quarta-feira, 22 de janeiro de 2025

A Água Turva Correndo Veloz



The Palace of Windows Rocks (1942)
- Yves Tanguy



O verso não está ponto.

Procuro o caminho,
mas não há.

Falta-me a candeia
e o espanto.

O verso não está pronto,
as coisas ordinárias me tomam.

Procuro um rosto,
mas só encontro a massa geral,
a água turva correndo veloz.

O verso,
que seria ouro,
está na lama,
no fundo violento,
recusando-se a vir tomar sol
entre as falas e olhos de outrem.

O verso está com medo.
Ou está cansado.

|Autor: Webston Moura|

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Webston Moura
, administrador deste blog, é Tecnólogo de Frutos Tropicais, poeta e cronista. Natural do Ceará, Brasil, mora no município de Russas, na região do Vale do Jaguaribe. Aprendiz de Teosofia, segue a Loja Independente de Teosofistas - LIT. Tem apreço por silêncio, música, artes plásticas, bichos e plantas. É também administrador dos blogs O Caderno Livre e Só Um Transeunte.
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As Cores



Magician - Allan Tellez


Gosto das cores. Não entendo o porquê de haver oposição a uma cor, embora haja quem assim prefira. O ser humano é diverso.

Das primeiras coisas que uma criança se dá conta, cultivando aí afeto, as cores se destacam. Tudo o que é "miúdo" acaba por fazer parte do mundo da criança.

Na infância, o detalhe é tudo, pois o mundo do tumulto, das disputas, este não existe, ao menos de modo drástico como na vida adulta.

O que á aquilo? Um sapo. E aquela outra coisa? Uma bicicleta. E tudo que é passível de afeto, é positivo. As cores das paredes, das flores, das roupas, os diferentes matizes do céu.

Gosto das cores. Apenas gosto. Como quem olha a água e não a quer recurso, não a doma, tampouco logra saber-lhe o último mistério.

|Autor: Webston Moura|

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, administrador deste blog, é Tecnólogo de Frutos Tropicais, poeta e cronista. Natural do Ceará, Brasil, mora no município de Russas, na região do Vale do Jaguaribe. Aprendiz de Teosofia, segue a Loja Independente de Teosofistas - LIT. Tem apreço por silêncio, música, artes plásticas, bichos e plantas. É também administrador dos blogs O Caderno Livre e Só Um Transeunte.
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segunda-feira, 23 de dezembro de 2024

A Criança



Untitled (1978)
- Betty Parsons



A criança que fui, aonde está? Numa camada mais adentro, guardada da luz do dia, ainda me dizendo para brincar. E já que sou adulto, tento poesia, uma forma de acreditar que as palavras podem mais um pouco que simplesmente codificar uma comunicação. A criança que fui anda nas praias que inventa, viaja pelo universo, observa as árvores, sem lhes da preço em dinheiro. A criança em mim guardada necessita ir além da realidade, pois precisa sonhar. Não como quem nega o acontecido, o ordinário, mas como quem inventa e reinventa.


|Autor: Webston Moura|

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Webston Moura
, administrador deste blog, é Tecnólogo de Frutos Tropicais, poeta e cronista. Natural do Ceará, Brasil, mora no município de Russas, na região do Vale do Jaguaribe. Aprendiz de Teosofia, segue a Loja Independente de Teosofistas - LIT. Tem apreço por silêncio, música, artes plásticas, bichos e plantas. É também administrador dos blogs O Caderno Livre e Só Um Transeunte.
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Boas Festas!




Nativity of Christ (1523)
- Lorenzo Lotto



Acho que eu tinha uns quatro anos de idade. Minha família morava na zona rural. Em certa noite, deram de me vestir uma calça marrom, de botões, e me puseram também uma camisa. Fiquei todo formal. Sapatos, claro, que naquela época as crianças usavam sapatinhos marrons de cadarços. E aí fomos de carro até a cidade para a casa de minha avó materna.

Para mim, era uma mistura de novidade e tumulto. Por que me retiraram de meu quieto mundo, à noite, para uma viagem à cidade?

domingo, 22 de dezembro de 2024

Envelhecer



Old Man in Warnemunde (1907)
- Edvard Munch



Você está ficando velho, diz alguém. É como se dissesse que você está ficando fraco e falho. Não seria mais certo dizer que, com a idade - o tempo -, você está ficando maduro?

Numa sociedade aonde e pujança é reduzida ao vigor físico, à aparência, envelhecer é perder a credibilidade.

Deve ser assim mesmo?

Envelhecer é ganhar o jogo, afinal a vida tem sua dureza, e ir adiante, avançar anos, é superar obstáculos. Para tanto, virtude e luta, além, obviamente, de condições dignas.

Envelhecer não á apenas enrugar-se e andar mais devagar, mas olhar mais devagar, como quem exerce atenção e compaixão, nobrezas do ser humano.

Nenhuma fase é intrinsecamente ruim ou triste, tampouco deve ser vista como estranha. Em nós, nos bichos, nas árvores, nas rochas, aonde for, envelhecer é bom e precisa ser dito assim, para que nos humanizemos.

Ah, mas eu não queria! Sim, há em nós um sabor de eternidade e juventude que gostaríamos que fosse já aqui nesta vida. Mas não é assim. A natureza tem sua própria maneira de fazer as coisas, não nos cabendo roubar-lhe o protagonismo. Sejamos humildes!

E sejamos felizes tanto quanto pacientes e sábios.



|Autor: Webston Moura|

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Corações Desarmados



Homem com lenço vermelho (1922)
- Roger de La Fresnaye
 


Nunca mais os vi, os homens com lenços ao bolso. E, junto disso, o que também deixou de existir, se não inteiramente, foi dizer "Bom Dia!" de modo sincero, para além da formalidade. E aí não só nos homens, mas em qualquer pessoa. Parece bobagem, mas não é.

O mundo mudou. Mas dizer isso, é ainda dizer pouco, já que o mundo - a vida, a realidade, as pessoas - sempre muda.

Éramos mais gentis, no passado? Acho que sim. E o que houve? Modernizamo-nos pelo lado sombrio da modernização. Sem tempo, sem saúde, com medo, envolvidos em disputas tantas, cá estamos nós diminuídos em nossa humanidade, rumando para um futuro pedregoso.

Depois do andejar pelo escuro, espero que haja luz! E lenços, saudações, sorrisos, mãos desarmadas, mas, sobretudo, corações desarmados, gentileza e inocência.



|Autor: Webston Moura|

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sábado, 21 de dezembro de 2024

O Cão Abandonado






É triste o cão na rua. A fome e a sede o tomam. Seus secos olhos doem. Anda devagar, tem medo. Sua fragilidade atrai os agressores. Vive assim desde sempre. Abandonado, vai e vem. Encontra aqui uma comida. Ou o que restou de uma. Bebe a água que lhe dão. Ou a que, suja, encontra. Em geral, não o vemos. Ou fingimos. Ele é a denúncia de que nos tornamos fracos. Fracos porque insensíveis e cínicos. Ele, se pudesse, seria o nosso cão. Seria mais, seria irmão. Ele, se pudesse, faria do abandono apenas uma palavra, nada mais que uma palavra.


|Autor: Webston Moura|

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Imagem: Depositphotos
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