sexta-feira, 28 de fevereiro de 2020

O BARCO



Menhir II - Sheila Hicks


Vai um pequeno barco ao mar.
Olho-o, demoradamente, e ele segue.
Volteia, longe, um ponto na névoa da umidade.
Frágil, mas suficiente, não vira, tampouco afunda.
Sabe equilibrar-se lá e cá, como se dançasse.

Acompanho-o até o fim, para perder-me de mim
e ter, novamente, o nascer das coisas.


│Autor: Webston Moura│

quinta-feira, 27 de fevereiro de 2020

O GATO



Cats - Franz Marc


Vem lá o gato e passeia, olha,
come e bebe, depois vai-se, cauteloso,
pata aqui, pata ali, um salto,
muro este, muro aquele,
um telhado, some-se.
É perigosa sua vida:
cães e humanos o observam.
À noite, se preciso, briga com um igual,
bate, apanha e amanhece sisudo, cara de ressaca.
Em geral, faz silêncio.
E seu olhar me examina,
parece me inquirir desta minha vida acostumada.
Bem queria, imagino, convidar-me a sair por aí
e, tarde, olharmos o luar
quando o mesmo desce pelo orvalho
em tons prata e azul.


|Autor: Webston Moura|



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Webston Moura
, administrador deste blog, é Tecnólogo de Frutos Tropicais, poeta e cronista. Natural do Ceará, Brasil, mora no município de Russas, na região do Vale do Jaguaribe. Aprendiz de Teosofia, segue a Loja Independente de Teosofistas - LIT. Tem apreço por silêncio, música, artes plásticas, bichos e plantas. É também administrador dos blogs O Araibu e Só Um Transeunte.
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AMARES



Não rever
a figura humana
trazida
em berço
ou barco

saber do desencontro
começado hoje

não sentir tristeza
da saudade vista
em seus olhos

o esquecimento cobre os passos
desajustados dos não amantes
inconfessados em tempos
vazios de humanidades.

(Pedro Du Bois, AMARES)

│Do blog do autor: http://pedrodubois.blogspot.com/

A BELEZA



Still Life Flowers - Gregoire Boonzaier



Porque a beleza existe e carecemos vê-la.
Num boi, no vento, na umidade da escura noite,
na passagem da vida à secura destas flores que agora vicejam.

│Autor: Webston Moura│

O SEMEADOR



The Sower - Ivan Grohar


Alarmam-se os pássaros em redor, mas sem real perigo.
O chão, endurecido de sua espera, recebe as sementes,
mas ainda mais: a súplica esperançosa da mão que o toca.
O homem, semeador que se põe, anda o dia inteiro na função.
Névoa, sol, mês passado, manhã seguinte: futurar é preciso.
Sabe-se que a terra gosta disso e, se calhar, até se alegra.
Ao homem o labor que o espera e, amanhã, a alegria da colheita.


│Autor: Webston Moura│

A CASA



Voltar à casa que outrora fomos;
rever seus espaços, um a um;
relembrar as tardes e os fins de ano,
as férias, algazarras, as noites de chuva.

Abrir o álbum e fazer silêncio
enquanto ventos remanescentes
varrem o carnaubal.

│Autor: Webston Moura│

sábado, 8 de fevereiro de 2020

Blimunda # 91 – janeiro de 2020




A primeira Blimunda deste ano dá espaço ao trabalho do ilustrador português José Feitor. Também merecem destaque: um balanço da década na área de livros para os mais pequenos e as publicações infantojuvenis que prometem marcar este começo de ano. Na Saramaguiana, uma crónica de José Saramago e um texto em sua homenagem escrito pela professora e tradutora Dulce María Zúñiga. Façamos, com as nossas mãos, um bom 2020

│Do website da Fundação José Saramago: https://www.josesaramago.org/