Chorar em etrusco ou na varanda,
porque em mim já não caibo.
É fim de tarde: na rua, passam, lentamente,
umas senhoras, suas dores (quase) amansadas,
dores que se convertem em diabetes
e
hipertensão
e o mais que os seus silêncios de mães
não pronunciam senão por olhares cabisbaixos.
Levam seus rosários; vão à missa.
eu as vejo com meus olhos já envelhecendo;
eu, que inda agora era jovem e supunha mudar o mundo,
quando sequer arranhei o muro,
exceto por umas insinuações poéticas.
(No alto céu, a noite a cair num cinza-azulado
em que o íntimo extasia a estrela e o pudor.)
Noutro tempo, longe,
plangem violões uma serenata:
escuto um nome ― Maria ―,
talvez aquela que,
no futuro,
nem mais se lembre de flor e vênus,
posto haver-lhe apenas sangue nas mãos,
sal não-bendito
e vermelho, todo forte.
Adentro a casa em que moro,
vou à cozinha e sorvo uma dose de cachaça.
e, súbito, a voz que, em última esperança,
anuncia uma canção mínima:
estamos vivos no prezo do respirar.A vida passa, sei, respirando.
│Autor: Webston Moura │
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Webston Moura, administrador deste blog, é Tecnólogo de Frutos Tropicais, poeta e cronista. Natural do Ceará, Brasil, mora no município de Russas, na região do Vale do Jaguaribe. Aprendiz de Teosofia, segue a Loja Independente de Teosofistas - LIT. Tem apreço por silêncio, música, artes plásticas, bichos e plantas. É também administrador dos blogs O Caderno Livre e Só Um Transeunte.
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