sexta-feira, 20 de abril de 2018

POEMA DO "RIO DO FOGO", DE BRUNO LACERDA E DAVID DE MEDEIROS LEITE






ESCRUTÍNIO

Nossos pés
se encontram
em águas rasas.

Os meus,
vindos do mar
: mareados.
Os seus, da terra
: azoados.

No apear,
escrutinamos
abastanças e arrastados.

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ESCRUTINIO

Nuestros pies
se encuentran
em aguas bajas.

Los míos
venidos del mar
: mareados.
Los suyos, de tierra
: aturdidos.

Em el parar,
escudriñamos
abundancias y arrastrados.

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SERVIÇO:
Rio do Fogo
Bruno Lacerda (Fotografias)
David de Medeiros Leite (Poemas)
Juan Angel Torres Rechy  (Tradução p/ Espanhol)
8 Editora & Sarau das Letras
Contato:
David de Medeiros Leite: davidmleite@hotmail.com

QUATRO POEMAS DO PEDRO DU BOIS


http://www.projetopassofundo.com.br/




Reconstruo: retiro do ar
a momentânea oferta
de paz. Movo o corpo
em sacrifício e individualizo
o ser: no amanhecer
o canto da noite
se desfaz em cores.

Ao amanhecer gestos
trocados na madrugada
se eternizam.

Poema de número 24, da segunda parte da secção “A Construção do Gesto”, página 24.


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Sob medida diz o alfaiate
cortando o pano
milimétrico: as mangas
o colete
o cós
as calças
o forro
o lenço
no bolso da lapela.

Tempos idos.
Novidade
refeita em livros escolares.

A maldade atira
a bola de papel
dentro do chapéu
sobre a mesa.

Não há medida responde
o ancião. Não há ancião.
Velho homem desprotegido
em idades ultrapassadas.


Poema número 1 da secção “A Medida do Peso”, página 49.


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A primeira cidade
inesquecível: nascimento
e morte entrelaçados
no parto. Cordão cortado
e o curativo.

O umbigo cicatriz
a história não vivida.

O leite materno
na escura noite
despercebida em dias
e meses de mesmas coisas.

A cidade avessa
em comportamentos.

Poema de número 2 da secção “Cidades”, página 66.

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Desce as escadas:
oficina aberta em tipos.

preenche o quadro
entinta a peça
demora a pressão
sobre o papel.

o escrito umedecido
da consciência
desfeita em obras
               concretizadas.

Poema de número 14 – Secção “Consentimento”, página 109.


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SERVIÇO:
A Construção do Gesto  & outros poemas
Pedro Du Bois
Projeto Passo Fundo

Sobre Pedro Du Bois, acesse o blog: http://pedrodubois.blogspot.com.br/

quinta-feira, 22 de fevereiro de 2018

MUTIRÃO 3 NO ISSU


Terceira edição do Livreto-revista Mutirão. Com participação de André Dias — Bárbara Costa Ribeiro — Brennand de Sousa — Carlos Nóbrega — Carlos Vazconcelos — Cláudio Araripe — Deribaldo Santos — Ellis Mário Pereira — Francisco de Almeida — Henrique Beltrão — Jarbas Oliveira — Liciany Rodrigues — Lia Leite — Luis Marcos — O Poeta de Meia-Tigela — Ralphe Alves — Raymundo Netto — Rosanni Guerra — Suellen Lima — Webston Moura

Para acessar e ler a publicação Mutirão 3, organizada por Alves de Aquino, O Poeta de Meia-Tigela, clique neste link: https://issuu.com/opoetademeia-tigela/docs/mutirão3.

segunda-feira, 12 de fevereiro de 2018

Borboleta



Butterflies - Odilon Redon



O que me desorganiza, é esta borboleta.
Não é outra, semelhante, mas esta,
uma borboleta estranha e, como todas, paciente,
capaz de estacionar, imóvel, de parar o espaço que ocupa,
de hipnotizar o ar em redor e ocultar a duração do tempo.

Não há néctar nas cortinas,
nem nos móveis,
tampouco nos livros.
Assim, por que ela não some?

O azul de suas asas, forte e denso, é pétreo.
Nunca o vi, sequer o imaginei.

Noutro tempo, havia candeeiros, muitos,
como num enxame, luzes infinititas.
Peixes deslizavam no ar, luziam cores ácidas.
Loreena McKennitt cantava “Stolen Child”.
E não havia esta borboleta
─ que incide e subleva, sem dar clareza dos porquês.


|Autor: Webston Moura|




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Webston Moura
, administrador deste blog, é Tecnólogo de Frutos Tropicais, poeta e cronista. Natural do Ceará, Brasil, mora no município de Russas, na região do Vale do Jaguaribe. Aprendiz de Teosofia, segue a Loja Independente de Teosofistas - LIT. Tem apreço por silêncio, música, artes plásticas, bichos e plantas. É também administrador dos blogs O Caderno Livre e Só Um Transeunte.
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quinta-feira, 8 de fevereiro de 2018

MAIS


Não nos damos exatamente
pelo mistério das coisas,
que é apurar os olhos sobre o invisível.

Oculta, a vida é mais.

Sequer nos vemos senão como
essas unidades de produzir e sofrer,
de repetir os olhos e repisar a paisagem.

Mas, oculta, a vida é mais.


│Autor: Webston Moura│


LUGARES DE SER


Eu quero ser como a Rita Lee,
um lírio forte, uma pedra meiga,
uma cadeira na calçada do anteontem.

Eu quero o aroma da manga
desfazendo aflições e angústias.

Eu vi um Zepelim indelével
compondo a formosura do azul.

Eu quero a cachoeira secreta de águas lídimas,
onde nenhum ruído desagradável tome posse.

Eu quero palavras-vazios,
lugares-de-ser.

E quero poder jardins em meu coração.


│Autor: Webston Moura│


GRAÇA


É assim mesmo, gratuitamente.
Andar sem rumo, devagar, cidade ir, ruas e ruas.
É assim, sem um grande plano, sem uma terra a conquistar.
Se chover, não se corre, que a chuva desliga o tempo.

Ah, o tempo, o cão e o portão, o crachá, a burocracia!
Não! Não é deste tempo rijo que precisamos.
É daquele outro, daquele dito fruição.

Fruição:
1.Usufruir de goiabas no pé e do verde nos olhos de quem der;
2.Ouvir, sem afobamento, “Dr. Joe”, com Chick Corea,
John Patitucci e Antonio Sanchez;
3. Sonhar com Maria Casadevall.

É assim, e não pense, que pensar dá pregos.
Andar sem rumo, devagar, cidade ir, ruas e ruas.
Se chover, seja tão despossuído quanto um mendigo

ou um poeta.


│Autor: Webston Moura│

ASA PERDIDA


A ave, livre, voa e vê o que não vemos,
sente o que não sentimos, vive sua singularidade.

Armadilhamos sua vida em gaiolas bem cuidadas,
damos-lhe de comer e de beber e lhe exigimos um canto.

Presa, ela canta o que nossa prisão íntima supõe ser alegria.
Ela canta ─ bem nos disse um bruxo ─ a saudade-dó.

E o que fazemos com o canto-cárcere
que não poderíamos fazer com o voo-dádiva?
Sabe-se lá! Ou, de outro modo, sabe-se, sim:
                             fazemos mando presunçoso,
pois desaprendemos nossas próprias asas.
E nosso canto é farto dó e demasia de exílio.


│Autor: Webston Moura│

Ímpar



Blue Nude II (1952) - Henri Matisse




Você, nua, parece um águia,
parece um leão farto sobre as nuvens,
parece uma inscrição encontrada nos Pireneus,
parece aquele carnaval de 1976,
parece o olhar de um gnu,
parece a Ursula Andress num siso ordenador.

Você, nua, paralisa o silêncio em seu zênite
e agrupa meu sangue na densidade mais elétrica.

Você é um solo do Jimmy Page contra as horas-não.



|Autor: Webston Moura|



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Webston Moura
, administrador deste blog, é Tecnólogo de Frutos Tropicais, poeta e cronista. Natural do Ceará, Brasil, mora no município de Russas, na região do Vale do Jaguaribe. Aprendiz de Teosofia, segue a Loja Independente de Teosofistas - LIT. Tem apreço por silêncio, música, artes plásticas, bichos e plantas. É também administrador dos blogs O Araibu e Só Um Transeunte.
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terça-feira, 6 de fevereiro de 2018

CONFISSÃO SOBRE A PALAVRA AUSENTE


O que não escrevo,
as cargas de fósforo que o mofo come,
a luz que não nasce e, ao contrário,
desaparece nos confins do não-sei-quê.

O que não escrevo,
o sangue-incógnita perdido na coisa-vã,
a gueixa e a batalha gaveta adentro,
o aroma sem qualquer asa.

Sim, eu sei que esse é um tempo de testemunho.
Mas me cansa essa gente toda se afogando no incalculável.


│Autor: Webston Moura│

sábado, 25 de novembro de 2017

ARQUITRAVE - REVISTA COLOMBIANA DE POESIA



Arquitrave – Revista Colombiana de Poesia, nº 66

CONSUMAÇÃO



Somos tempo.
Estamos na combustão,
na consumação do que chamamos de vida,
                                                      nossas vidas,
esta matéria da qual geralmente pouco sabemos.
Nela, o tempo não se sobressai de fora para dentro,
mas explode mesmo do centro em diante.

Somos tempo, ao lado de estrelas, plantas e pedras.


│Autor: Webston Moura│

quinta-feira, 23 de novembro de 2017

SERTÃO



Os pés-d’água, onde, se a poeira é tudo?
A terra seca, extrema, nos consome.
Devagar, uma carroça se arrasta;
os bois, magros, gastam-se no aberto.

Com as pedras,
nossa comunhão de enfadonha aridez se completa.

Sertão.


│Autor: Webston Moura│

quarta-feira, 22 de novembro de 2017

VIAJANDO NA MADRUGADA



Você quer paz
(galos levantados para o sol),
mas há uma intensidade estranha pelo quarto.

Você se veste e vai à rua.
Tenta encontrar o âmbar daquelas retinas.
(Vagando, a solidão é este cão ao tornozelo,
torneira pingando sua reza faminta).
Olhos-nenhuns te visitam.

Você não tem saída: é um dia sem porto.
Há, ainda, de dormir, caso queira
─ e para não sucumbir ao lodo final ─,
enovelado ao céu gratuito da inteira noite,
                        viajando, viajando, viajando.


I am on a lonely road and
I am traveling, traveling, traveling, traveling
Looking for something, what can it be?
─ Joni Mitchell, in All I want, álbum “Blue” (1971)



│Autor: Webston Moura│