sábado, 28 de setembro de 2024

Nós e a Política





Muito se gasta nas campanhas eleitorais. Mas, a bem da verdade, o meio político é, o tempo inteiro, uma orgia de dinheiro pra lá e pra cá. Orgia que alegra, enlouquecidamente, aos participantes, comumente homens.

O que geralmente dizem, sobre se importarem com as pessoas, isso é apenas o jogo de cena que a política oficial requer. É uma farsa, um teatro. E todos sabemos disso há tempos. E também sabemos que, em qualquer época, o poder tem disso: uma luta rica, cheia de recursos materiais e ambição desmedida, aonde egos se digladiam, para ver quem vence. A realidade que se dane.

sexta-feira, 27 de setembro de 2024

infância



para Maria Alice,



Tínhamos um pé de maxixe e um cavalo chamado Tempestade.
Antes de nós ele havia se chamado Trovão.
Comíamos pirão uma ou duas vezes por semana.
E colhíamos goiabas na varanda.
Tínhamos uma rede alvinegra.
Um lugar onde acendíamos fogueira quase todos os dias.
Uma cadela chamada Paçoca.
E um céu cheio de estrelas pairando sobre nós.
Tínhamos um rio que dormia e acordava ante nossos olhos.
E uma pequena cobra coral de estimação.
Brincávamos com as palhas dos milhos juninos.
Fazendo toda a família do Visconde de Sabugosa.
Uma vez ao ano seu Toróró nos trazia jabuticabas colhidas no terreiro.
E líamos muito. Líamos livros e folhas de plantas.
Estávamos cercados por juremas.
Fomos alguma vez a Cordisburgo.
E a tantos outros lugares que parece que não fizemos outra coisa senão viajar.
Assávamos carne aos fins de semana.
Nos divertíamos no balneário da Pitanga.
Íamos à praia do Montecristo sempre.
E éramos vistos muitas vezes nas Cabaceiras do Paraguaçu.
Depois adotamos João e não pararam mais de nascer cães em nossa casa.
Ganhamos uma gata de nome Judite que sempre recebia visitas de um gato que chamamos Anônimo.
Judite passou três dias debaixo da cama.
Não saia nem para comer.
Até que decidiu ficar e nunca mais voltou para debaixo da cama.
Depois veio a Pina, o Garfield e o Dino.
Seguíamos comendo maxixes e sonhando.
Seguíamos comendo pirão e sonhando.
Até que veio Ian, a cigana e tudo o mais que já sabemos.
Até que veio Larissa, Assucena e todas essas janelas que se abriram.
Ontem teve eclipse.
Eliana cobriu-se por alguns instantes com o véu das sombras.
Fiquei olhando como quem olha um espelho maravilhoso.
E vi novos maxixes nascendo entre as orelhas de Tempestade.
E vi cada uma das mil chuvas viradas que enchiam nossa casa de água.
E vi você caminhando entre pedrinhas amarelas e galáxias desconhecidas.
Uma onça te guiava entre despenhadeiros e montanhas.
Fiquei olhando como quem olha uma caverna.
E vi você ninando Assucena com as histórias do jaguar encantado.
Depois veio a Cristalina, o Come-e-Dorme e o Waldick.
Depois veio o Calabouço, o Álbum de família e o Dicionário.
E pouco antes do sol nascer essa infância foi se encarnando em letras azuis no papel.

nuno g.

Toróró, 18/09/24


|nuno g. é Nuno Gonçalves, historiador, professor e poeta. Seu blog é a Insensata Nau: https://insensatanau.blogspot.com/


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Webston Moura
, administrador deste blog, é Tecnólogo de Frutos Tropicais, poeta e cronista. Natural do Ceará, Brasil, mora no município de Russas, na região do Vale do Jaguaribe. Aprendiz de Teosofia, segue a Loja Independente de Teosofistas - LIT. Tem apreço por silêncio, música, artes plásticas, bichos e plantas. É também administrador dos blogs O Caderno Livre e Só Um Transeunte.
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terça-feira, 24 de setembro de 2024

Nostalgia



Storm Clouds, Maine (1906) - Marsden Hartley



Nuvens de tempestade, mas não te assustes, que é só a pintura acima. Storm Clouds, no original. Repare no estilo! Chama-se pontilhismo, pois o artista pinta unindo pequeninos pontos, completando, pouco a pouco, a imagem.

Vertigem



Vertigo (1988) - Gunther Forg



Vertigem,
esta mosca
indo e vindo
no calor da tarde.

O Rosto que o espelho
não reflete, inteiramente,
o mínimo instante
                 antes
da laranja cair
da laranjeira.

Vertigem,
onda que subleva as cores
contra o nada, oscilação
do pensamento, sono
derretido sob o sol,
corpo cada vez menos,
ponte balançando
sob o peso do trem.





|Autor: Webston Moura|

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Rosa



Untitled Pink Monochrome (1960) - Yves Klein



Rosa,
apenas rosa.

Não a flor,
que por aí brada,
mas a cor distribuída no geral da vida.

A blusa resplendente,
o chaveiro, cabelos de adolescente,
cortinas de um pobre AP.

Rosa,
performance que não cansa,
parede de rua, sinal,
raridade da Mongólia,
                   batom.

O que anda
e o que não,
rosa de toda sorte,
alegria e choque,
sem demasias mais.


|Autor: Webston Moura|

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segunda-feira, 23 de setembro de 2024

Arcanos Grávidos - poesia & outras águas | 10 anos!





Hoje, 23 de setembro de 2024, o blog Arcanos Grávidos - poesia & outras águas está completando 10 anos de existência nesta plataforma (Blogger.com).

Aqui, a primeira postagem foi o poema "Entardecer", do poeta gaúcho Pedro Du Bois, amigo que partiu no ano de 2021, vitimado pela Covid-19. Atualizei algumas coisas no post, sem mexer, obviamente, no poema, coloquei uma ilustração bonita, para ficar mais legal.

Sou especialmente grato aos que contribuíram com este empenho e aos que, dia a dia, visitaram e continuam visitando este trabalho!

Sigamos em frente!

Que venham outros 10 anos!

Um fraterno abraço!

Webston Moura
- O Editor -


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terça-feira, 17 de setembro de 2024

Marítimo Entardecer



Atardecer Marino (1983) - Alejandro Obregón


Não a noite,
mas seu prenúncio:
o instante preguiçoso
com a tarde terminando
e o céu refazendo
os matizes todos.

Tudo é este ainda,
com borrões laranjas
esculpindo brisas
pelo horizonte.

Descansadamente,
a vida acontece,
sem nada insistir.

Longe, um barco vai,
sem sair do azul.



|Poema da Série "Mar" - Autor: Webston Moura|

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sábado, 14 de setembro de 2024

Não Sou Pessimista



Montanha dos Cinco Tesouros (1933) - Nicholas Roerich 


Posso, às vezes, ficar triste e desanimado, mas, decididamente, não sou pessimista. Acho, inclusive, que os pessimistas se consideram "um espetáculo à parte", pois "eles é que sabem das coisas", né?

Algo que me ajuda a não ser pessimista, é a Teosofia, uma Escola de Sabedoria calcada na ideia de se buscar o melhor que o ser humano produziu, produz e, consequentemente, foi e é. Eu, que nunca tive, oficialmente, uma religião, encontrei neste caminho o meu, sendo a Teosofia a "Religião da Sabedoria", um imenso campo aberto à multidimensionalidade do conhecimento humano, objetivando a melhoria do ser de cada um e, portanto, do todo, o social, o coletivo, o planetário.

sexta-feira, 13 de setembro de 2024

A prodígio do violino Chloe Chua toca o virtuoso Vivaldi na final do Menuhin | Classic FM





"Nas finais júnior da Competição Menuhin de 2018, a violinista de Cingapura Chloe Chua, de 11 anos, levou tudo para casa com esta interpretação virtuosa de "Winter" de Vivaldi. Fundada por Yehudi Menuhin em 1983, a Competição Menuhin é a principal competição internacional do mundo para jovens violinistas."


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quinta-feira, 12 de setembro de 2024

Desaparição



Untitled (2011) - Mostafa Dashti



Ninguém.
Nada.

Só o vento forte
e a porta batendo.

É doce o milharal,
fundo de tudo,
depois da casa.

A cadeira de balanço,
velha arte enegrecida
pela chuva e pelo sol,
resiste.

Nenhuma comida
na cozinha ou na dispensa.
Ratos e pássaros a dividiram
                     com insetos.

O galo canta,
mas não está.

A sinhazinha não trará leite.
Nem a criança me sorrirá.

Dizem que a lua chora,
ao se pôr em brilho
sobre tanta desaparição.



|Autor: Webston Moura|

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Mirar



Painting (1925) - Joan Miró


Não dizemos mirar. No sentido de ver e observar, não. Mas é tão bonito! Mirar. A mim me parece mais se apossar daquilo que se observa, tendo-se, talvez, alguma intenção de se aproximar. É mais íntimo. Sensual até. Claro, isso é subjetivo de minha parte.

quarta-feira, 11 de setembro de 2024

As Ilhas



Corfu (1989) - Patrick Proktor



As ilhas são exílio,
dimensões outras
do espaço nosso.

Como Corfu,
ilha Jônica
de azulíssimo céu
e águas claras.

As ilhas,
como Corfu,
se assim olhadas,
são auto-desterros
que podemos usar,
se é que podemos.

Quem nelas nasce, de tédio vive,
por ser dali acostumado.

As ilhas são exílios,
a que nos damos,
se o pudermos.
Se não pudermos,
nós mais sonhamos,
se assim nos cabe.

Como Corfu,
esta que toco,
mas só com os olhos,
sem me dar mais
destes tão-longes
de sonho e paz.





|Autor: Webston Moura|

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