quarta-feira, 28 de agosto de 2024

Muitas Coisas Não Sei



Atmosphère chromoplastique Nº 872 (2007)
- Luis Tomasello




Muitas coisas não sei.
Sei que existem.
Mas não as conheço,
digo, por dentro.

Elas estão por aí,
em redor,
perto e longe,
múltiplas, várias,
infindáveis.

São como esse colibri,
que, vez ou outra,
sobrevoa a minha vida,
detém-se no cume das flores,
preciso em movimento,
colhendo néctar.

São como essas pedras,
essas que encontro nos caminhos,
umas bonitas, outras acanhadas,
todas mudas, de olhos escondidos
           e murmúrios insondáveis.

São como essas pessoas que passam na rua,
sem que eu dê conta de um qualquer detalhe
de quem sejam, suas origens, algum sonho
                                          (ou perda),
uma alegria,
um confete que tenham ao bolso, se possível,
nada, nada, nada sei.

E eu sigo assim,
sem saber destas tantas coisas,
digo, por dentro,
sem provar o gosto de suas almas,
sem chance de me sentar com elas
e tomar um chá, conversar,
                   ouvir e falar.

Muitas coisas não sei.
Sei que existem.
E só.



|Autor: Webston Moura|

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Webston Moura
, administrador deste blog, é Tecnólogo de Frutos Tropicais, poeta e cronista. Natural do Ceará, Brasil, mora no município de Russas, na região do Vale do Jaguaribe. Aprendiz de Teosofia, segue a Loja Independente de Teosofistas - LIT. Tem apreço por silêncio, música, artes plásticas, bichos e plantas. É também administrador dos blogs O Caderno Livre e Só Um Transeunte.
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sexta-feira, 23 de agosto de 2024

O Poeta e a Pedra



A Cavern near Saint Agnese without the Porta Pia (1778)
- Thomas Jones



"Sim, escrevo versos,
e a pedra não escreve versos."
- Alberto Caeiro



Mas em mim e na pedra o Universo está inscrito, como a Vida nas vidas em que vive e se mostra. E se a pedra não escreve versos, ainda mais misteriosa é, sua língua de escuro e distância é o que não alcanço.



|Autor: Webston Moura|

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quinta-feira, 22 de agosto de 2024

BBC News Brasil: "Quanto o país arrecadaria com um novo imposto sobre os super-ricos brasileiros?"





"Se você não tem um patrimônio de pelo menos 13 milhões de reais, você não faz parte do grupo de brasileiros que menos pagam impostos no país. Os 0,2% mais ricos são os únicos no Brasil que pagam menos de 2% da sua riqueza em imposto de renda. Quanto dinheiro o país poderia arrecadar se esses multimilionários pagassem tanto imposto quanto os outros brasileiros?"

Veja o vídeo!

Reportagem em texto: https://www.bbc.com/usyrtsgres


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Webston Moura
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terça-feira, 20 de agosto de 2024

Venusto Vermelho



Red Canna (1923) - Georgia O'Keeffe



Vermelho.

Algures
isto há
à mão,
para os olhos em deleite,
em jardins ou nas silveiras afora,
quase um fruto que se come no pé.

Canna L.,
avidez de existir,
como se fosse um tigre
ou um rio na juventude.

Vermelho!

Venusta flor,
capricho ardente,
amor e mais, mais, mais!



|Autor: Webston Moura|

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segunda-feira, 19 de agosto de 2024

Os Unicórnios




The Unicorns Came Down to the Sea



Não existem unicórnios. Mas não posso provar. Digo que não existem porque não quero que existam. E não quero que existam porque não acredito que existam. E, se acredito que não existem, desejo estar certo, ao dizer que não existem. E isto me leva a me imbuir de um humor aflito.

Os unicórnios desceram para o mar, diz a pintura, seu título. Foram se encontrar com os cavalos-marinhos, imagino. E, se posso imaginar, isso já se torna, de algum modo, verdade. Não uma verdade positiva, mas uma verdade do sonho. E o sonho cumpre algo de nossa essência, algo que, sem o qual, não seríamos quem somos, humanos. Então, se só assim, através do sonho, posso fazer existir unicórnios, e isto passa a ser uma verdade, que o seja. Como os que desceram para o mar.



|Autor: Webston Moura|

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No Cais, Pastando as Horas




Solarization (1937) - Maurice Tabard




Quem vem lá?

O escuro do corpo
no escuro da noite.

A noite: ideia fragmentada
embalada no engano.

Quando jovem
isto não via.

Não assim
tão verdadeiro.

É inadiável a verdade
quando se envelhece.

Ou a ilusão dourada
nos consome, sem piedade.

Quem vem lá?

Talvez amiga mão
de distante amigo.

Um sonho sem ásperos,
água sem ardis.


|Autor: Webston Moura|

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domingo, 18 de agosto de 2024

A Solidão



Loneliness (1927) - Carlos Saenz de Tejada



Diz a banda Engenheiros do Hawaii, na música "Nau a Deriva": "Meu coração é um porta aviões / Perdido no mar, esperando alguém chegar / Meu coração é um porto sem endereço certo / É um deserto em frente ao mar".

É a solidão. E, neste caso, a solidão de alguém que se diz à deriva, perdido, desconectado dos outros ou, quem sabe, e mais especialmente, necessitado de alguém como uma namorada. Ou um bom amigo, simplesmente.

O poeta Vinícius de Moraes, no texto "Da Solidão", diz: "A maior solidão é a do ser que se ausenta, que se defende, que se fecha, que se recusa a participar da vida humana."

sábado, 17 de agosto de 2024

Lírio



Lily Fairy (1888) - Luis Ricardo Falero 



Lírio é bonita.
Digo da palavra.

Lírio não açoita,
não danifica,
não macula.

Lírio lembra campo,
lembra liberdade,
lembra água num lídimo copo de vidro.

Lírio, a palavra,
nós a comemos nos ouvidos,
                         devagar,
como se ela se aninhasse
e, enfim, dormisse,
a pele suave,
viagem de trem,
num tempo remoto,
para algum oriente inventado.

Lírio!



|Poema da Série "Palavra" Autor: Webston Moura|

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sexta-feira, 16 de agosto de 2024

Selvageria Racionalizada



Study to 'War' (1896) - Arnold Böcklin



Guerra. Países em guerra. Dessas situações, sempre penso algo específico: como se sentem as pessoas no meio dos combates?

Somos de carne e osso, frágeis, facilmente mortais, ainda mais diante de armas potentes. E os que são treinados para a guerra, treinados são para dominar, controlar e exterminar. Lida-se aí com a selvageria racionalizada. A atmosfera da coisa deve ser terrível. Ainda mais para pessoas comuns, não-guerreiras, não-treinadas, civis. Crianças, velhos, doentes, mulheres como se sentem?

quinta-feira, 15 de agosto de 2024

Fantasmas



Phantoms (1928) - Yves Tanguy



Por medo, perdeste o passo do tempo
e o diálogo com a novidade.
Perdeste, também, o olhar
do antigo, a casa da infância
na moldura agora espatifada.

Por medo, criaste um mundo de assombrações,
às quais chama de amigos e conselhos,
lançaste ao fogo teu instinto e a tua luz,
afogando em ansiolíticos e álcool
o que restou da tua alegria e dos teus sonhos.

Por medo, andejas na noite da casa que habitas,
não menos estranho que os bichos que se escondem
nas paredes e na ilusão que teus fantasmas criam.




|Poema da Série "Medo" Autor: Webston Moura|

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