Não vá para o fundo, dizia
a mãe.
O
rio, que passava dentro da cidade,
nem
estava tão cheio, pois era o tempo de estio.
Mas,
continha água suficiente para nós,
pequenos
aventureiros de cada manhã.
Íamos,
mas não no perigo.
Exceto
uns, por vocação de desobedecer,
atreviam-se
e subiam em árvores à beira do rio,
na
parte em que havia poços, diziam, água escura, funda.
Pulavam
e faziam algazarra, mergulhavam, eram ágeis.
De
longe, nós, os mais quietos, não os invejamos.
Gastávamos
o tempo no fazer-nada que a água dá,
além
de buscarmos, aqui e ali, piabas e outros bichinhos.
Do
outro lado do rio, uma comunidade,
gente
ainda mais pobre, sem luz elétrica,
sem
água encanada, sem filtros de barro,
enfim,
com muitas ausências,
mas
sem graves tristezas.
Sorriam
para nós enquanto passavam.
Sempre
olhávamos o sentido da corrente,
para
onde o rio se findava nalguma curva.
Que
outros povos encontrava?
Que
outras histórias percorria?
Disso
tudo,
o
rio interno que carregamos espelhado
naquele,
águas
que se foram e
que voltaram
quando
não estávamos mais lá.
Hoje,
perdendo tempo enquanto podem,
há crianças no rio,
naquele
ou no que dele restou?
│Autor: Webston Moura│