segunda-feira, 3 de janeiro de 2022

AMARELO



Der gelbe Hügel - Cuno Amiet





Apenas porque resplandece esta cor,
aqui está: a alegria sob o sol.

Para olhos sem rancor, basta.

Os narcisos e os girassóis assim se deliciam,
como, em sua elegância, também se delicia
a gema do ovo, nua, na branca louça do prato.

É infância, e o tempo não existe
senão como o que se sente sem ganho ou perda.



|Autor: Webston Moura|




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domingo, 2 de janeiro de 2022

A CASA DE CRISTAL



The Crystal House - Jacques Hérold







Para além há,

no abscôndito,
a casa sonhada
(ou pressentida).

Dentro,
nenhuma pergunta mais
será necessária: cessam as dúvidas,
as buscas, os desejos, as comparações.

Ouvi de um mago
cujo nome me foge
à lembrança.

Diz-se ser a casa toda puro afeto,
sem o peso da idade ou do devir.

Será?



|Autor: Webston Moura|



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PAISAGEM


Landscape - Arthur Beecher Carles






Passagem,

lugar-não:
porta, ponte, meio.

Um coração que transborda
enquanto chove nalgum janeiro.

Vês o campo, o sol, o orvalho?
Ou achas que tudo isso
é só tinta, tempo e delírio?



|Autor: Webston Moura|



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CINCO PERAS



Five Pears - William Scott





Onde antes o não

cinco peras perseveram.

Para a sede dos olhos
e a ausência de conversa.

Verdes, transpiram
quietamente — o tempo as corrói.

O vazio da tigela,
música fugidia no cinza,
impregna-se de espera.

(Ou seria tudo isto uma miragem,
ilusão adocicada pelo tédio?)



|Autor: Webston Moura|



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sábado, 1 de janeiro de 2022

E TUDO ME FEZ ANTIGO


The Crowd - Wyndhan Lewis







Parque que o barulho esconde,

só o vemos lá, árvore a árvore,
paraíso sobrevivente ao desastre.

Na cidade,
a vida,
oculta
& gritante,
distribuída/
           gasta
     a granel,
não lembra ter vindo das estrelas,
nem sabe mais o sabor do abacate.

Encontrei uma flor ao pé da calçada.
Era tão forte, tão frágil,
que me pareceu um espelho.

De algum lugar em redor
alguém ouvia Legião Urbana
— e tudo me fez antigo.



|Autor: Webston Moura|



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ENTRE O LEVE E O ESCASSO


Cat and Plum Blossoms - Hishida Shunso






Vem lá e para.

O gato.
A luz o revela:
ar morno e pacífico
de calma cor, ouro manso
depurado à água leve,
o bicho em silêncio,
olhos semicerrados.

(Miúdas flores de ameixa,
pouco carregadas de cor,
repousam entre o leve e o escasso).



|Autor: Webston Moura|



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Nesta Praia Sem Nome



Moon Light Sonata - Basuki Abdullah



É noite.
Não há veleiros ou faróis.
Tampouco há o rumor de gentes.
E os peixes passeiam no escuro,
como os sonhos esquecidos,
os corpos naufragados,
as garrafas nunca chegadas,
mensagens perdidas e mãos apartadas.

Tudo é longe!

E ainda que se fale de certa solidão,
não se fala de dor, mas de paz.



|Autor: Webston Moura|

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Webston Moura
, administrador deste blog, é Tecnólogo de Frutos Tropicais, poeta e cronista. Natural do Ceará, Brasil, mora no município de Russas, na região do Vale do Jaguaribe. Aprendiz de Teosofia, segue a Loja Independente de Teosofistas - LIT. Tem apreço por silêncio, música, artes plásticas, bichos e plantas. É também administrador dos blogs O Caderno Livre e Só Um Transeunte.
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