domingo, 29 de setembro de 2024

O Vento Sopra




The Wind Blows (1897) - Hugo Simberg



O vento sopra.

E inclina os troncos das árvores.

As folhas caem.

Para espetáculo,
isso bastaria.

Muito da beleza
é a fala radiosa
da gratuidade.

Mas não temos olhos.


|Autor: Webston Moura|

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Webston Moura
, administrador deste blog, é Tecnólogo de Frutos Tropicais, poeta e cronista. Natural do Ceará, Brasil, mora no município de Russas, na região do Vale do Jaguaribe. Aprendiz de Teosofia, segue a Loja Independente de Teosofistas - LIT. Tem apreço por silêncio, música, artes plásticas, bichos e plantas. É também administrador dos blogs O Caderno Livre e Só Um Transeunte.
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Nosso Espaço Interior e os Desejos




Espaços Interiores (1989) - Charles Bezie



Em geral, pensamos que o nosso interior é apenas o espaço dos desejos, que ele só produz isso, além de alguma dor. E que, satisfazendo-os, nós nos realizamos. Porém, o que mais experimentamos, a vida inteira, é a frustração diante das tantas tentativas que encontram pela frente obstáculos intransponíveis. Alguns desejos encontram seu caminho e seu objetivo, chegando à realização. A maioria, não.

Assim sendo, se considerarmos que o máximo de nós são os desejos, teremos de concordar com a verdade de que somos imensamente falhos, como um projeto que, desde o início, existe para dar errado mesmo afinal o enredo de ilusões e quedas é tal que até parece que somos um tipo de ser que não funciona. Concorda?

sábado, 28 de setembro de 2024

Significativas Sombras




Untitled (1930) - Kensuke Yamamoto



Sempre que se fala em surrealismo, fala-se em sonho. E ainda se diz "foi um movimento" quando, na verdade, os ainda surrealistas dizem que não foi simplesmente um movimento e que nunca acabou, pois continua aí, como uma forma de se ver e de ver o mundo, as ideias, as coisas, os sentimentos.

E o sonho?

Lugar Furtivo



Lugar Furtivo (1996) - Gunther Gerzso



Lugar furtivo,
o desta fala que me habita:
longe das demografias incisivas,
caminham comigo os dissidentes.

Lugar onde podemos,
                    ainda,
lograr a inocência
da invenção e da intenção,
como quem, perdendo tempo,
pinta a guache papel barato
e já inútil.

Lugar furtivo,
este do coração resgatado da mágoa
e da insensibilidade geral,
pátria pequena do arredio poeta
que, a custo, ainda vive e sonha
- apesar dos escombros.

|Autor: Webston Moura|

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Webston Moura
, administrador deste blog, é Tecnólogo de Frutos Tropicais, poeta e cronista. Natural do Ceará, Brasil, mora no município de Russas, na região do Vale do Jaguaribe. Aprendiz de Teosofia, segue a Loja Independente de Teosofistas - LIT. Tem apreço por silêncio, música, artes plásticas, bichos e plantas. É também administrador dos blogs O Caderno Livre e Só Um Transeunte.
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Nós e a Política





Muito se gasta nas campanhas eleitorais. Mas, a bem da verdade, o meio político é, o tempo inteiro, uma orgia de dinheiro pra lá e pra cá. Orgia que alegra, enlouquecidamente, aos participantes, comumente homens.

O que geralmente dizem, sobre se importarem com as pessoas, isso é apenas o jogo de cena que a política oficial requer. É uma farsa, um teatro. E todos sabemos disso há tempos. E também sabemos que, em qualquer época, o poder tem disso: uma luta rica, cheia de recursos materiais e ambição desmedida, aonde egos se digladiam, para ver quem vence. A realidade que se dane.

sexta-feira, 27 de setembro de 2024

infância



para Maria Alice,



Tínhamos um pé de maxixe e um cavalo chamado Tempestade.
Antes de nós ele havia se chamado Trovão.
Comíamos pirão uma ou duas vezes por semana.
E colhíamos goiabas na varanda.
Tínhamos uma rede alvinegra.
Um lugar onde acendíamos fogueira quase todos os dias.
Uma cadela chamada Paçoca.
E um céu cheio de estrelas pairando sobre nós.
Tínhamos um rio que dormia e acordava ante nossos olhos.
E uma pequena cobra coral de estimação.
Brincávamos com as palhas dos milhos juninos.
Fazendo toda a família do Visconde de Sabugosa.
Uma vez ao ano seu Toróró nos trazia jabuticabas colhidas no terreiro.
E líamos muito. Líamos livros e folhas de plantas.
Estávamos cercados por juremas.
Fomos alguma vez a Cordisburgo.
E a tantos outros lugares que parece que não fizemos outra coisa senão viajar.
Assávamos carne aos fins de semana.
Nos divertíamos no balneário da Pitanga.
Íamos à praia do Montecristo sempre.
E éramos vistos muitas vezes nas Cabaceiras do Paraguaçu.
Depois adotamos João e não pararam mais de nascer cães em nossa casa.
Ganhamos uma gata de nome Judite que sempre recebia visitas de um gato que chamamos Anônimo.
Judite passou três dias debaixo da cama.
Não saia nem para comer.
Até que decidiu ficar e nunca mais voltou para debaixo da cama.
Depois veio a Pina, o Garfield e o Dino.
Seguíamos comendo maxixes e sonhando.
Seguíamos comendo pirão e sonhando.
Até que veio Ian, a cigana e tudo o mais que já sabemos.
Até que veio Larissa, Assucena e todas essas janelas que se abriram.
Ontem teve eclipse.
Eliana cobriu-se por alguns instantes com o véu das sombras.
Fiquei olhando como quem olha um espelho maravilhoso.
E vi novos maxixes nascendo entre as orelhas de Tempestade.
E vi cada uma das mil chuvas viradas que enchiam nossa casa de água.
E vi você caminhando entre pedrinhas amarelas e galáxias desconhecidas.
Uma onça te guiava entre despenhadeiros e montanhas.
Fiquei olhando como quem olha uma caverna.
E vi você ninando Assucena com as histórias do jaguar encantado.
Depois veio a Cristalina, o Come-e-Dorme e o Waldick.
Depois veio o Calabouço, o Álbum de família e o Dicionário.
E pouco antes do sol nascer essa infância foi se encarnando em letras azuis no papel.

nuno g.

Toróró, 18/09/24


|nuno g. é Nuno Gonçalves, historiador, professor e poeta. Seu blog é a Insensata Nau: https://insensatanau.blogspot.com/


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Webston Moura
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terça-feira, 24 de setembro de 2024

Nostalgia



Storm Clouds, Maine (1906) - Marsden Hartley



Nuvens de tempestade, mas não te assustes, que é só a pintura acima. Storm Clouds, no original. Repare no estilo! Chama-se pontilhismo, pois o artista pinta unindo pequeninos pontos, completando, pouco a pouco, a imagem.