala, lá no fundo, exigindo vida à altura de alguma meta nobre, ainda que seja só de influência na vida pessoal de cada um.

Por vezes, nossos desejos nos sufocam e sufocam aos outros, tal a força de desrazão e violência que podem carregar. Mas aí já aparece uma oportunidade ímpar para um aprendizado, que é desanimalizar a nossa alma, dar-lhe uma oportunidade, fazê-la olhar para a luz do conhecimento, do esforço pessoal e interior, da virtude.

Tenho aprendido com a Teosofia que não são necessários "momentos mágicos" para se trilhar o aprendizado, que é no ordinário do cotidiano que se pode colocar os pensamentos à altura de algum objetivo maior, inclusive contrariando desejos, em vista de um ganho de alma superior, ainda que, à primeira vista, isso signifique apenas para mim. E tenho aprendido que meu espaço interior é mais rico, apesar de, vez ou outra, me sentir meio caótico.

Gosto de pensar que em cada fase da vida somos diferentes personagens, cada um de um jeito, a depender de como estamos, as escolhas que fazemos e a realidade que nos influencia no momento dado. Assim, digo a mim mesmo que a personagem melhor que posso ser, ainda estar por vir. E virá das escolhas que faço. Portanto, tenho escolha, uma escolha que os desejos, assim como a dor, o desânimo e a tristeza que ora podem me pegar, não atrapalharão. Ao menos, vale lutar. Lutar a acreditar! E buscar contentamento com isso.


|Autor: Webston Moura|

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Webston Moura
, administrador deste blog, é Tecnólogo de Frutos Tropicais, poeta e cronista. Natural do Ceará, Brasil, mora no município de Russas, na região do Vale do Jaguaribe. Aprendiz de Teosofia, segue a Loja Independente de Teosofistas - LIT. Tem apreço por silêncio, música, artes plásticas, bichos e plantas. É também administrador dos blogs O Caderno Livre e Só Um Transeunte.
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