terça-feira, 30 de julho de 2024

Mulheres no Mar



Women at the sea (c.1891) - Jan Toorop


No mar, bem não;
perto, à beira.

Mas, se praia já é mar,
então sim, mar aí está,
             - e elas nele.

Mulheres no mar.

Choram?
Não sei.

Quietas,
o vento frio as faz solidárias:
abraçam-se, ao menos isto parece.

E compartem suas vidas,
o que em casa ficou à espera,
somando-se isto aos sonhos sem força,
                    que, a custo, carregam.

Com gentileza,
irão se despedir umas das outras,
chegada a hora de voltar à casa,
seus olhos com sabor de sal e devaneios,
suas mãos mais vazias da dor de existir,
menos sós, menos sós, bem menos.

|Poema da Série "Mar" Autor: Webston Moura|

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Webston Moura
, administrador deste blog, é Tecnólogo de Frutos Tropicais, poeta e cronista. Natural do Ceará, Brasil, mora no município de Russas, na região do Vale do Jaguaribe. Aprendiz de Teosofia, segue a Loja Independente de Teosofistas - LIT. Tem apreço por silêncio, música, artes plásticas, bichos e plantas. É também administrador dos blogs O Araibu e Só Um Transeunte.
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A Imensa Constante de Tudo o Que Existe



The Muses (1893) - Maurice Denis


Sempre que eu olhar para uma pintura, verei a mesma e outra, simultaneamente. O que muda, o olhar, é a parte a que devo prestar mais atenção. Meu olhar! E se sou capaz de olhares novos, significa que sou capaz de mudar, crescendo nalguma direção.

Como sei que, inevitavelmente, mudo, posso escolher, conscientemente, para onde seguir, abrindo um flanco na obscuridade (o futuro), a partir do presente. Acertarei, errarei e até, talvez, nem conseguirei o que intente. Mas, que é a vida senão tentar?

Sempre que eu olhar para uma pintura, ela, paisagem diante de meus olhos, haverá de me ensinar algo para o que estarei atento ou distraído.

Acho que somos impostores quando não entendemos disso, da mudança. Ainda mais quando sabemos que, dentre tantas coisas que consideramos realidade, ela, a mudança, é a imensa constante de tudo o que existe. Tudo muda! Mesmo que não alcancemos a feição geral do acontecimento, do objeto, enfim, da pintura, a verdade é que existe um fogo varrendo a realidade, transformando-a noutra, o tempo inteiro, com todos nós no meio.


|Autor: Webston Moura|

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domingo, 28 de julho de 2024

Aliança



Love (c.1886) - Paul-Albert Besnard



O silêncio que me dás,
paz no meio do caos,
        benigno vazio:
        nossos olhos se olhando,
        sem qualquer intenção de
                                 prélio.

Fio contigo a costura
de palavras e atos,
com esperança no futuro.

Remamos a mesma corrente,
direção certa avançando sobre o incerto da vida.



|Autor: Webston Moura|

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Fazendo Fandango no Chopin




Pedro Nava, poeta mineiro


Em seu poema "Noturno de Chopin", o mineiro Pedro Nava (1903-1984) diz:

"Eu fico todo bestificado
enquanto as mãos brasileiras de você
fazem fandango no Chopin"

Imagens, sugestões!

Ele sugere uma mulher, a amada, suponho, tocando Chopin. Porém, com mais imaginação, pode-se pensar em algo de conotação sexual mesmo, mas isso fica por conta de quem lê.

Especialmente a parte "as mãos brasileiras de você", é o que considero um primor. Ele faz questão de dizer "brasileiras", para ressaltar alguém que executa aquela música estrangeira (Chopin era polonês), mas de modo peculiar, local, abrasileirado.

Mais adiante, ele diz: "O Chopin derretido tá maxixe", ou seja, a dama, tocando Chopin, consegue fazer da música um "maxixe", que era uma forma brasileira de se dançar, ritmo conhecido também como o tango brasileiro, criado por músicos de chorinho, lá nas antigas. Ou seja, ela, a dama, dá suingue na música europeia, recriando-a.


|Autor: Webston Moura|


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Nota do editor do blog:
* O título do post remete, obviamente, a um dos versos do poema, o qual você encontra inteiramente (aqui)


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sexta-feira, 26 de julho de 2024

Só Uma



Cloud - Arkhyp Kuindzhi



Nuvem,
só uma.

Fosse uma gaivota,
ainda seria bom.

Sós,
as coisas parecem mais reais.

O botão,
a cadeira,
o velocípede,
da camisa.

Nuvem.
Não mais uma
somada a esta,
fazendo nuvens.
Só uma!
Só.

E este mar emendando cor com o céu
                           (contínuo sonho)
              como se tudo fosse nuvem,
              uma só,
                         só uma.



|Autor: Webston Moura|

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A Festa da Democracia






Há uma pensamento que diz: "Se votar mudasse alguma coisa, seria proibido". É uma forma de dizer que, apesar de certa democracia, o poder e seus manipuladores conseguem empurrar os resultados para onde bem desejam, contrariando as necessidades da maioria das pessoas. Assim, pode-se dizer que esse sistema em que vivemos, ainda que não seja o pior - e não o é, de fato -, é bem ruim.

Teremos eleições para vereador e prefeito neste 2024. E nada mudou tanto na forma das disputas, nas "negociações" entre os interessados, na safadeza de parte do povo, na participação muito envolvida das mídias e por aí vai. É um momento de festa (bagunça) e de afagos (dinheiro e falsidade), além de ameaças de peia entre eleitores apaixonados.

Particularmente, só observo. E, se posso, espero que sejam eleitos os menos ruins, no mínimo. Sendo realista, é isso a dizer.

E quanto ao título "A Festa da Democracia", lembro aqui do jornalista William Bonner dizendo isso, por ocasião de coberturas de eleições que o Jornal Nacional faz. "Festa" é uma forma bem-educada de dizer, já que, como disse eu antes, é uma bagunça mesmo. Infelizmente.


Autor: Webston Moura|

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A Palavra Sob a Luz



Untitled - Wols



A palavra sob a luz,
esta que, separada, ilumina.

Como a saliência da dobra da camisa
                    quando nos movemos.

Ou a bandeira que o vento tange;
a poça, pequena poça no meio do equânime.

A palavra,
esta que,
às vezes,
surge por acaso
          (ou não)
          quando distraídos estamos
                         (ou nem tanto).

A palavra em relevo,
como uma cicatriz que se tem,
amaciada pelo tempo,
um relógio dourado
e guardado sob ternura pessoal.

A palavra tal qual aqueles olhos noturnos,
vivos olhos de rara aparência,
hipnotizando-me.

Honolulu, barbeiro,
fanal, pão doce.



|Poema da Série "Palavra" Autor: Webston Moura|


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Gosto de Música, Não de Festa



Grazioso (1933) - John Ferren



Gosto de música, mas nem tanto de festa. E assim foi por toda minha vida. Excetuados alguns momentos, assim foi.

Porém, o que aqui chamo de festa, é mais o que, no comportamento do brasileiro, é festivo, certa tendência a carnavalizar as coisas, escolher por uma postura menos reflexiva, ser mais do barulho que do pensamento. E é isso que não gosto.

Agradar-me-ia se fôssemos um povo para o contrário disso, embora não totalmente. Com o tempo, claro, poderemos nos tornar diferentes. Mas, pensando nisso, imagino que, se tiver que ser, o meu tempo de vida não alcançará, dada a forma - anárquica - com que boa parte da nossa cultura se mostra, o que a impede de mudar.


|Autor: Webston Moura|

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quinta-feira, 25 de julho de 2024

Consciente e Corajosamente



Landscape by Brook (1908) - Bertalan Por



Diz-nos Bernardo Soares* no "Livro do Desassossego": "A liberdade é a possibilidade do isolamento."

Creio que ele se refira ao fato de cada um poder ser quem é, indivíduo bem conseguido de suas (boas) vontades, garimpado de suas próprias entranhas, possível de alguma originalidade e, assim, de contentamento consigo mesmo.

Para tanto, o isolamento como forma de se individuar, encorpar-se a si mesmo contra o regime geral que nos faz massa de manobra. Evitar as ondas de notícias, de acontecimentos, evitar ser refém do que (sempre) vem de fora, os chamados aturdidos que sugerem "pense isso e faça aquilo".

Isolar-se como a semente, que, só, fermenta-se e explode, vagarosamente, criando nova planta, sua originalidade possível, dando ao mundo seu ser mais real.

Isolar-se do que gera alheamento, a tontura de estar imerso no que vem e vai, sem alegria, sem paz.

Não significa, propriamente, estar só de solidão que dói, mas estar em si, consciente e corajosamente.


|Autor: Webston Moura|


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Nota:
Bernardo Soares é um heterônimo do poeta português Fernando Pessoa

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Máquina Diária de Repetir Tarefas




Machine Element (1924) - Fernand Leger




"Às vezes, em sonhos distraídos,
que me surgem das esquinas do pensamento e da emoção,
visiono amores."
- Bernardo Soares*, no "Livro do Desassossego"



É quando me dou conta
de que já tenho o que preciso,
para mover a minha parte no mundo.

É quando meu apreço
pelas coisas gratuitas
se faz presente.

É quando, sem sofrer,
sinto saudade e antevejo
      a chuva (insuspeita)
             por trás do sol.

E, em seguida, tomado sou
pela urgência da rotina,
máquina diária de repetir tarefas
          e domesticar sentimentos.

|Autor: Webston Moura


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Nota:
Bernardo Soares é um heterônimo do poeta português Fernando Pessoa.

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Há Muitas Palavras no Mundo




Landscape with Posters (1912) - Pablo Picasso



Há muitas palavras no mundo, palavras de todo jeito. Como pedras (quase) sem fim na paisagem agreste da realidade.

Falo da demasia desta toda gasta energia com que nos movemos, falando e aumentando a tempestade que não nos traduz nem resolve problemas.

Há muitas palavras no mundo, ainda que disfarçadas de outras coisas. Palavras que parecem jorrar de alguma cachoeira enorme e ensandecida. E para a qual, cachoeira excessiva, não temos função a dar.



|Autor: Webston Moura|

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