segunda-feira, 23 de dezembro de 2019

UMA PINTURA DE MONET


Women in the garden (1866) - Claude Monet



Alto, um elevado,
um morro e uma escadaria.
Ao final da tarde, à sombra da luz morna,
você, à brisa, ouvindo Parole, Parole
na voz da Paula Toller.
Suave, em câmera lenta, vira o rosto
e me vê, olhos nos olhos, e me sorri,
uma pintura de Monet.


│Autor: Webston Moura│

UM TOQUE DE INFINITO



Birds (1926) - MC Escher




Quando amanhece,
ali, no entre-horas de escuro e claro,
escuto os pássaros, muitos, seus cantos unidos.
Parece-me, então, tudo ser pássaros,
ou melhor, seus cantos espalhados no ar,
como se toda a realidade isto fosse.
Parece-me, pois, um toque de infinito,
com se um oceano de sons se
levantasse sobre a cidade
e lhe tomasse todos os sentidos.


│Autor: Webston Moura│


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Webston Moura
, administrador deste blog, é Tecnólogo de Frutos Tropicais, poeta e cronista. Natural do Ceará, Brasil, mora no município de Russas, na região do Vale do Jaguaribe. Aprendiz de Teosofia, segue a Loja Independente de Teosofistas - LIT. Tem apreço por silêncio, música, artes plásticas, bichos e plantas. É também administrador dos blogs O Caderno Livre e Só Um Transeunte.
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Coisas-Descoisas



Composicion (1933) - Maruja Mallo




Água-marinha,
o canto do pintassilgo,
vela e vento,
Cristina sob o sol.

Algum abril sereno,
cambraia rara,
Sírius,
sonatas sonhantes,
dez cavalos em disparo.

Lugares que somos e não sabemos saber,
esta trança de coisas-descoisas da alma.


│Autor: Webston Moura

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Webston Moura
, administrador deste blog, é Tecnólogo de Frutos Tropicais, poeta e cronista. Natural do Ceará, Brasil, mora no município de Russas, na região do Vale do Jaguaribe. Aprendiz de Teosofia, segue a Loja Independente de Teosofistas - LIT. Tem apreço por silêncio, música, artes plásticas, bichos e plantas. É também administrador dos blogs O Caderno Livre e Só Um Transeunte.
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Cidade




Avessos Encadeados/Ombre (1970)
- Lourdes Castro



Esta cidade, antes por mim sabida,
agora me estranha com cercas elétricas e sisudez.
Árida em seu estar, guarda os corre-corres
e já não pousa – espatifa-se em lugares de não se habitar.

Antes casa,
agora exílio,
é construto de deter e machucar.

Cidade máquina, cidade caos,
teu mistério reduz-se a homens ávidos,
embora os pássaros ainda te ofereçam rumor,
e alguma moça, antiga de coração, dê graça de flor numa janela.




│Autor: Webston Moura

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Webston Moura
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terça-feira, 17 de dezembro de 2019

SOBRE COMO MACHADO DE ASSIS FOI RECEBIDO PUBLICAMENTE



Escritor Machado de Assis

A revista da Fapesp (versão online), na edição 284 (outubro de 2019), traz uma matéria sobre como o escritor Machado foi recebido publicamente: "Revisitando Machado de Assis - No marco dos 180 anos de seu nascimento, pesquisa evidencia como o romancista passou de escritor deslocado a autor central na tradição literária brasileira". Quem assina é Christina Queiroz e o link está "aqui". Há ainda um vídeo, onde o pesquisador Hélio de Seixas Guimarães comenta as opiniões de outros escritores sobre Machado de Assis, opiniões nem sempre "amigas", diga-se. O link está "aqui". Vale conferir tudo!

ESTRANHAMENTO



http://projetopassofundo.com.br/



por: Tânia Du Bois

Dia após dia sinto-me estranha. Não enxergo o horizonte, nem escuto os pássaros. Escuto as vozes em tom baixo e sem força. Meu dia é longo, curta a noite. As cortinas estão fechadas. Estaria passando pela minha intransparente solidão? Nas palavras de Álvaro Pacheco, “...Na minha vida que passa / eu passo do reencontro / dos tempos que me matei: / não cumpro as missões jacentes / dos fatos de alegrar-me: / minha sina é entristecer-me...”.

Escuto na insônia o lamento da vida, quando minhas outras vozes meditam no escuro do quarto. Traço linhas; escrevo sobre o silêncio que espreita a minha vida entre tentativas infrutíferas de bem estar.

Estranho é o mistério quando sigo minhas ruínas até o tempo remontar meu pequeno sonho: seguir as luzes para poder distinguir nas sombras a hora da verdade. Ainda em Álvaro Pacheco, “...Apenas a solidão / se comunica conosco: / é sofrer nas almas / esse meio e fim / (e sobreviver, ah, sobreviver)”.

É necessário resistir à estranheza temporal que diz que fui conquistada: minhas forças estão fracas. A vida me leva em altos e baixos nas várias cores da solidão. Ás vezes, penso em não mais ficar sem quem me convença a procurar parâmetros que multipliquem meus sentidos, para marcar o tempo e determinar as causas do estranhamento nos meus dias. Estaria nas pequenas coisas a grandeza da vida? Ou, como Álvaro Pacheco reflete, “...a vida nos desgasta / nessas repetições cruas / não não / nos habituamos jamais”.


│Crônica constante de Na Sombra dos Sentidos (Projeto Passo Fundo, 2019), de Tânia Du Bois.

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Leia também:
- JOGO EMOCIONAL (I)
- TRAÇOS INSTIGANTES
- AUTÓPSIA DO INVISÍVEL
- O REFLEXO COMPLEXO EM SI...
- A LUMINOSIDADE DO ESCURO
- MOSAICO DE RUÍNAS
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