quarta-feira, 29 de janeiro de 2020

O Mistério



Waving Leaves II (1981) - Nikos Hadjikyriakos-Ghinkas




Pássaros e formigas
sabem a chuva.
Antes mesmo,
ainda nos indícios,
eles a sabem.

Nós, não!
Nós nos perdemos d'O Mistério.



│Autor: Webston Moura

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Webston Moura
, administrador deste blog, é Tecnólogo de Frutos Tropicais, poeta e cronista. Natural do Ceará, Brasil, mora no município de Russas, na região do Vale do Jaguaribe. Aprendiz de Teosofia, segue a Loja Independente de Teosofistas - LIT. Tem apreço por silêncio, música, artes plásticas, bichos e plantas. É também administrador dos blogs O Caderno Livre e Só Um Transeunte.
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ABISMOS



Para onde nos viramos,
são muitas palavras.
Como se fossem pedras,
como se fossem os pássaros do filme de Hitchcock,
como uma infinita nuvem de gafanhotos,
palavras.

Ainda que só insinuadas
ou escondidas noutros corpos,
palavras.

E nada sara nossos abismos.



│Autor: Webston Moura│

"ESTA SOLIDÃO ABERTA QUE TRAGO NO PUNHO" [Resenha)






por: W.J. Solha,
em seu perfil no Facebook,
em 27/08/2019


Acabo de ler um livro MUITO estranho – ESTA SOLIDÃO ABERTA QUE TRAGO NO PUNHO, do cearense Dércio Braúna – Deleatur Editorial, 2019. Na verdade, DOIS livros: AQUI, JUNTO À CASA DA SENHORA DE HERBAIS – narrativa em XLVI partes; e POR ENTRE AS SOMBRAS, PERGUNTAR AINDA PELO MAR – com quinze poemas. O impacto foi tão forte, com o primeiro deles, que vou deixar pra digerir o segundo noutra ocasião. Foi mais ou menos o que me aconteceu quando recebi, quando vivia em Pombal ( entre 63 e 70), um disco da poderosa obra pra órgão - Tocata e Fuga em Ré Menor - , de Bach, tendo - do outro lado - a delicada Chacona – também dele - pra solo de violino. Extasiado pela Tocata, somente fui perceber a maestria da Chacona... muito depois. OK.

Mas como Santo Agostinho ao dizer que se não lhe perguntassem o que era o Tempo, ele sabia do que se tratava, mas se lhe perguntassem – nem pensar, a verdade é que não tenho o instrumental necessário pra ir fundo no primeiro livro. Porque jamais li nada de Mia Couto, nem da “Senhora de Herbais”, nem do Prémio Camões de 2007 - Lobo Antunes, e infelizmente AQUI, JUNTO Á CASA DA SENHORA DE HERBAIS, deriva diretamente, parece-me, de duas pesquisas de Braúna: a que fez em 2011 “sobre questões pós-coloniais a partir da obra do escritor moçambicano Mia Couto”, pra seu mestrado em História Social pela Universidade Federal do Ceará, e a que – doutorando pela mesma UFC – faz agora sobre as relações entre História e Literatura , com foco no pensamento sobre a História na obra de Saramago. A narradora de Braúna é portuguesa e seu pesado sutaq´h é tão carr´gado quant´u u d´ meu avô – Joaquim Solha – sempre muitíssimo pr´sente em minha m´mória. Mas tem mais: como diz o autor nas considerações finais, “sua escrita tem duas imensas forças-moventes”. Sua “alma-fulgor”, a escritora portuguesa Maria Gabriela Llansol (1931-2008), com seu “pacto de inconforto, e pesa, também, uma dívida com o também lusitano Antonio Lobo Antunes, nascido em 42, hoje aos 77 anos, Prémio Camões de 2007, dívida com seu “ modo de fazer dos signos pretextos de superfície, a fim de, através deles, conduzir ao fundo avesso da alma”.

terça-feira, 28 de janeiro de 2020

Perguntamos ao Mistério



Lighthouse walk at Biarritz - Joaquín Sorolla



Dá-se algum nome que se diga paraíso.
O céu azul e a brisa leve o provam.
Ou, então, refúgio, raridade ou algo assim,
um lugar escondido, prudentemente, do mundo.

Tudo vaga em torno da demora:
dias, noites, pretensões,
assuntos em pauta,
assuntos em falta,
amores e desperdícios.

Naquele dia,
simples que o tenha sido,
algo calhou de assentar sobre o eterno (ou sua ilusão)
estas mulheres,
cujos nomes se ocultam deste que as observa.
E, por isso, se importa, perguntamos ao mistério:
                                        elas, quem seriam?

Quem???



│Autor: Webston Moura│



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Webston Moura
, administrador deste blog, é Tecnólogo de Frutos Tropicais, poeta e cronista. Natural do Ceará, Brasil, mora no município de Russas, na região do Vale do Jaguaribe. Aprendiz de Teosofia, segue a Loja Independente de Teosofistas - LIT. Tem apreço por silêncio, música, artes plásticas, bichos e plantas. É também administrador dos blogs O Caderno Livre e Só Um Transeunte.
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A PASTORA



Shepherdess - Stefan Luchian




Em toda manhã,
ao largo,
montanha acima,
campos sem fim,
ovelhas, sol e agrestes,
a pastora e seu viver sem demasia.


│Autor: Webston moura│



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Leia também:

Nos 75 anos da libertação de Auschwitz



Auschwitz


"Não sei se há no mundo alguma palavra com a mesma ressonância, mas Auschwitz representa, de alguma forma, a quinta essência do terror no Século XX. Sei que os judeus não gostam que se fale de Auschwitz, nem sequer aceitam sem polémica as diferentes versões ou reflexões que esta monstruosidade gerou em criadores ou pensadores judeus, mas não participo nesta espécie de sentimento religioso que impede que se pronuncie um nome, seja o de Deus, seja o do horror. Não: todas as palavras, incluindo as mais dilacerantes, podem e devem ser ditas e pensadas. Auschwitz pertence à humanidade doente, os que ali morreram eram nossos semelhantes, é igual que fossem judeus, ciganos, homossexuais ou comunistas, todos foram assassinados porque houve quem se tenha sentido superior e não tenha querido aceitar o diferente. Esta é a maior atrocidade, que haja quem esteja disposto a assassinar, a eliminar, para impor o seu cânone, a sua lei, a sua norma. E repara que a tragédia não acabou com o final da II Guerra e a manifestação, em toda a sua crueldade, da magnitude do horror: Hoje mesmo, em África, que está tão próxima de minha casa, na América também, estão a produzir-se episódios de eliminação sistemática do outro. É-me igual que seja em câmaras de gás ou pela fome ou epidemias, cuja origem não se conhece e cujo remédio está ao alcance de qualquer laboratório farmacêutico. Auschwitz não está fechado, continua aberto e as suas chaminés continuam a soltar o fumo do crime que todos os dias se perpetra contra a humanidade mais débil. E posso assegurar-te que não quero ser cúmplice, com o meu cómodo silêncio, de nenhuma fogueira."

José Saramago, in "Conversaciones con Saramago", de Jorge Halperín

Fonte: Fanpage da Fundação José Saramago:
https://www.facebook.com/fjsaramago/


Fundação José Saramago
Casa dos Bicos - Rua dos Bacalhoeiros, 10, 1100-135 Lisboa
Website: https://www.josesaramago.org/

E-mail: info.pt@josearamago.org

JULGAMENTO DO PROFESSOR QUE OUSOU ENSINAR DARWIN



https://www.facebook.com/iconografiadahistoriaoficial/


O julgamento do professor que ousou ensinar Darwin, quando os docentes eram obrigados a ensinar o criacionismo nas salas de aula norte-americanas.

No evento conhecido como "O Julgamento do Macaco", um professor foi acusado de ensinar evolucionismo na escola, EUA, 1925.

John Scopes, um professor de escola pública de Ensino Médio, foi acusado, em 1925, de ensinar o evolucionismo usando um capítulo de um livro que foi baseado em ideias inspiradas no livro “A origem das Espécies”, de Charles Darwin.

O professor foi condenado a pagar uma multa de 100 dólares, o que era muito dinheiro na época, por violação da lei que proibia o ensino da Teoria da Evolução nas escolas públicas do Tennessee, nos Estados Unidos.

Nos anos que se seguiram ao julgamento, o ensino do Evolucionismo ganhou força nos Estados Unidos e depois que o movimento anti-evolucionista desapareceu, a Lei Butler foi revogada em 1967.

[Foto] - Professor Scope sentado em frente aos seus advogados, ouvindo a sentença do júri, proferida pelo juiz.

Texto - Joel Paviotti



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OUTRAS FONTES SOBRE O ASSUNTO OU CORRELATOS:

O Julgamento do Macaco: A Teoria da Seleção Natural no Banco dos Réus:

Criacionismo - Religião Contra-ataca:

O Criacionismo Invade A Europa:
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terça-feira, 21 de janeiro de 2020

SAFIRAS LIQUEFEITAS



Os Guarda-chuvas - Pierre August Renoir



Suzanne Valadon, ainda mais bonita,
não apesar da chuva, se antes ou agora, mas por causa dela
ou, se melhor pensarmos, do que ela provoca,
este caminhar de azuis sob guarda-chuvas,
como se safiras liquefeitas inundassem o ar.


│Autor: Webston Moura│


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Para ler outros poemas do autor, clique "aqui"

segunda-feira, 20 de janeiro de 2020

MISTERIOSAMENTE



Untitled - Aki Kuroda


Não pode chamar de vento, vazio ou água,
embora lhe pareça, a princípio, agradável.
Sente, mas não nomeia.
Expressa, mas não diz com palavras.
Não consegue definir; apenas sente e expressa.

Diriam alguns ser o trato de uma criança criando horizontes.
Mas, não. Ou não somente.

Cabe, mas não completa: não são laranjas num cesto.
Preenche, mas não compõe volume por sobre fronteiras.
É como o voo, mas o voo mesmo, a liberdade de.

É dança, alguma forma de dança.

É, noutra língua, a música que não se entende, mas  que se ama, misteriosamente.
E, ainda assim, não é abismo.


“So take a look at me now
Cause there's just an empty space
And there's nothin left here to remind me
Just the memory of your face”
− Phil Collins, in "Against All Odds"



│Autor: Webston Moura│

TERESA, SEU SORRISO E SUA SUAVE PRESSA






Nunca estive aí,
nem no passado,
nem depois.

Mas, como é comum,
comovem-me estas fotos em preto-e-branco.

A legenda diz de um lugar
que posso encontrar nos mapas e noutros artefatos,
mas que, nas fotos, parece-me mais íntimo, meu,
se assim pode a liberdade a que me dou.
A imagem, se de sentimento vestida, nos toca,
ao menos a mim, a isto afeito.

Imagino, pois, se era manhã ou tarde.
Escolho a tarde.
Pois naquela tarde, num de repente, a foto, o click de uma máquina,
a captura que revelaria ao futuro o instante agora eterno, estático.
Fosse um pouco antes, teria encontrado Teresa, seu sorriso e sua suave pressa.



│Autor: Webston Moura│


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Nota:
- A Foto foi retirada da página da Câmara Municipal de Lisboa, no Facebook: https://www.facebook.com/camaradelisboa/. E, lá, a legenda diz: "Assim se circulava na Avenida da Liberdade nos anos 40 do século XX 🔙 CARRIS

A CASA JOSÉ SARAMAGO



A Casa José Saramago


«El libro continuaría siendo, en este y en todos los futuros, aquello que es hoy: un comentario sin prejuicios sobre casos y gente, el discurrir de alguien que quiere echar mano al tiempo que pasa, como si dijese: 'No vayas tan deprisa, deja una señal de ti'».
9 de enero de 1994
José Saramago


"O livro continuaria a ser, neste e em todos os futuros, aquilo que é hoje: um comentário sem preconceitos sobre casos e pessoas, o discorrer de alguém que quer dar mão ao tempo que passa, como se dissesse: ' não vá tão rápido , deixe um sinal de você ' ".
9 de Janeiro de 1994
José Saramago




Casa Museo José Saramago en la Isla de Lanzarote [Canary Islands] abierta de lunes a sábados desde las 10,00 h a 14,30 h. Última visita a las 13,30h.
E-mail: acasajosesaramago@gmail.com