quinta-feira, 12 de setembro de 2024

Desaparição



Untitled (2011) - Mostafa Dashti



Ninguém.
Nada.

Só o vento forte
e a porta batendo.

É doce o milharal,
fundo de tudo,
depois da casa.

A cadeira de balanço,
velha arte enegrecida
pela chuva e pelo sol,
resiste.

Nenhuma comida
na cozinha ou na dispensa.
Ratos e pássaros a dividiram
                     com insetos.

O galo canta,
mas não está.

A sinhazinha não trará leite.
Nem a criança me sorrirá.

Dizem que a lua chora,
ao se pôr em brilho
sobre tanta desaparição.



|Autor: Webston Moura|

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Webston Moura
, administrador deste blog, é Tecnólogo de Frutos Tropicais, poeta e cronista. Natural do Ceará, Brasil, mora no município de Russas, na região do Vale do Jaguaribe. Aprendiz de Teosofia, segue a Loja Independente de Teosofistas - LIT. Tem apreço por silêncio, música, artes plásticas, bichos e plantas. É também administrador dos blogs O Caderno Livre e Só Um Transeunte.
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Mirar



Painting (1925) - Joan Miró


Não dizemos mirar. No sentido de ver e observar, não. Mas é tão bonito! Mirar. A mim me parece mais se apossar daquilo que se observa, tendo-se, talvez, alguma intenção de se aproximar. É mais íntimo. Sensual até. Claro, isso é subjetivo de minha parte.

quarta-feira, 11 de setembro de 2024

As Ilhas



Corfu (1989) - Patrick Proktor



As ilhas são exílio,
dimensões outras
do espaço nosso.

Como Corfu,
ilha Jônica
de azulíssimo céu
e águas claras.

As ilhas,
como Corfu,
se assim olhadas,
são auto-desterros
que podemos usar,
se é que podemos.

Quem nelas nasce, de tédio vive,
por ser dali acostumado.

As ilhas são exílios,
a que nos damos,
se o pudermos.
Se não pudermos,
nós mais sonhamos,
se assim nos cabe.

Como Corfu,
esta que toco,
mas só com os olhos,
sem me dar mais
destes tão-longes
de sonho e paz.





|Autor: Webston Moura|

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Webston Moura
, administrador deste blog, é Tecnólogo de Frutos Tropicais, poeta e cronista. Natural do Ceará, Brasil, mora no município de Russas, na região do Vale do Jaguaribe. Aprendiz de Teosofia, segue a Loja Independente de Teosofistas - LIT. Tem apreço por silêncio, música, artes plásticas, bichos e plantas. É também administrador dos blogs O Caderno Livre e Só Um Transeunte.
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segunda-feira, 9 de setembro de 2024

O Imaginário



Untitled - Wols



"No More Lonely Nights" é uma canção do Paul McCartney, constante do álbum "Give My Regards to The Broad Street", de 1984. David Gilmour, da banda britânica Pink Floyd, está presente nas guitarras. É um exemplo do que eu ouvia no rádio quando era adolescente. Sem a necessidade de que cantores e bandas tentassem me deixar excitado com letras "picantes" e dançarinas se esforçassem em rebolados, exibindo bundas, como hoje se vê, abundantemente.

domingo, 8 de setembro de 2024

Um Leopardo Prata



Ecriture No. 050520 - (2005) - Park Seo-Bo


Não sei disso o alfabeto, o caminho, a sinalização clara que diga para onde. Não sei disso mais que o estalo no ar, a presença viril, como um caju no cajueiro ou um lagarto sobre uma rocha. Não sei disso a reentrância do desejo, a intimidade molhada das coisas que, só íntimas, assim o são. Não sei disso de tomarmos café juntos e partilharmos as derrotas ou as conquistas. Disso sei como sei do andar da mulher na rua, pisando com sua elegância o olhar de quem estanca o passo e observa, sem revelar o coração ou o passado. Disso sei como quem sabe de um leopardo prata no escuro da noite, correndo, sozinho, total.



|Autor: Webston Moura|

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Cegueira



O cego (1913) - Egon Schiele




"Por vezes tudo se ilumina.
Por vezes sangra e canta."
- Herberto Helder, Poemacto - II



Entretanto,
se não vês,
é como se nada ocorresse,
é como se estivesses trancado
a uma jaula numa ilha remota,
sob a vigilância de teus algozes,
é como se dormisses na embriaguez
de quem sequer levantou a cabeça
para olhar o sol brilhando sobre as coisas.



|Autor: Webston Moura|

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Nem Tudo Faz Sentido



G-1 (1985) - Emil Schumacher


Há quem não goste desse tipo de arte. Refiro-me à pintura que você vê aí na postagem,  a tela G-1, de Emil Schumacher. Eu digo o contrário, digo que gosto, pois gosto tanto do que é figurativo como de outras formas, o que inclui esta maneira de pintar, que se chama Taquismo.

Ah, mas o que ela quer dizer? Não sei. Isso fica por conta dos estudiosos, de quem vai atrás. A mim, como pessoa que simplesmente se emociona, basta-me a comoção, o encantamento.