quinta-feira, 23 de janeiro de 2025

Na Mão Fechada



293 (1913) - Wassily Kandisnky



Não sei o que se passa

dentro

do que não vejo.

Assim, se posso e não necessito, não insisto.

Há sempre alguma realidade que se escapa da minha (pobre) consciência.

Não sei o que se passa atrás da tua fala.
És o segredo guardado na mão fechada.

Sem nome, sou o pássaro que acaba de pousar nos teus olhos.



|Autor: Webston Moura|

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Webston Moura
, administrador deste blog, é Tecnólogo de Frutos Tropicais, poeta e cronista. Natural do Ceará, Brasil, mora no município de Russas, na região do Vale do Jaguaribe. Aprendiz de Teosofia, segue a Loja Independente de Teosofistas - LIT. Tem apreço por silêncio, música, artes plásticas, bichos e plantas. É também administrador dos blogs O Caderno Livre e Só Um Transeunte.
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Sou



Campo de trigo na chuva (1889)
- Vincent van Gogh


Chove. A água lava a cidade. À noite, no frio, penso devagar. Gosto disso. Gosto de usufruir do frio e do silêncio. Sou soberano destes momentos em que, sem querer posses, apenas existo. Enquanto chove, sou.



|Autor: Webston Moura|

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quarta-feira, 22 de janeiro de 2025

O Nosso Tempo



The Revolt (1911 - Luigi Russolo



O Tempo dos guerreiros, o tempo da guerra, o nosso tempo. O tempo em que nada há de perdurar, nem de ter paz. Assim o querem os líderes conflituosos e as massas levadas a campo.

No passado, anunciaram os bons dias vindouros, aonde a máquina nos faria reverência e a riqueza seria distribuída. Sonhava-se, e isto não é censurável. Mas chegou o futuro, o nosso tempo, aonde não temos tempo e os nossos pensamentos são amassados pelas tarefas e preocupações.

Contudo, não há que se pensar em fugir, até porque não há para onde. O remédio há de ser feito em meio ao caos, como outros, nossos antepassados, tiveram que fazer.


|Autor: Webston Moura|

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A Água Turva Correndo Veloz



The Palace of Windows Rocks (1942)
- Yves Tanguy



O verso não está ponto.

Procuro o caminho,
mas não há.

Falta-me a candeia
e o espanto.

O verso não está pronto,
as coisas ordinárias me tomam.

Procuro um rosto,
mas só encontro a massa geral,
a água turva correndo veloz.

O verso,
que seria ouro,
está na lama,
no fundo violento,
recusando-se a vir tomar sol
entre as falas e olhos de outrem.

O verso está com medo.
Ou está cansado.

|Autor: Webston Moura|

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As Cores



Magician - Allan Tellez


Gosto das cores. Não entendo o porquê de haver oposição a uma cor, embora haja quem assim prefira. O ser humano é diverso.

Das primeiras coisas que uma criança se dá conta, cultivando aí afeto, as cores se destacam. Tudo o que é "miúdo" acaba por fazer parte do mundo da criança.

Na infância, o detalhe é tudo, pois o mundo do tumulto, das disputas, este não existe, ao menos de modo drástico como na vida adulta.

O que á aquilo? Um sapo. E aquela outra coisa? Uma bicicleta. E tudo que é passível de afeto, é positivo. As cores das paredes, das flores, das roupas, os diferentes matizes do céu.

Gosto das cores. Apenas gosto. Como quem olha a água e não a quer recurso, não a doma, tampouco logra saber-lhe o último mistério.

|Autor: Webston Moura|

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segunda-feira, 23 de dezembro de 2024

A Criança



Untitled (1978)
- Betty Parsons



A criança que fui, aonde está? Numa camada mais adentro, guardada da luz do dia, ainda me dizendo para brincar. E já que sou adulto, tento poesia, uma forma de acreditar que as palavras podem mais um pouco que simplesmente codificar uma comunicação. A criança que fui anda nas praias que inventa, viaja pelo universo, observa as árvores, sem lhes da preço em dinheiro. A criança em mim guardada necessita ir além da realidade, pois precisa sonhar. Não como quem nega o acontecido, o ordinário, mas como quem inventa e reinventa.


|Autor: Webston Moura|

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Boas Festas!




Nativity of Christ (1523)
- Lorenzo Lotto



Acho que eu tinha uns quatro anos de idade. Minha família morava na zona rural. Em certa noite, deram de me vestir uma calça marrom, de botões, e me puseram também uma camisa. Fiquei todo formal. Sapatos, claro, que naquela época as crianças usavam sapatinhos marrons de cadarços. E aí fomos de carro até a cidade para a casa de minha avó materna.

Para mim, era uma mistura de novidade e tumulto. Por que me retiraram de meu quieto mundo, à noite, para uma viagem à cidade?