sexta-feira, 27 de julho de 2018

BEIRA DE RIO


Beira de rio,
onde se escuta o vento
acariciar a vegetação.

O sol,
em hora mansa,
clareia mais que aquece.

Por cá,
a solidão não dói,
não é tratada com tarjas pretas.

O tempo,
nesta paragem,
não corre.

E meu coração é todo humano,
fruição sem mácula,
quase materno.


│Autor: Webston Moura│

quarta-feira, 25 de julho de 2018

EXÍLIO



Hoar Frost (1906) - Lucien Pisarro





Sou senhor de coisas poucas,
pequenos atos, passos discretos.
       Lá fora, onde os outros gritam
                   seus corpos em chamas,
                         suas palavras certas,
                          não principio gesto,
                                           não caibo.

Nesta pequena vereda,
conversa íntima e serena,
de azuis acalmados,
moro.

Por isso, esta economia de desejos,
estas mãos buscando as brumas
quando a manhã ainda é trégua.


│Autor: Webston Moura│


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Webston Moura
, administrador deste blog, é Tecnólogo de Frutos Tropicais, poeta e cronista. Natural do Ceará, Brasil, mora no município de Russas, na região do Vale do Jaguaribe. Aprendiz de Teosofia, segue a Loja Independente de Teosofistas - LIT. Tem apreço por silêncio, música, artes plásticas, bichos e plantas. É também administrador dos blogs O Caderno Livre e Só Um Transeunte.
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SINGRAR



Ponho o barco à disciplina do vento.
Meço o mês, as estrelas, a experiência.
Navego outro começo, reinauguro mão e senda.
Tudo é luz, sol repleto por sobre a Terra.
E eu, ainda que pouco por sobre as águas, vou-me,
                                                      um tanto de pássaro,
                                                          um tanto de medo,
                                                           um pouco por dia,
até me esquecer do tempo.


│Autor: Webston Moura│

Alvorada

Bárbara luz,
um sabiá cantando a graça de si.

Onde os homens não endinheiram,
o mato rasteiro avança.

Livre, uma vaca pasta o gratuito.

Como no primeiro dia do mundo,
as águas nascem e caminham.

É sempre manhã,
onde esperançamos infâncias.


|Autor: Webston Moura|




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Webston Moura
, administrador deste blog, é Tecnólogo de Frutos Tropicais, poeta e cronista. Natural do Ceará, Brasil, mora no município de Russas, na região do Vale do Jaguaribe. Aprendiz de Teosofia, segue a Loja Independente de Teosofistas - LIT. Tem apreço por silêncio, música, artes plásticas, bichos e plantas. É também administrador dos blogs O Caderno Livre e Só Um Transeunte.
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quarta-feira, 11 de julho de 2018

Enquanto o Orvalho me Toma



Mornig Dew (1907) - Igor Grabar



Arredio a más notícias,
carrego uma esperança quieta.
Não a quero em alardes,
mas como roupa ao corpo.
Tenho serena alegria
sob uma dor apaziguada,
mãos mais suaves e ternas
e um olhar mais demorado.

Mas, ainda que melhor,
gostaria de uma casa
mais para dentro do mato,
onde pudesse esquecer
de toda essa demasia,
excesso de tudo-tudo,
páginas que o fogo devora
nesta pressa de desvios
que me degredam de mim.



│Autor: Webston Moura│


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terça-feira, 3 de julho de 2018

CONSTATAÇÃO ÁCIDA NA HORA DO CAFÉ



É verdade, é muito verdade:
somos umas ilhas, agoniadas ilhas.

A quem nos dirigimos, cantos nervosos, nesses falares?

É verdade, é muito verdade:
estamos frágeis, por isso, armados,
armados de medo e de sobreavisos;
contando os prós, contando os contras;
perdendo a conta, o sono, a hora.

É verdade, é muito verdade:
o débito; a falta; o quase; o tudo
           ─ esta coisa de mil nomes
                        ardendo nas mãos,
             vida, seu chamado e sua insuportabilidade.


│Autor: Webston Moura│

CONFISSÕES NO DOCE DESERTO DA NOITE


Alma antiga, lembranças, tempo fluido:
este moço, agora envelhecendo, sou eu.
Há uma janela imaginada, mas muito clara,
donde olho, docemente, o que me acalma o sangue.
Fecho os olhos e sigo; sei que deve ser assim.
É o que sou, uma passagem, uma travessia alerta.

Escuto a noite, inteira noite,
coisa livre e oculta aos homens.
É quando, com total paz,
percorro Artur Verocai, 1972, sublime.
A música me toma.

À tarde, passeando com meu cão, pequeno cão,
observo sua alegria, que é como a minha.
A alegria sem soberba, a alegria simples.
Como meu cão, o ato de estar já me basta.
Estar entre as mansas coisas que me acolhem.
Como aquelas nuvens que o vento tange,
a gratuidade de suas existências.

Existir deveria ser sem muita intenção,
apenas ir-se estrada sob o sol, sendo.


│Autor: Webston Moura│