domingo, 11 de agosto de 2024



Untitled (2002) - Mostafa Dashti



Por onde entra
a verdade da palavra
cujo idioma ignoro.

Esse verde dos teus olhos,
beleza que me aterroriza.

E a pronúncia de tudo o que me lembra
                  avelã, hortelã, romã, imã.

Nome, o teu,
escrito a fogo na minha memória.

E o cheiro que,
a cada manhã,
invade o meu jardim.

Nó.




|Autor: Webston Moura|

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Webston Moura
, administrador deste blog, é Tecnólogo de Frutos Tropicais, poeta e cronista. Natural do Ceará, Brasil, mora no município de Russas, na região do Vale do Jaguaribe. Aprendiz de Teosofia, segue a Loja Independente de Teosofistas - LIT. Tem apreço por silêncio, música, artes plásticas, bichos e plantas. É também administrador dos blogs O Araibu e Só Um Transeunte.
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quinta-feira, 8 de agosto de 2024

Barcos ao Sol



Boats in Sunligaht (1907) - Umberto Boccioni



Vão e voltam,
são de curtas distâncias.

A mim, são mais de beleza que de uso,
atracados, balançando-se, dançando,
como flores artificiais sob a impiedade do sol.

Barcos,
como os desejos nossos,
sujeitos aos ventos,
à incerteza, aos enganos,
mas eivados do bem que possamos ter.





|Poema da Série "Mar" Autor: Webston Moura|

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Webston Moura
, administrador deste blog, é Tecnólogo de Frutos Tropicais, poeta e cronista. Natural do Ceará, Brasil, mora no município de Russas, na região do Vale do Jaguaribe. Aprendiz de Teosofia, segue a Loja Independente de Teosofistas - LIT. Tem apreço por silêncio, música, artes plásticas, bichos e plantas. É também administrador dos blogs O Araibu e Só Um Transeunte.
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Aos Toques de Clarim




O Mandacaru e Suas Flores,
simbolo do Nordeste



Não apeie o cavalo na estrada.
A vida requer persistência.
Pois é dura a caminhada:
Sangue, suor, paciência.

Ponta de espinho,
Vereda torta,
Dor que aborta
Bicho no ninho.

A flor trago no peito,
Regada do meu jeito,
Pois tenho o direito
De germinar o amor
No escombro do jardim
Podado por metralha
Ou fio de navalha,
Aos toques de clarim.

Como se fosse pecado,
Ideia nova, nociva
Falar em voz ativa,
Falar em voz ativa.

A flor trago no peito,
Regada do meu jeito,
Pois tenho o direito
De germinar o amor
No escombro do jardim
Podado por metralha
Ou fio de navalha,
Aos toques de clarim.


|Autores: Aulícino Mendonça, Edney, Hider Albuquerque e Webston Moura

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Nota do editor do blog:

Esta é a letra de uma música feita nos anos 1990. Guardei-a de cabeça e não lembro, ao certo, se o título é este, como espero não ter esquecido de parte da letra, creio que não. Aqui posto como homenagem especial ao Aulícino Mendonça, um meu amigo, filho de família de Russas, do Seu Antônio e da Dona Zildete, pessoas amáveis. Infelizmente, ele, Aulícino, sumiu desde o ano de 2002. Ele era geógrafo, poeta, autor de um livro artesanal chamado "Concreto Existencial". Era também amante das artes, em geral, fã de Belchior, Fagner, Zé Ramalho, Geraldo Azevedo, Xangai, Vital Farias e Elomar, como de outros de igual estatura. Era entusiasmado com a beleza da VIDA. Caso não esteja mais neste plano, desejo que ele esteja muito bem, nos braços da paz. A imagem do mandacaru e suas flores deve-se ao fato de Aulícino ser fã da cultura nordestina. Por isso, a escolhi.

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Lobão | "Chorando no Campo"





Gosto da música do Lobão, desde os anos 1980, quando eu era uma adolescente. Esta, "Chorando no Campo", faz parte do disco "Vida Bandida".

Escute aí! 👍 


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terça-feira, 6 de agosto de 2024

As Tão Presentes Coisas Invisíveis



Sunday (1926) - Edward Hopper


Edward Hopper fez pinturas como esta que você vê acima. E o título, "Domingo", sugere aí folga e tédio, possivelmente, também, cansaço. Vê-se apenas um homem sentado na calçada, perto do meio-fio, com uma atitude tristonha, parada. Excetuando-se a presença dele, a rua está deserta, sem passantes.

As cores, como em outras pinturas do artista, são claras, objetivas, unindo, simultaneamente, um realismo a algo artificial, como percebemos bem, já que não é uma foto, mas uma pintura, óleo sobre tela, isto fica claro, apesar do realismo da expressão.

Lavrando Este Silêncio



A Peasant Woman On A Path Along A Canal (1907)
- Cornelis Vreedenburgh



"Sou talvez a visão que alguém sonhou,
Alguém que veio ao mundo pra me ver
E que nunca na vida me encontrou."
- Florbela Espanca, in "Eu"





Passo por aqui, lavrando este silêncio.
Não fosse a água e os pássaros, tudo estaria só.





|Autor: Webston Moura|

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domingo, 4 de agosto de 2024

Querer Paz



The Low Lighthouse and Beacon Hill ((c.1820)
- John Constable


Estando-se na praia, não se vê o outro lado, o depois de todo o mar, a terra que lá há. Vê-se horizonte sobre horizonte, como se não tivesse fim. É como observar o céu, com todo o seu esplendor de estrelas, dimensão de tamanho incalculável, sugerindo mistérios.

O infinito, ou a ideia dele, nos dá paz. Porque somos parte dele e tudo está interligado. Da mesma forma, observar um rio correndo, água sobre água, sinfonia natural, também nos aquieta.

Os Rumores



The rumors (1939) - Paul Klee


Os rumores hão de acontecer, obviamente e sempre. Como as águas que se renovam, ciclo a ciclo, como se vê. Os rumores de que o tempo passa e o calor aumenta, à medida que envelhecemos nesta varanda. Os rumores estão nas ruas e na TV. São veementes em bocas dissimuladas. Erguem verdades de papel. E derrubam fatos sob o sol. Desconfio de que a verdade, ela mesma, está bastante empoeirada, debaixo de todo o entulho de nossas vidas vazias e do insano desejo de poder.

Já é segunda-feira em Bangladesh. E o relógio marca 04: 47.


|Autor: Webston Moura|

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O Tumulto das Notícias






Existem canais de TV que transmitem notícias 24 horas por dia. E, para completar, ainda há aqueles momentos que reúnem comentaristas em torno de um assunto, leriando sem parar, numa miríade de interpretações e pormenores que, ao fim, desnorteiam completamente o telespectador, deixando-o nervoso e aturdido.

É jornalismo, então é serviço, como se costuma dizer. Mas, se pensarmos melhor sobre o significado de "serviço" e compararmos o resultado com nossos estados emocionais, após assistirmos à essas "maratonas de informação", chegaremos à conclusão que aquilo não nos serve, no sentido de nos prestar um serviço que resolva algum nosso problema. Assim sendo, é estranho chamar tal trabalho de serviço.

Eduardo Moreira Explica Porque os Bancos São os Maiores Vilões do País





"Me fala uma coisa que banco produz. Banco não produz nada. Banco não produz uma alface. Banco não monta um computador. Banco não produz uma cadeira. Banco não conserta um carro. Banco é só um caminho por onde o dinheiro vai de um lugar pro outro."
- Eduardo Moreira



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terça-feira, 30 de julho de 2024

Mulheres no Mar



Women at the sea (c.1891) - Jan Toorop


No mar, bem não;
perto, à beira.

Mas, se praia já é mar,
então sim, mar aí está,
             - e elas nele.

Mulheres no mar.

Choram?
Não sei.

Quietas,
o vento frio as faz solidárias:
abraçam-se, ao menos isto parece.

E compartem suas vidas,
o que em casa ficou à espera,
somando-se isto aos sonhos sem força,
                    que, a custo, carregam.

Com gentileza,
irão se despedir umas das outras,
chegada a hora de voltar à casa,
seus olhos com sabor de sal e devaneios,
suas mãos mais vazias da dor de existir,
menos sós, menos sós, bem menos.

|Poema da Série "Mar" Autor: Webston Moura|

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A Imensa Constante de Tudo o Que Existe



The Muses (1893) - Maurice Denis


Sempre que eu olhar para uma pintura, verei a mesma e outra, simultaneamente. O que muda, o olhar, é a parte a que devo prestar mais atenção. Meu olhar! E se sou capaz de olhares novos, significa que sou capaz de mudar, crescendo nalguma direção.

Como sei que, inevitavelmente, mudo, posso escolher, conscientemente, para onde seguir, abrindo um flanco na obscuridade (o futuro), a partir do presente. Acertarei, errarei e até, talvez, nem conseguirei o que intente. Mas, que é a vida senão tentar?

Sempre que eu olhar para uma pintura, ela, paisagem diante de meus olhos, haverá de me ensinar algo para o que estarei atento ou distraído.

Acho que somos impostores quando não entendemos disso, da mudança. Ainda mais quando sabemos que, dentre tantas coisas que consideramos realidade, ela, a mudança, é a imensa constante de tudo o que existe. Tudo muda! Mesmo que não alcancemos a feição geral do acontecimento, do objeto, enfim, da pintura, a verdade é que existe um fogo varrendo a realidade, transformando-a noutra, o tempo inteiro, com todos nós no meio.


|Autor: Webston Moura|

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