Aguarela: Into The Mystic, de Sarah Yeoman |
Sempre vivemos
para além
da memória
apesar do lapso apunhalando o tempo
da memória
apesar do lapso apunhalando o tempo
Porque antes fomos
connosco noutra hora, e agora
voltamos quando já nos esquecemos
connosco noutra hora, e agora
voltamos quando já nos esquecemos
Onde fica a fissura, a brecha
por onde passámos
a chegarmos de novo ao nosso presente
por onde passámos
a chegarmos de novo ao nosso presente
Infringindo as regras das horas
improváveis
hoje igual a ontem, já inexistente
improváveis
hoje igual a ontem, já inexistente
Partimos e tornamos na nossa
eternidade
assim a repeti-la num infindo repente
eternidade
assim a repeti-la num infindo repente
Perdidos um do outro sempre
a regressarmos, revertendo
a queda que nos ata e desprende
a regressarmos, revertendo
a queda que nos ata e desprende
Onde está o estilete de cravar
no peito, onde está
o incêndio, onde está o veneno?
no peito, onde está
o incêndio, onde está o veneno?
Tanta imprudência que jamais
revelamos, calando
um ao outro aquilo que queremos
revelamos, calando
um ao outro aquilo que queremos
Fugaz a madrugada volta a luzir
no espaço, entre o prazer
aceso e o lento segredo
no espaço, entre o prazer
aceso e o lento segredo
Efémeros os sentimentos
que depois se refazem
como se dissolvem as paixões ardentes
que depois se refazem
como se dissolvem as paixões ardentes
Apesar das tormentas,
para sempre voamos
século após século no ressalto dos ventos
para sempre voamos
século após século no ressalto dos ventos
│MARIA TERESA
HORTA, in ESTRANHEZAS (D. Quixote, 2018)
│Da página Quem lê Sophia de Mello Breyner Andresen