domingo, 22 de dezembro de 2024

Corações Desarmados



Homem com lenço vermelho (1922)
- Roger de La Fresnaye
 


Nunca mais os vi, os homens com lenços ao bolso. E, junto disso, o que também deixou de existir, se não inteiramente, foi dizer "Bom Dia!" de modo sincero, para além da formalidade. E aí não só nos homens, mas em qualquer pessoa. Parece bobagem, mas não é.

O mundo mudou. Mas dizer isso, é ainda dizer pouco, já que o mundo - a vida, a realidade, as pessoas - sempre muda.

Éramos mais gentis, no passado? Acho que sim. E o que houve? Modernizamo-nos pelo lado sombrio da modernização. Sem tempo, sem saúde, com medo, envolvidos em disputas tantas, cá estamos nós diminuídos em nossa humanidade, rumando para um futuro pedregoso.

Depois do andejar pelo escuro, espero que haja luz! E lenços, saudações, sorrisos, mãos desarmadas, mas, sobretudo, corações desarmados, gentileza e inocência.



|Autor: Webston Moura|

.................................................
Leia outros posts:


.........................................................
Para ler reflexões, clique [aqui]
Para ler crônicas, clique [aqui]

.....................................................................
Webston Moura
, administrador deste blog, é Tecnólogo de Frutos Tropicais, poeta e cronista. Natural do Ceará, Brasil, mora no município de Russas, na região do Vale do Jaguaribe. Aprendiz de Teosofia, segue a Loja Independente de Teosofistas - LIT. Tem apreço por silêncio, música, artes plásticas, bichos e plantas. É também administrador dos blogs O Caderno Livre e Só Um Transeunte.
..............................................................................


sábado, 21 de dezembro de 2024

O Cão Abandonado






É triste o cão na rua. A fome e a sede o tomam. Seus secos olhos doem. Anda devagar, tem medo. Sua fragilidade atrai os agressores. Vive assim desde sempre. Abandonado, vai e vem. Encontra aqui uma comida. Ou o que restou de uma. Bebe a água que lhe dão. Ou a que, suja, encontra. Em geral, não o vemos. Ou fingimos. Ele é a denúncia de que nos tornamos fracos. Fracos porque insensíveis e cínicos. Ele, se pudesse, seria o nosso cão. Seria mais, seria irmão. Ele, se pudesse, faria do abandono apenas uma palavra, nada mais que uma palavra.


|Autor: Webston Moura|

.........................................
Imagem: Depositphotos
.................................................
Leia outros posts:

.....................................................................
Webston Moura
, administrador deste blog, é Tecnólogo de Frutos Tropicais, poeta e cronista. Natural do Ceará, Brasil, mora no município de Russas, na região do Vale do Jaguaribe. Aprendiz de Teosofia, segue a Loja Independente de Teosofistas - LIT. Tem apreço por silêncio, música, artes plásticas, bichos e plantas. É também administrador dos blogs O Caderno Livre e Só Um Transeunte.
..............................................................................


segunda-feira, 16 de dezembro de 2024

O Inevitável




A Vitória do Inevitável (1970)
- Jules Perahim



O inevitável me desafia
a aceitar o destino.

Contrariado, escondo o rosto da luz
enquanto costuro a necessária resignação.

O inevitável, às vezes, me faz chorar
ou, simplesmente, perder o sono.

Mas, se com ele aprendo
- pois é inevitável aprender -,
passo a saber, cada dia mais,
sobre meu poder, que é outro,
não este de tentar domar o inevitável,
o destino das coisas que hão de ser.

|Autor: Webston Moura|

.................................................
Leia outros posts:



.....................................................................
Webston Moura
, administrador deste blog, é Tecnólogo de Frutos Tropicais, poeta e cronista. Natural do Ceará, Brasil, mora no município de Russas, na região do Vale do Jaguaribe. Aprendiz de Teosofia, segue a Loja Independente de Teosofistas - LIT. Tem apreço por silêncio, música, artes plásticas, bichos e plantas. É também administrador dos blogs O Caderno Livre e Só Um Transeunte.
..............................................................................


A Gentileza

Diz o dicionário que a gentileza é a capacidade de ser amável, cordial, generoso. Isto contraria a estupidez, a agressividade e o egoísmo.

Agir com gentileza é, então, preservar o melhor nas relações, respeitando a dor das pessoas, respeitando sua integridade, suas buscas, suas vidas. E é um caminho de mão dupla: dar e receber. Gerar.

O que as virtudes expressam, ainda mais num mundo cheio do contrário, parece ingenuidade. Mas só o serão se forem aplicadas ao lugar errado, pois mesmo as virtudes requerem a atenção de distinguir as intenções, os interesses, o que, de fato, está se passando. Isto para que não se seja tolo diante dos aproveitadores.

A pessoa gentil, se verdadeira mesmo nisso, não escapa de ser justa e firme, para evitar agir assim com o que lhe há de prejudicar.

Ser gentil é ser nobre. Como costume de uma sociedade, salva o melhor que o ser humano carrega.

|Autor: Webston Moura|

.................................................
Leia outros posts:


.........................................................
Para ler reflexões, clique [aqui]
Para ler crônicas, clique [aqui]


.....................................................................
Webston Moura
, administrador deste blog, é Tecnólogo de Frutos Tropicais, poeta e cronista. Natural do Ceará, Brasil, mora no município de Russas, na região do Vale do Jaguaribe. Aprendiz de Teosofia, segue a Loja Independente de Teosofistas - LIT. Tem apreço por silêncio, música, artes plásticas, bichos e plantas. É também administrador dos blogs O Caderno Livre e Só Um Transeunte.
..............................................................................


Estranhas Figuras Na Paisagem do Areal



Figures In A Moroccan Landascape (1954)
- Brion Gysin



Longe,
estranhas figuras atravessam a paisagem do areal.

Estranhas não por o serem mesmo,
mas porque distantes de tudo o que eu possa tocar.

Os outros, se ainda mais outros, são novidades
às quais nem sempre estamos abertos.

E podemos estar bastante errados
quanto a isso.

|Autor: Webston Moura|

.................................................
Leia outros posts:


.....................................................................
Webston Moura
, administrador deste blog, é Tecnólogo de Frutos Tropicais, poeta e cronista. Natural do Ceará, Brasil, mora no município de Russas, na região do Vale do Jaguaribe. Aprendiz de Teosofia, segue a Loja Independente de Teosofistas - LIT. Tem apreço por silêncio, música, artes plásticas, bichos e plantas. É também administrador dos blogs O Caderno Livre e Só Um Transeunte.
..............................................................................


sexta-feira, 13 de dezembro de 2024

A Inocência



Landscape (1976) - Petre Abrudan


O inocente é o puro. Não que se possa ser inteiramente puro como se imaculado fosse. Mas, se possível, estar inocente de más intenções, procurar exercitar a vontade nisto, apesar dos convites ao erro e ao mal.

Em geral, orgulhamo-nos de outras qualidades, não destas como ser inocente e ser bom. A cultura geral, esta que vivemos em sociedade, é tão nociva e decadente que uma pessoa é capaz de orgulhar-se da esperteza que aplica em prejuízo de outras, já que a inocência e a boa-vontade não parecem lá muito vantajosas.

Mas, seja como for, necessitamos recuperar em nós a capacidade da inocência, como a da coragem, para podermos conviver melhor com nós mesmos e uns com os outros.

A inocência também nos serve para termos olhos de criança sobre a vida, o que é dizer ter abertura para a novidade. A alma insistentemente cismada, na defensiva, está fechada à novidade e, assim, à transformação, pois renunciou à capacidade de voltar a ser inocente.

A inocência, que não deve ser confundida com a tolice, é, sim, uma qualidade para se possa enfrentar a selvageria dos corações desta atualidade.



|Autor: Webston Moura|

.................................................
Leia outros posts:


.........................................................
Para ler reflexões, clique [aqui]
Para ler crônicas, clique [aqui]

.....................................................................
Webston Moura
, administrador deste blog, é Tecnólogo de Frutos Tropicais, poeta e cronista. Natural do Ceará, Brasil, mora no município de Russas, na região do Vale do Jaguaribe. Aprendiz de Teosofia, segue a Loja Independente de Teosofistas - LIT. Tem apreço por silêncio, música, artes plásticas, bichos e plantas. É também administrador dos blogs O Caderno Livre e Só Um Transeunte.
..............................................................................


A Espera



Untitled (1974) - Clyfford Still



Às vezes,
dentro de mim,
a palavra não existe.

Só há o leve furor
de um coração desejoso
em dizer.

Às vezes,
dentro de mim,
o poema é só matéria em caos,
tempestade de sombras e baderna,
                         fala impossível,

Então,
espero.
Sem saber se virá,
espero.



|Autor: Webston Moura|

.................................................
Leia outros posts:


.........................................................
Para ler reflexões, clique [aqui]
Para ler crônicas, clique [aqui]

.....................................................................
Webston Moura
, administrador deste blog, é Tecnólogo de Frutos Tropicais, poeta e cronista. Natural do Ceará, Brasil, mora no município de Russas, na região do Vale do Jaguaribe. Aprendiz de Teosofia, segue a Loja Independente de Teosofistas - LIT. Tem apreço por silêncio, música, artes plásticas, bichos e plantas. É também administrador dos blogs O Caderno Livre e Só Um Transeunte.
..............................................................................