sábado, 16 de novembro de 2024

Dobrar



Fold (1966) - Charlotte Posenenske



Dobrar é guardar,
ocultar da luz
ou de seu excesso.

Dobrar é envolver,
levar ao bolso, ao silêncio,
ao lugar mais calado
do armário
ou do coração.

Dobrar é desviar
do supostamente entendido,
é criar com mais zelo
o caminho que coça sobre a pele
o arrepio da novidade e da invenção.

É virar a esquina,
evitando uma rua,
abraçando a uma outra
que se abre da dobra
e se inunda de ser.

Dobrar é duplicar.
Sabiamente ou não.


|Autor: Webston Moura|

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Webston Moura
, administrador deste blog, é Tecnólogo de Frutos Tropicais, poeta e cronista. Natural do Ceará, Brasil, mora no município de Russas, na região do Vale do Jaguaribe. Aprendiz de Teosofia, segue a Loja Independente de Teosofistas - LIT. Tem apreço por silêncio, música, artes plásticas, bichos e plantas. É também administrador dos blogs O Caderno Livre e Só Um Transeunte.
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Palimpsesto



Estrada de Ferro Central do Brasil (1924) - Tarsila do Amaral



retro - rústica
onívora - unívoca
cidade última

os retos traços
às traças tantas
o céu enfurnado
ao coalhado quarto
-sem música
ninguém dança -

luxúria estapafúrdia
turba de turva urbe
inútil descanso
sádicas saídas
-os poetas fechados
para balanço -

entre(tanto) e(labor)o
farsescas peripécias
re(pasto) abúlico
co(lapso) lúdico
-os cães coesos
de raiva ávidos -

burgo bruto
embargo mútuo
poema que se
perde
no corpo
de riso
gasto
no rosto
de gesto
raso
-insu(lar) dest(erro)
de folhas avulsas -

eu organizo
as sombras
oriento
todo mal
toda cidade
é sobre
natural


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|Autor: Garbo Gomes (Ribamar Fernandes) | De Joinville, SC, Brasil.
|Poema extraído do perfil do autor no Facebook [hsutegsrtu]
|Três poemas seus na Revista Acrobata [acrobata]
|Poemas seus na Revista Germina [germinaliteratura]


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Webston Moura
, administrador deste blog, é Tecnólogo de Frutos Tropicais, poeta e cronista. Natural do Ceará, Brasil, mora no município de Russas, na região do Vale do Jaguaribe. Aprendiz de Teosofia, segue a Loja Independente de Teosofistas - LIT. Tem apreço por silêncio, música, artes plásticas, bichos e plantas. É também administrador dos blogs O Caderno Livre e Só Um Transeunte.
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sexta-feira, 15 de novembro de 2024

Dia Ventoso



Dia Ventoso - Mikhail Lebedev



É quando os relógios param
ou parecem parar.

É quando nos esquecemos
de produzir, e a dor, se pode,
cessa ou, simplesmente, diminui.

É quando descansamos
da rotina, e a tarde, se pode,
se eterniza em paz.

|Autor: Webston Moura|

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terça-feira, 12 de novembro de 2024

Sombras



Untitled 058 (1000) - Rafa Nasiri



Em cada um
a carga de interrogações que lhe cabe:
as janelas obscuras guardadas no fundo
da alma, aonde o sol, se muito, faz uma réstia
                                         de pouca valia,
sem maior remédio.

Exceto a missão da busca.


|Autor: Webston Moura|

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domingo, 10 de novembro de 2024

Alegoria Triste



Novo Planeta (1921) - Konstantin Yuon



Poeta, virá mesmo o tempo da tua palavra
ou, como sempre, serás apenas a alegoria triste,
ante os olhos perplexos de homens comuns?

Havia um mundo novo, que seria futuro.
Mas a história costuma trair, poeta!
E assim o foi.

Não chores!
O jardim pisoteado é ainda jardim,
embora seu brilho não pronuncie esperança,
nem dê água a quem grita no escuro.

Repare, entretanto, na teimosia da flor
e na perseverança do inseto:
juntos, em face da terra lambida de sol,
lutam pela vida que lhes restou defender.

|Autor: Webston Moura|

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terça-feira, 5 de novembro de 2024

Os Dias



Untitled - Lothar Charroux


Os dias estão menores. Parece haver menos horas disponíveis. A vida parece engarrafada entre o instante de agora e sua repetição no seguinte. Bem por isso há os que deixam as cidades e vão morar longe, na zona rural, abandonando, assim, a rotina de máquina que a vida urbana impõe. Para ouvir o vento quando bate nas árvores, sentir sua força de deus da natureza, como os antigos o chamavam, mudam-se, vão aos lugares onde ainda são possíveis o silêncio, a demora, o olhar sem ansiedade. E estão certos.



|Autor: Webston Moura|

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quinta-feira, 31 de outubro de 2024

Retrato Antigo de Um Dia Comum



Nascer do sol na margem nevada do rio - Laszlo Mednyanszky



Faz frio, e a vida exige.
Não te enganes com a beleza,
que a labuta é o ofício de sobreviver ao dia.

E pouco importa se, longe, compreendem.
No tempo, indo mais fundo, só verão o horizonte branco,
como se tudo fosse paz e convite ao devaneio.

|Autor: Webston Moura|


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