A ave,
livre, voa e vê o que não vemos,
sente o
que não sentimos, vive sua singularidade.
Armadilhamos
sua vida em gaiolas bem cuidadas,
damos-lhe
de comer e de beber e lhe exigimos um canto.
Presa, ela canta
o que nossa prisão íntima supõe ser alegria.
Ela
canta ─ bem nos disse um bruxo ─ a saudade-dó.
E o que
fazemos com o canto-cárcere
que não
poderíamos fazer com o voo-dádiva?
Sabe-se
lá! Ou, de outro modo, sabe-se, sim:
fazemos
mando presunçoso,
pois
desaprendemos nossas próprias asas.
E nosso
canto é farto dó e demasia de exílio.
│Autor:
Webston Moura│