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quarta-feira, 14 de setembro de 2022

Qual O Nome Dela Mesmo?


Portrait of aWoman




É São Jorge, diriam alguns,
como o que se diz olhando a Lua.
Outros diriam ser uma nuvem,
cavalos num prado, cães num quintal.

Olho a vidraça, perco tempo,
gasto quinze minutos,
o relógio me diz.
O guarda me crispa um olhar sério,
imagina, talvez, algo errado.
No entanto, desiste de me abordar.

A mancha na vidraça me toma.
Na verdade, o que restou de um (suposto) reflexo:
por dentro, se é que não me engano,
um rosto, um sorriso, um aceno.

Qual o nome dela mesmo?



|Poema de Série "Incidentes" - Autor: Webston Moura



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quarta-feira, 26 de abril de 2017

AO SOM DE UMA SALSA



Quase não suporta a bolsa;
falta-lhe a respiração.
Pouco antes de virar a esquina,
o taxi some, surge um letreiro.
Que importa. Vamos a pé mesmo.
O filme é interrompido neste ponto.
Avisam, lá de fora, que a luz caiu na cidade inteira.
Você não gostaria de tomar uns drinques?
Amanhã tenho que ir à cidade vizinha.
Mas quem resiste a tão comovente convite.
A luz voltou. A loja de miudezas parece uma feira.

Pipocas, bolas, negros meninos sorridentes nas calçadas.
Um carro dos anos 50 ─ Estamos em Havana?
Recomeça a cantarolar a salsa, dança na calçada.
Um policial observa e sorri, distrai-se.

Sua pele parece algodão.
Já está quase na hora de ir para casa.
Me gusta mucho Mongo Santamaría.
No entendí.
Sorrimos.
Começa a neblinar, suavemente.


│Poema da Série “Incidentes” – Autor: Webston Moura│

O CÃO

Sempre, a partir das três, este cão me aparece.
Olha pela porta de vidro, faz sinal, ladra.
Dou-lhe alguma comida e água.
Ele come, bebe, demora-se um pouco e some.
Nunca soube para onde vai quando vira a esquina.
Do que me acontece, o fato sem rumo é apenas este,
o cão cujo nome ou origem não sei, nunca soube.

Dou de imaginar uma casa de onde ele foge
e vem desordenar, ao menos um pouco, minha rotina.
Este cão é a interrogação a que me obrigo pensar,
a pedra no sapato de meu pequeno reino de ordem e paz.
É o que me desestrutura e me põe no meio do inesperado,
como se uma pluma me tomasse as rédeas da razão e saísse ao vento.

Virá o dia em que ele desparecerá da minha vida.
Aí, que farei da hora vazia diante da porta?


│Poema da Série “Incidentes” – Autor: Webston Moura│

O RELÓGIO



Guardo o relógio desde que aqui vim morar.
Curioso tê-lo encontrado dentro de uma das paredes.
A caixa de madeira, um entalhe com as iniciais ST na tampa.
Objeto antigo, mas nem tanto, ainda funciona.
Não quis tentar devolvê-lo, reconheço.
Talvez, acredito, para ter um mistério e não um roubo.
Depois de doze anos, continuo a perguntar sobre.
Inventei, para meu próprio gozo, possibilidades.
Mas nunca fui mais adiante em qualquer investigação.

Este relógio é o meu segredo obscuro,
aquela dose de fantasia a que imaginativas pessoas se dedicam.
Fora de toda previsibilidade, é a circunstância que não dirijo.
Caso casual, apesar dos doze anos, marca as horas em que aconteço fora do mundo.
E eu sempre hei de viajar.


│Poema da Série “Incidentes” – Autor: Webston Moura│