terça-feira, 3 de julho de 2018

CONSTATAÇÃO ÁCIDA NA HORA DO CAFÉ



É verdade, é muito verdade:
somos umas ilhas, agoniadas ilhas.

A quem nos dirigimos, cantos nervosos, nesses falares?

É verdade, é muito verdade:
estamos frágeis, por isso, armados,
armados de medo e de sobreavisos;
contando os prós, contando os contras;
perdendo a conta, o sono, a hora.

É verdade, é muito verdade:
o débito; a falta; o quase; o tudo
           ─ esta coisa de mil nomes
                        ardendo nas mãos,
             vida, seu chamado e sua insuportabilidade.


│Autor: Webston Moura│

CONFISSÕES NO DOCE DESERTO DA NOITE


Alma antiga, lembranças, tempo fluido:
este moço, agora envelhecendo, sou eu.
Há uma janela imaginada, mas muito clara,
donde olho, docemente, o que me acalma o sangue.
Fecho os olhos e sigo; sei que deve ser assim.
É o que sou, uma passagem, uma travessia alerta.

Escuto a noite, inteira noite,
coisa livre e oculta aos homens.
É quando, com total paz,
percorro Artur Verocai, 1972, sublime.
A música me toma.

À tarde, passeando com meu cão, pequeno cão,
observo sua alegria, que é como a minha.
A alegria sem soberba, a alegria simples.
Como meu cão, o ato de estar já me basta.
Estar entre as mansas coisas que me acolhem.
Como aquelas nuvens que o vento tange,
a gratuidade de suas existências.

Existir deveria ser sem muita intenção,
apenas ir-se estrada sob o sol, sendo.


│Autor: Webston Moura│

quinta-feira, 28 de junho de 2018

REVISTA PROPULSÃO (2018.1)


MENSAGEM DOS EDITORES DA REVISTA PROPULSÃO DIVULGANDO A MAIS RECENTE EDIÇÃO

Com alegria anunciamos a nova edição da
REVISTA PROPULSÃO: Prosemas, Mostrares e Artesanias.
ESTÁ NO AR, PESSOAL!


Neste número:
Alan Mendonça - Alves de Aquino - Amanda Vaz - Ana Cristina Moraes - Ana Novaes - Angela Caporaso - Blanca Varela - Cesar Garcia Lima - Dércio Braúna - Deribaldo Santos - Diogo Fontenelle - Ed Silva Quenoa - Emerson Bastos - Fátima Vale - Felipe Franklin - Gabriel Stroka Ceballos - Gleanne Rodrigues - Henrique Beltrão - Henrique Marques Samyn - Izabella Zanchi - Leticia Copatti - Liciany Rodrigues - Lílian Martins - Lúcio Flávio Gondim - Mailson Furtado - Manoel Carlos - Mônica Serra Silveira - Nonato Nogueira - Nuno Gonçalves - O Poeta de Meia-Tigela - Panfletári(x) Anônim(x) - Patrícia Gonçalves Tenório - Paulo Avelino - Raisa Christina - Ravena Monte - Raymundo Netto - Renan Dias - Renato Barros - Rosa Maria Mano - Rosana Piccolo - Silas Correa Leite - Suellen Lima - Tarcia Freitas Alcântara - Thayane Braide - Thaís Barbosa - Valdemar Neto Terceiro - Virgina Hiromi Fukuda Viana - Webston Moura



domingo, 13 de maio de 2018

NOVENA






O slogan do Djavan bem poderia ser “CADA VEZ MELHOR”, tal é a notória evolução de sua arte no tempo. Neste disco, “Novena” (Sony, 1994), a primeira música, “Limão”, inicia-se assim: “O véu luminoso do sol na bruma / Cobre a Serra molhada / Por um buraco na névoa / Vara a espada de luz / Libertando a terra, ao tocá-la”. Poesia, sua letra, mas não apenas. Poesia em tudo, em todos os aspectos, o que inclui a maneira com que Djavan canta. Em “”Aliás”, “Existem coisas que o amor diz / Com aquela coisa a mais / De quem é feliz / Joias caras produzidas no coração / Tiaras sem fim / Guardo essas luzes pra te servir”. Precisa mais? Sim, precisa ouvir, se é que já não ouviu. E, se ouviu, já guardou na alma.

SUA IMAGEM PLANTADA NO SILÊNCIO






Já vai alto o sol, mas ainda é manhã.
Hoje, dia de ócios, os homens se recolhem.
Seus pensamentos crescem e se afundam.
Uns, tristes; outros, serenos e leves.

Aqui, rua mais adentro,
onde, por sorte, não há bares,
nem outros quaisquer divertimentos,
apenas discretos pássaros chegam.
E os cães, com olhos mansos, nos olham.

Este é o tempo-ilha,
longinquidades,
léguas de sertão,
aquela casa de alpendres brancos
que se divisa e se deseja,
sua imagem plantada no silêncio
e seu todo desapego.


│Autor: Webston Moura│
Fonte da Imagem: Google Imagens

UMA GAIVOTA REPENTINA






(Pois que uma gaivota invade
o espaço e os nossos olhos seguem o voo
até ela sumir-se no escuro)

Como nunca os vemos,
dizemos ser a chuva e o tempo os nossos obstáculos.
Aqueles homens, invisíveis assim aos nossos olhos,
olhos desgastados, verdade se diga,
o que são, pois, para nós?
Os nomes aborrecidos que conseguirmos em nossas bocas.

E seguimos nós com os nossos secretos silêncios.

(Até vimos uma gaivota onde ela não poderia!)


│Autor: Webston Moura│
Fonte da imagem: Google Imagens

SECRETOS SILÊNCIOS






A rua deserta, chuva leve, noite.
Mas há um homem à beira do poste.
A luz o cobre, mas não o revela.

Por um instante, imagino sobre.
A singularidade, aquela vida.
Que história dali se poderia?
Casado? Solteiro? Gente de bem?
Pai? De longe? De perto?

Há mais homens em ruas desertas
e em quantas chuvas demoradas, embora leves.
E não os vemos senão secretos silêncios intransponíveis.
Nunca os vemos.


│Autor: Webston Moura│
Fonte da imagem: Google Imagens

sábado, 12 de maio de 2018

AQUELE INSTANTE ANTES DA CHUVA






[Enquanto escuto o lindo
Bright Size Life (1976),
de Pat Metheny,
especialmente a faixa “Sirabhorn”]

...............

Ao alto, o som da água caindo,
como se relógio fosse,
a caixa d’água no escuro,
madrugada úmida.

Vai chover.
Há calor espalhado, abafamento,
densidade crescente no ar.
Porém, estou protegido.

Decifro, a partir de uma antiga arte,
uma figura em vermelho, O Fantasma,
sua companheira, Diana Palmer,
e seu cão, Capeto.
Quadro a quadro, uma estória,
um lugar distante,
males que precisam de combate,
os ardis e, por fim, o desfecho.
Fantasia.

Perco o tempo, dizem,
pois, com esses passatempos de demoras tolas,
não estou a erguer os dias onde todos se congregam.

Mas,
pergunto eu aos homens-força
se já ouviram os tambores de Bengala na floresta.
Ouviram?

E, de pé,
com os olhos fechados,
nus em seus quartos,
girando leve,
souberam-se vivos,
assim vivos desprovidos de disfarces?


│Autor: Webston Moura│


Fonte da imagem: Google Imagens

AINDA BEM QUE TOCOU ESSA MÚSICA SUAVE






Sim, eu também tenho o meu “lado brega”, como se costuma dizer de todo aquele que, mesmo de modo leve, gosta do Roberto Carlos. Considero bons e agradáveis todos os discos dele do início da carreira até o final dos anos 1970. E este que comento é de 1978, quando eu era uma criança e seguia minha mãe nesta viagem sentimental naquelas manhãs em que ela ligava a velha radiola e colocava o vinil tocando alto. O álbum leva o nome do autor, como outros, coisa de rei, não é? Aos primeiros acordes de “Fé”, lá estava eu envolvido pela música. Com o passar do tempo e o amadurecimento, pude crescer meu coração para apreciar, com ternura, “A Primeira Vez” (canção que me lembra a primeira namorada), “Música Suave” ─ “Ainda bem que tocou / Essa música suave ? Eu posso dançar com você / Como no passado” ─, o clássico “Café da Manhã” e a misteriosa “Por fin Mañana”, onde se ouve: “Por fin, mañana / Tendré la dicha / De Tomarte entre mís brazos”. Meus caros amigos, caso possam, escutem, que hoje é sábado, um dia para relaxarmos um pouco e, quem sabe, reencontrarmos doces lembranças. Este disco é muito bom para isso. Acho que tem no youtube.

OBS.: O título do post é, por certo, versos de "Música Suave"

Fonte da imagem: Google Imagens

INSÍDIA






Invisíveis,
como os perfumes
ou os sentimentos,
aquele não-sei-quê
que alho não é,
tampouco laetitia indiana antiga,
ainda menos a docilidade das brisas,
estes todos venenos que a lei permite e o mercado impõe.

Para a nossa saúde & bem-estar.


│Autor: Webston Moura


_________________
NOTA DO AUTOR:
Poema inspirado num post do Greenpeace, lá no Facebook, cuja imagem peguei de empréstimo (a que se vê acima), e cujo texto (do post, obviamente) reproduzo a seguir:

"Esses deputados querem colocar mais veneno em nosso prato! O Ministério Público Federal diz que o PL 6299/2002 é inconstitucional. A ANVISA, a Fiocruz, o INCA, o IBAMA e o Conselho Nacional de Direitos Humanos repudiam o projeto. Mais de 100 mil pessoas e 300 organizações da sociedade civil são contra. Mas eles preferem ignorar a opinião dos cidadãos! Entenda e confira quem é a favor deste absurdo >> https://act.gp/2rAWy2P"

DE MÃOS VAZIAS






De mãos vazias,
como uma criança em primeiros passos,
para receber o susto que os trovões dão,
a surpresa dos ciclos naturais,
a paciência eficaz das lagartas sobre o milho.

De mãos vazias,
como uma criança domingando o tempo inteiro,
para viver ─ adultos dizem descobrir ─ e nada mais.

De mãos vazias:
assim, teus olhos me chegarão
e eu não terei analgésicos contra,
nem customizarei qualquer cor erguida espontânea.


│Autor: Webston Moura│

Fonte da imagem: Google Imagens

sexta-feira, 11 de maio de 2018

ÁSPEROS RUÍDOS






Gritos.
O branco da parede.
A luz que se vai crescendo, dia a dia.
Os sons, tantos sons, tantos, de onde chegam?

(De repente, tudo escuro)

Quem está aí?
A mão, estranha mão de homem escondido
              nas bem cuidadas folhas do Estado.

(Agonia)

Amanhã, quem sabe não haja uma chuva imensa,
chuva que derrube estas paredes e me leve,
me devolva aos olhos de quem deixei?
Era uma segunda-feira normal quando fui abduzido.

Que dia é hoje?
Em que ano estamos?


__________
NOTA:
Este despretensioso poema, escrito ainda hoje, veio-me por conta da matéria que vi sobre novas revelações acerca de execuções de presos políticos no período da Ditadura Civil-Militar (1964-1985), em especial durante o Governo do presidente Geisel. Afirmo que não devemos esquecer, pois assim podemos evitar repetir. Apesar das falhas, que são muitas, VIVA A DEMOCRACIA! Para mais, acesse o website MEMÓRIAS DA DITADURA: http://memoriasdaditadura.org.br/

segunda-feira, 23 de abril de 2018

"CONTOS DE AREIA", de Chico Alves d'Maria






O poeta e contista David de Medeiros Leite enviou-me, via Correios, este bonito livro do Chico Alves d’Maria, sua estreia em contos. Boas estórias, com o sabor das coisas nordestinas!

Chico Alves d’Maria é o atual pseudônimo de Francisco Alves Filho, nascido em Areia Branca-RN, 1955. É engenheiro, poeta, escritor, compositor, letrista, cantor e ator. Com o nome artístico de Kiko Alves, participou de vários festivais de música, como o Festival do SESI, FORRAÇO, FMPB, promovido pela FM Universitária e MPBeco, gravou dois discos autorais e teve participação em vários outros discos. Como ator, participou de espetáculos teatrais pela Stabanada Cia De Teatro e em comerciais de televisão, tendo também atuado como figurante no filme “O duelo”, lançado em 2015. Como poeta, publicou em 2016 o livro “Ancoradouros”. Agora, lança o seu primeiro trabalho em prosa, “Contos de Areia”. De sua autoria, lei os poemas neste link: https://arcanosgravidos.blogspot.com.br/2016/11/poemas-de-kiko-alves.html.

SERVIÇO:
Contos de Areia
Chico Alves d’Maria
Sarau das Letras
Contatos da Sarau das Letras:
Clauder Arcanjo: clauderarcanjo@gmail.com
David de Medeiros Leite: davidmleite@hotmail.com

domingo, 22 de abril de 2018

GÁBOR SZABÓ






Há anos conheci este excelente guitarrista de jazz, Gábor Szabó, natural da Hungria. Digo: ouvi sua música ─ e gostei muito! Em tempos de internet, com websites e blogs específicos sobre o assunto, poupo-me de oferecer a biografia do mesmo, pois o leitor (e ouvinte, obviamente) interessado há de encontrar referências. Minha breve nota enfatiza apenas a ideia de divulgar um pouco o músico e sugerir: escutem aí, amigos, este disco, o Belsta River (busquem no youtube). E vejam que música maravilhosa! Aqui e ali, sugerirei algo das músicas e músicos que aprecio e, se preciso, fazei algum comentário.