Do canal Matemática Humanista
terça-feira, 27 de outubro de 2020
ENQUANTO CHOVE
a uma distância de quase me molhar,
escutando a natureza inteira derramar-se,
paz.
Desce,
devagar, o tempo,
e eu nem o percebo,
como também não percebo
a força enorme e inteira
de cada planta crescendo.
e eu nem o percebo,
como também não percebo
a força enorme e inteira
de cada planta crescendo.
Aí
esteja, penso, a vida,
inteira vida,
sem esses remendos brutos
que fazemos.
inteira vida,
sem esses remendos brutos
que fazemos.
│Autor:
Webston Moura│
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Webston Moura, administrador deste blog, é Tecnólogo de Frutos Tropicais, poeta e cronista. Natural do Ceará, Brasil, mora no município de Russas, na região do Vale do Jaguaribe. Aprendiz de Teosofia, segue a Loja Independente de Teosofistas - LIT. Tem apreço por silêncio, música, artes plásticas, bichos e plantas. É também administrador dos blogs O Caderno Livre e Só Um Transeunte.
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"No início o resquício" - excerto de poema de Pedro Du Bois
No
início o resquício
surpreende quem se aproxima
trazido pelo imponderável.
surpreende quem se aproxima
trazido pelo imponderável.
amanhã a
repetição
contempla: calores
abrasam a finitude
até as cinzas
se fazerem
pedras logo
adiante.
contempla: calores
abrasam a finitude
até as cinzas
se fazerem
pedras logo
adiante.
A
possibilidade torna
indevido o esforço.
indevido o esforço.
Desacompanhados
olhos perduram
sobre a presa:
olhos perduram
sobre a presa:
conheço
nos hábitos
a certeza do propósito.
a certeza do propósito.
Com as
luzes
apagadas o predador
sente cansaço: a presa mede
distâncias
com olhos
diagramados.
apagadas o predador
sente cansaço: a presa mede
distâncias
com olhos
diagramados.
Em cada
decisão o erro
se confunde: onde os olhos
se desinteressam?
se confunde: onde os olhos
se desinteressam?
Em toda
pergunta
remanesce a dúvida
pelo incomparável.
remanesce a dúvida
pelo incomparável.
Assim o
destempero
se reapresenta em murmúrios
e palavras
e gritos
e atos.
se reapresenta em murmúrios
e palavras
e gritos
e atos.
[...]
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Excerto de O Homem Despegado de Olhos e Outros Poemas, Projeto Passo Fundo, 2019, de Pedro Du Bois, pags. 14, 15 e 16.
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Leia também:
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Pedro
Du Bois – Poeta e contista. Passo Fundo, RS, 1947. Residente em Balneário
Camboriú, SC. Vencedor do 4º Prêmio Literário Livraria Asabeça, Poesia, com o
livro Os Objetos e as Coisas, editado pela Scortecci Editora, SP. Participante
do Projeto Passo Fundo. Blog: http://pedrodubois.blogspot.com/.
DESCONSOLO
sei que bem não nos vemos,
apesar do trajeto comum,
esta rua nossa descalça de pavimento,
este nosso conviver cego, silencioso,
diria mesmo alienado
– eu do senhor e o senhor de mim
e nós, suponho a vós também, do mais
que poderíamos ser nesta vida.
A
dureza nos toma, sabemos,
a sina de pagar por tudo
a outros senhores que nos querem
apenas braços, votos, disciplina
e docilidade escrava, coisas amansadas
que somos, vozes amiudadas.
a sina de pagar por tudo
a outros senhores que nos querem
apenas braços, votos, disciplina
e docilidade escrava, coisas amansadas
que somos, vozes amiudadas.
Senhor,
Rogo-vos nada mais
que a escuta a este lamento!
E se tiverdes um, também o escutarei.
Quem sabe, canção se faça entre nós,
ao menos para não nos doermos sós,
tão sós, ensimesmados de medo.
Rogo-vos nada mais
que a escuta a este lamento!
E se tiverdes um, também o escutarei.
Quem sabe, canção se faça entre nós,
ao menos para não nos doermos sós,
tão sós, ensimesmados de medo.
Repara
no cão,
abandonado bicho!
Cata aqui e ali.
Algures consegue água,
um pouco de comida
e até a atenção dalguma alma caridosa.
abandonado bicho!
Cata aqui e ali.
Algures consegue água,
um pouco de comida
e até a atenção dalguma alma caridosa.
Aquele cão repleto de ausências,
quem é senão nós?
│Autor:
Webston Moura│
Poesia
nunca lerão um poema.
São
homens
que bebem café,
tomam banho de rio,
têm filhos e um cachorro.
que bebem café,
tomam banho de rio,
têm filhos e um cachorro.
Poucos
homens
conhecerão meus versos.
conhecerão meus versos.
E o que
direi a esses homens
nos meus versos?
nos meus versos?
Que
também bebo café?
Que tenho saudade de casa?
Que há noites em que fico sem dormir?
Que tenho saudade de casa?
Que há noites em que fico sem dormir?
Quem
sabe, em vez de poemas,
talvez melhor seja
telefonar a cada um desses homens.
talvez melhor seja
telefonar a cada um desses homens.
Há algo
na poesia
que não se pode contar?
que não se pode contar?
Aguardo
respostas
para ajudar a rimar.
para ajudar a rimar.
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Sérgio Queiroz de Medeiros – Mossoroense-RN, 1981. Autor de “Um lugar azul” (2009), “Para ler na chuva” (2012). O poema acima faz parte do livro “Guardados”, publicado pela Sarau das Letras, em 2019. Um blog: umlugarazul.
ESPAÇOS EM BRANCO, de Tânia Du Bois
![]() |
http://projetopassofundo.com.br/ |
Por
ler a palavra “microcontos” na abertura, imaginei o já visto noutros autores,
uma história de umas cinco, seis linhas, breve, condensada, como o “micro”
sugere. Porém, Tânia radicalizou ainda mais a ideia, o que me surpreendeu. Cada
conto, ainda mais micro, dá-se com um título e uma frase, cabendo ao
leitor/leitora permitir-se seguir o dito, imaginar e, até se quiser, reunir
tudo na cabeça, como se as sentenças fossem pássaros voejando, lá e cá,
mostrando, em cada ida ou vinda, a paisagem que se abre quando olhamos e
mudamos a direção, o foco, o interesse. Lembrou-me, pois, os pedaços de prosa e
versos agudos que selecionamos de contos, romances e poemas, além, obviamente,
de letras de música, sugestões da internet, quotes,
ditados fixados em muros e outros espaços. As ilustração do Pedro Du Bois
completam o trabalho.
Para
um observador menos atento, o projeto, a talvez insinuar pressa, dada a brevidade de um
micro tão micro (uma frase por vez), talvez soe a alguns como sendo isso mesmo,
o que não condiz com a verdade, ao menos a verdade que enxergo. A frase, cada
uma, nos intervala, causa-nos ainda mais silêncio (reflexão), pausa. E nós,
ali, olhando aquelas paisagens, aquelas sentenças, o que pensamos? Em
como nos toca, como se nos puséssemos num exercício de observar em redor do
dito, além, obviamente da entranha escondida, um segredo, uma sutileza.
Três
exemplos:
Leu
os versos em dez prestações.
AMAR
De
tanto amar se deixou abismar.
SORTE
Vestiu saia branca e curta; a música dizia "vesti azul".
Sua sorte não mudou.
LIVRO
...........................................
SERVIÇO:
Espaços
em branco: microncontos
Tânia
Du Bois
Projeto
Passo Fundo (2019)
Link: projetopassofundo
Tania Du Bois – Residente em Balneário Camboriu, SC. Pedagoga, articulista e cronista. Autora de: O Exercício das Vozes"; Amantes nas entrelinhas; O eco dos objetos; Comércio de ilusões; Autópsia do invisível; Vidas desamarradas; Arte em movimento; Entrelaços; A linguagem da diferença, etc. Onde encontra-la: Recanto das Letras [tâniadubois], Letras et cetera [nanquin]; Projeto Passo Fundo [projetopassofundo]
terça-feira, 29 de setembro de 2020
BASTANTE
Basta
- no arremedo improcedentedas ausências me apresento
à luta: ponto
sou o novo soldado
engajado em guerras
vespertinas: compro
engajado em guerras
vespertinas: compro
repentinamente a hora cheia
avisa sobre o corpo: velho
avisa sobre o corpo: velho
a mecânica do mundo estraçalha o sono
o aviso na porta indica a saída
o aviso na porta indica a saída
basto em mim mesmo
que essa luta não é minha.
que essa luta não é minha.
(Pedro Du Bois, inédito)
│Autor: Pedro Du Bois
│Do blog do autor: http://pedrodubois.blogspot.com
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