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segunda-feira, 13 de novembro de 2023

Ode à Cachoeira



Existem cidades que são somente cidades

Lugares onde as pessoas vivem
Outras cidades são prólogos, prefácios, pequenos pressentimentos
Existem cidades que são somente lugares
Onde as pessoas vêm e vão
Como as algas marinhas
Ao sabor das marés
Outras são como oráculos encravados à flor da terra
Nos recordando quem somos, de onde viemos e para onde vamos
Existem cidades que são feitas de fogo e água
Nelas não habita o acaso
As esquinas gritam e sussurram a depender de coisas que nos escapam
Existem cidades que são somente cidades
Onde os sonâmbulos caminham
Outras acendem escuros e abrem túneis debaixo da crosta do corpo
Existem cidades que são só passagem
Outras são ancoradouro de rios e galáxias
Existem cidades onde tudo é espera
Lugares onde tudo que acontece recorda a presença do Nada
Outras são todas elas presságio
Reminiscências do mistério que nos acompanha desde o berço
E memória profunda da morte que nos aguarda.

nuno g.
Toróró, 12 de novembro de 2023.


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Webston Moura
, administrador deste blog, é Tecnólogo de Frutos Tropicais, poeta e cronista. Natural do Ceará, Brasil, mora no município de Russas, na região do Vale do Jaguaribe. Aprendiz de Teosofia, segue a Loja Independente de Teosofistas - LIT. Tem apreço por silêncio, música, artes plásticas, bichos e plantas. É também administrador dos blogs O Caderno Livre e Só Um Transeunte.
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quarta-feira, 28 de outubro de 2020

voto de pobreza - a mala.



Raimundo era padre, vivia em Minas.
Todos os anos vinha nos visitar.
Minha avó, sua cunhada, cozinhava doce de ameixa.
Comíamos com banana batida a garfo.
Ele me ensinou a ler e escrever cartas.
E a olhar as estrelas depois do jantar.
Era o único em que ele e o irmão, meu avô, coincidiam.
Os dois olhavam estrelas após a janta.
Todos os anos Raimundo trazia uma velha mala.
Voltava sempre com uma nova, presente familiar.
No outro ano regressava com uma mala ainda mais velha.
Raimundo morreu atropelado.
E até hoje espero religiosamente suas cartas.



│Poema de Nuno Gonçalves.
│Do blog Insensata Nau: http://insensatanau.blogspot.com/