segunda-feira, 23 de dezembro de 2024

A Criança



Untitled (1978)
- Betty Parsons



A criança que fui, aonde está? Numa camada mais adentro, guardada da luz do dia, ainda me dizendo para brincar. E já que sou adulto, tento poesia, uma forma de acreditar que as palavras podem mais um pouco que simplesmente codificar uma comunicação. A criança que fui anda nas praias que inventa, viaja pelo universo, observa as árvores, sem lhes da preço em dinheiro. A criança em mim guardada necessita ir além da realidade, pois precisa sonhar. Não como quem nega o acontecido, o ordinário, mas como quem inventa e reinventa.


|Autor: Webston Moura|

.................................................
Leia outros posts:



.........................................................
Para ler reflexões, clique [aqui]
Para ler crônicas, clique [aqui]

.....................................................................
Webston Moura
, administrador deste blog, é Tecnólogo de Frutos Tropicais, poeta e cronista. Natural do Ceará, Brasil, mora no município de Russas, na região do Vale do Jaguaribe. Aprendiz de Teosofia, segue a Loja Independente de Teosofistas - LIT. Tem apreço por silêncio, música, artes plásticas, bichos e plantas. É também administrador dos blogs O Caderno Livre e Só Um Transeunte.
..............................................................................


Boas Festas!




Nativity of Christ (1523)
- Lorenzo Lotto



Acho que eu tinha uns quatro anos de idade. Minha família morava na zona rural. Em certa noite, deram de me vestir uma calça marrom, de botões, e me puseram também uma camisa. Fiquei todo formal. Sapatos, claro, que naquela época as crianças usavam sapatinhos marrons de cadarços. E aí fomos de carro até a cidade para a casa de minha avó materna.

Para mim, era uma mistura de novidade e tumulto. Por que me retiraram de meu quieto mundo, à noite, para uma viagem à cidade?

domingo, 22 de dezembro de 2024

Envelhecer



Old Man in Warnemunde (1907)
- Edvard Munch



Você está ficando velho, diz alguém. É como se dissesse que você está ficando fraco e falho. Não seria mais certo dizer que, com a idade - o tempo -, você está ficando maduro?

Numa sociedade aonde e pujança é reduzida ao vigor físico, à aparência, envelhecer é perder a credibilidade.

Deve ser assim mesmo?

Envelhecer é ganhar o jogo, afinal a vida tem sua dureza, e ir adiante, avançar anos, é superar obstáculos. Para tanto, virtude e luta, além, obviamente, de condições dignas.

Envelhecer não á apenas enrugar-se e andar mais devagar, mas olhar mais devagar, como quem exerce atenção e compaixão, nobrezas do ser humano.

Nenhuma fase é intrinsecamente ruim ou triste, tampouco deve ser vista como estranha. Em nós, nos bichos, nas árvores, nas rochas, aonde for, envelhecer é bom e precisa ser dito assim, para que nos humanizemos.

Ah, mas eu não queria! Sim, há em nós um sabor de eternidade e juventude que gostaríamos que fosse já aqui nesta vida. Mas não é assim. A natureza tem sua própria maneira de fazer as coisas, não nos cabendo roubar-lhe o protagonismo. Sejamos humildes!

E sejamos felizes tanto quanto pacientes e sábios.



|Autor: Webston Moura|

.................................................
Leia outros posts:


.....................................................................
Webston Moura
, administrador deste blog, é Tecnólogo de Frutos Tropicais, poeta e cronista. Natural do Ceará, Brasil, mora no município de Russas, na região do Vale do Jaguaribe. Aprendiz de Teosofia, segue a Loja Independente de Teosofistas - LIT. Tem apreço por silêncio, música, artes plásticas, bichos e plantas. É também administrador dos blogs O Caderno Livre e Só Um Transeunte.
..............................................................................


Corações Desarmados



Homem com lenço vermelho (1922)
- Roger de La Fresnaye
 


Nunca mais os vi, os homens com lenços ao bolso. E, junto disso, o que também deixou de existir, se não inteiramente, foi dizer "Bom Dia!" de modo sincero, para além da formalidade. E aí não só nos homens, mas em qualquer pessoa. Parece bobagem, mas não é.

O mundo mudou. Mas dizer isso, é ainda dizer pouco, já que o mundo - a vida, a realidade, as pessoas - sempre muda.

Éramos mais gentis, no passado? Acho que sim. E o que houve? Modernizamo-nos pelo lado sombrio da modernização. Sem tempo, sem saúde, com medo, envolvidos em disputas tantas, cá estamos nós diminuídos em nossa humanidade, rumando para um futuro pedregoso.

Depois do andejar pelo escuro, espero que haja luz! E lenços, saudações, sorrisos, mãos desarmadas, mas, sobretudo, corações desarmados, gentileza e inocência.



|Autor: Webston Moura|

.................................................
Leia outros posts:


.........................................................
Para ler reflexões, clique [aqui]
Para ler crônicas, clique [aqui]

.....................................................................
Webston Moura
, administrador deste blog, é Tecnólogo de Frutos Tropicais, poeta e cronista. Natural do Ceará, Brasil, mora no município de Russas, na região do Vale do Jaguaribe. Aprendiz de Teosofia, segue a Loja Independente de Teosofistas - LIT. Tem apreço por silêncio, música, artes plásticas, bichos e plantas. É também administrador dos blogs O Caderno Livre e Só Um Transeunte.
..............................................................................


sábado, 21 de dezembro de 2024

O Cão Abandonado






É triste o cão na rua. A fome e a sede o tomam. Seus secos olhos doem. Anda devagar, tem medo. Sua fragilidade atrai os agressores. Vive assim desde sempre. Abandonado, vai e vem. Encontra aqui uma comida. Ou o que restou de uma. Bebe a água que lhe dão. Ou a que, suja, encontra. Em geral, não o vemos. Ou fingimos. Ele é a denúncia de que nos tornamos fracos. Fracos porque insensíveis e cínicos. Ele, se pudesse, seria o nosso cão. Seria mais, seria irmão. Ele, se pudesse, faria do abandono apenas uma palavra, nada mais que uma palavra.


|Autor: Webston Moura|

.........................................
Imagem: Depositphotos
.................................................
Leia outros posts:

.....................................................................
Webston Moura
, administrador deste blog, é Tecnólogo de Frutos Tropicais, poeta e cronista. Natural do Ceará, Brasil, mora no município de Russas, na região do Vale do Jaguaribe. Aprendiz de Teosofia, segue a Loja Independente de Teosofistas - LIT. Tem apreço por silêncio, música, artes plásticas, bichos e plantas. É também administrador dos blogs O Caderno Livre e Só Um Transeunte.
..............................................................................


segunda-feira, 16 de dezembro de 2024

O Inevitável




A Vitória do Inevitável (1970)
- Jules Perahim



O inevitável me desafia
a aceitar o destino.

Contrariado, escondo o rosto da luz
enquanto costuro a necessária resignação.

O inevitável, às vezes, me faz chorar
ou, simplesmente, perder o sono.

Mas, se com ele aprendo
- pois é inevitável aprender -,
passo a saber, cada dia mais,
sobre meu poder, que é outro,
não este de tentar domar o inevitável,
o destino das coisas que hão de ser.

|Autor: Webston Moura|

.................................................
Leia outros posts:



.....................................................................
Webston Moura
, administrador deste blog, é Tecnólogo de Frutos Tropicais, poeta e cronista. Natural do Ceará, Brasil, mora no município de Russas, na região do Vale do Jaguaribe. Aprendiz de Teosofia, segue a Loja Independente de Teosofistas - LIT. Tem apreço por silêncio, música, artes plásticas, bichos e plantas. É também administrador dos blogs O Caderno Livre e Só Um Transeunte.
..............................................................................


A Gentileza

Diz o dicionário que a gentileza é a capacidade de ser amável, cordial, generoso. Isto contraria a estupidez, a agressividade e o egoísmo.

Agir com gentileza é, então, preservar o melhor nas relações, respeitando a dor das pessoas, respeitando sua integridade, suas buscas, suas vidas. E é um caminho de mão dupla: dar e receber. Gerar.

O que as virtudes expressam, ainda mais num mundo cheio do contrário, parece ingenuidade. Mas só o serão se forem aplicadas ao lugar errado, pois mesmo as virtudes requerem a atenção de distinguir as intenções, os interesses, o que, de fato, está se passando. Isto para que não se seja tolo diante dos aproveitadores.

A pessoa gentil, se verdadeira mesmo nisso, não escapa de ser justa e firme, para evitar agir assim com o que lhe há de prejudicar.

Ser gentil é ser nobre. Como costume de uma sociedade, salva o melhor que o ser humano carrega.

|Autor: Webston Moura|

.................................................
Leia outros posts:


.........................................................
Para ler reflexões, clique [aqui]
Para ler crônicas, clique [aqui]


.....................................................................
Webston Moura
, administrador deste blog, é Tecnólogo de Frutos Tropicais, poeta e cronista. Natural do Ceará, Brasil, mora no município de Russas, na região do Vale do Jaguaribe. Aprendiz de Teosofia, segue a Loja Independente de Teosofistas - LIT. Tem apreço por silêncio, música, artes plásticas, bichos e plantas. É também administrador dos blogs O Caderno Livre e Só Um Transeunte.
..............................................................................