domingo, 4 de agosto de 2024

Querer Paz



The Low Lighthouse and Beacon Hill ((c.1820)
- John Constable


Estando-se na praia, não se vê o outro lado, o depois de todo o mar, a terra que lá há. Vê-se horizonte sobre horizonte, como se não tivesse fim. É como observar o céu, com todo o seu esplendor de estrelas, dimensão de tamanho incalculável, sugerindo mistérios.

O infinito, ou a ideia dele, nos dá paz. Porque somos parte dele e tudo está interligado. Da mesma forma, observar um rio correndo, água sobre água, sinfonia natural, também nos aquieta.

Os Rumores



The rumors (1939) - Paul Klee


Os rumores hão de acontecer, obviamente e sempre. Como as águas que se renovam, ciclo a ciclo, como se vê. Os rumores de que o tempo passa e o calor aumenta, à medida que envelhecemos nesta varanda. Os rumores estão nas ruas e na TV. São veementes em bocas dissimuladas. Erguem verdades de papel. E derrubam fatos sob o sol. Desconfio de que a verdade, ela mesma, está bastante empoeirada, debaixo de todo o entulho de nossas vidas vazias e do insano desejo de poder.

Já é segunda-feira em Bangladesh. E o relógio marca 04: 47.


|Autor: Webston Moura|

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Webston Moura
, administrador deste blog, é Tecnólogo de Frutos Tropicais, poeta e cronista. Natural do Ceará, Brasil, mora no município de Russas, na região do Vale do Jaguaribe. Aprendiz de Teosofia, segue a Loja Independente de Teosofistas - LIT. Tem apreço por silêncio, música, artes plásticas, bichos e plantas. É também administrador dos blogs O Araibu e Só Um Transeunte.
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O Tumulto das Notícias






Existem canais de TV que transmitem notícias 24 horas por dia. E, para completar, ainda há aqueles momentos que reúnem comentaristas em torno de um assunto, leriando sem parar, numa miríade de interpretações e pormenores que, ao fim, desnorteiam completamente o telespectador, deixando-o nervoso e aturdido.

É jornalismo, então é serviço, como se costuma dizer. Mas, se pensarmos melhor sobre o significado de "serviço" e compararmos o resultado com nossos estados emocionais, após assistirmos à essas "maratonas de informação", chegaremos à conclusão que aquilo não nos serve, no sentido de nos prestar um serviço que resolva algum nosso problema. Assim sendo, é estranho chamar tal trabalho de serviço.

Eduardo Moreira Explica Porque os Bancos São os Maiores Vilões do País





"Me fala uma coisa que banco produz. Banco não produz nada. Banco não produz uma alface. Banco não monta um computador. Banco não produz uma cadeira. Banco não conserta um carro. Banco é só um caminho por onde o dinheiro vai de um lugar pro outro."
- Eduardo Moreira



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Webston Moura
, administrador deste blog, é Tecnólogo de Frutos Tropicais, poeta e cronista. Natural do Ceará, Brasil, mora no município de Russas, na região do Vale do Jaguaribe. Aprendiz de Teosofia, segue a Loja Independente de Teosofistas - LIT. Tem apreço por silêncio, música, artes plásticas, bichos e plantas. É também administrador dos blogs O Araibu e Só Um Transeunte.
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terça-feira, 30 de julho de 2024

Mulheres no Mar



Women at the sea (c.1891) - Jan Toorop


No mar, bem não;
perto, à beira.

Mas, se praia já é mar,
então sim, mar aí está,
             - e elas nele.

Mulheres no mar.

Choram?
Não sei.

Quietas,
o vento frio as faz solidárias:
abraçam-se, ao menos isto parece.

E compartem suas vidas,
o que em casa ficou à espera,
somando-se isto aos sonhos sem força,
                    que, a custo, carregam.

Com gentileza,
irão se despedir umas das outras,
chegada a hora de voltar à casa,
seus olhos com sabor de sal e devaneios,
suas mãos mais vazias da dor de existir,
menos sós, menos sós, bem menos.

|Poema da Série "Mar" Autor: Webston Moura|

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A Imensa Constante de Tudo o Que Existe



The Muses (1893) - Maurice Denis


Sempre que eu olhar para uma pintura, verei a mesma e outra, simultaneamente. O que muda, o olhar, é a parte a que devo prestar mais atenção. Meu olhar! E se sou capaz de olhares novos, significa que sou capaz de mudar, crescendo nalguma direção.

Como sei que, inevitavelmente, mudo, posso escolher, conscientemente, para onde seguir, abrindo um flanco na obscuridade (o futuro), a partir do presente. Acertarei, errarei e até, talvez, nem conseguirei o que intente. Mas, que é a vida senão tentar?

Sempre que eu olhar para uma pintura, ela, paisagem diante de meus olhos, haverá de me ensinar algo para o que estarei atento ou distraído.

Acho que somos impostores quando não entendemos disso, da mudança. Ainda mais quando sabemos que, dentre tantas coisas que consideramos realidade, ela, a mudança, é a imensa constante de tudo o que existe. Tudo muda! Mesmo que não alcancemos a feição geral do acontecimento, do objeto, enfim, da pintura, a verdade é que existe um fogo varrendo a realidade, transformando-a noutra, o tempo inteiro, com todos nós no meio.


|Autor: Webston Moura|

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domingo, 28 de julho de 2024

Aliança



Love (c.1886) - Paul-Albert Besnard



O silêncio que me dás,
paz no meio do caos,
        benigno vazio:
        nossos olhos se olhando,
        sem qualquer intenção de
                                 prélio.

Fio contigo a costura
de palavras e atos,
com esperança no futuro.

Remamos a mesma corrente,
direção certa avançando sobre o incerto da vida.



|Autor: Webston Moura|

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Fazendo Fandango no Chopin




Pedro Nava, poeta mineiro


Em seu poema "Noturno de Chopin", o mineiro Pedro Nava (1903-1984) diz:

"Eu fico todo bestificado
enquanto as mãos brasileiras de você
fazem fandango no Chopin"

Imagens, sugestões!

Ele sugere uma mulher, a amada, suponho, tocando Chopin. Porém, com mais imaginação, pode-se pensar em algo de conotação sexual mesmo, mas isso fica por conta de quem lê.

Especialmente a parte "as mãos brasileiras de você", é o que considero um primor. Ele faz questão de dizer "brasileiras", para ressaltar alguém que executa aquela música estrangeira (Chopin era polonês), mas de modo peculiar, local, abrasileirado.

Mais adiante, ele diz: "O Chopin derretido tá maxixe", ou seja, a dama, tocando Chopin, consegue fazer da música um "maxixe", que era uma forma brasileira de se dançar, ritmo conhecido também como o tango brasileiro, criado por músicos de chorinho, lá nas antigas. Ou seja, ela, a dama, dá suingue na música europeia, recriando-a.


|Autor: Webston Moura|


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Nota do editor do blog:
* O título do post remete, obviamente, a um dos versos do poema, o qual você encontra inteiramente (aqui)


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sexta-feira, 26 de julho de 2024

Só Uma



Cloud - Arkhyp Kuindzhi



Nuvem,
só uma.

Fosse uma gaivota,
ainda seria bom.

Sós,
as coisas parecem mais reais.

O botão,
a cadeira,
o velocípede,
da camisa.

Nuvem.
Não mais uma
somada a esta,
fazendo nuvens.
Só uma!
Só.

E este mar emendando cor com o céu
                           (contínuo sonho)
              como se tudo fosse nuvem,
              uma só,
                         só uma.



|Autor: Webston Moura|

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A Festa da Democracia






Há uma pensamento que diz: "Se votar mudasse alguma coisa, seria proibido". É uma forma de dizer que, apesar de certa democracia, o poder e seus manipuladores conseguem empurrar os resultados para onde bem desejam, contrariando as necessidades da maioria das pessoas. Assim, pode-se dizer que esse sistema em que vivemos, ainda que não seja o pior - e não o é, de fato -, é bem ruim.

Teremos eleições para vereador e prefeito neste 2024. E nada mudou tanto na forma das disputas, nas "negociações" entre os interessados, na safadeza de parte do povo, na participação muito envolvida das mídias e por aí vai. É um momento de festa (bagunça) e de afagos (dinheiro e falsidade), além de ameaças de peia entre eleitores apaixonados.

Particularmente, só observo. E, se posso, espero que sejam eleitos os menos ruins, no mínimo. Sendo realista, é isso a dizer.

E quanto ao título "A Festa da Democracia", lembro aqui do jornalista William Bonner dizendo isso, por ocasião de coberturas de eleições que o Jornal Nacional faz. "Festa" é uma forma bem-educada de dizer, já que, como disse eu antes, é uma bagunça mesmo. Infelizmente.


Autor: Webston Moura|

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A Palavra Sob a Luz



Untitled - Wols



A palavra sob a luz,
esta que, separada, ilumina.

Como a saliência da dobra da camisa
                    quando nos movemos.

Ou a bandeira que o vento tange;
a poça, pequena poça no meio do equânime.

A palavra,
esta que,
às vezes,
surge por acaso
          (ou não)
          quando distraídos estamos
                         (ou nem tanto).

A palavra em relevo,
como uma cicatriz que se tem,
amaciada pelo tempo,
um relógio dourado
e guardado sob ternura pessoal.

A palavra tal qual aqueles olhos noturnos,
vivos olhos de rara aparência,
hipnotizando-me.

Honolulu, barbeiro,
fanal, pão doce.



|Poema da Série "Palavra" Autor: Webston Moura|


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