sexta-feira, 20 de abril de 2018

QUATRO POEMAS DO PEDRO DU BOIS


http://www.projetopassofundo.com.br/




Reconstruo: retiro do ar
a momentânea oferta
de paz. Movo o corpo
em sacrifício e individualizo
o ser: no amanhecer
o canto da noite
se desfaz em cores.

Ao amanhecer gestos
trocados na madrugada
se eternizam.

Poema de número 24, da segunda parte da secção “A Construção do Gesto”, página 24.


..........................................


Sob medida diz o alfaiate
cortando o pano
milimétrico: as mangas
o colete
o cós
as calças
o forro
o lenço
no bolso da lapela.

Tempos idos.
Novidade
refeita em livros escolares.

A maldade atira
a bola de papel
dentro do chapéu
sobre a mesa.

Não há medida responde
o ancião. Não há ancião.
Velho homem desprotegido
em idades ultrapassadas.


Poema número 1 da secção “A Medida do Peso”, página 49.


.............................................


A primeira cidade
inesquecível: nascimento
e morte entrelaçados
no parto. Cordão cortado
e o curativo.

O umbigo cicatriz
a história não vivida.

O leite materno
na escura noite
despercebida em dias
e meses de mesmas coisas.

A cidade avessa
em comportamentos.

Poema de número 2 da secção “Cidades”, página 66.

..........................................

Desce as escadas:
oficina aberta em tipos.

preenche o quadro
entinta a peça
demora a pressão
sobre o papel.

o escrito umedecido
da consciência
desfeita em obras
               concretizadas.

Poema de número 14 – Secção “Consentimento”, página 109.


...............................................

SERVIÇO:
A Construção do Gesto  & outros poemas
Pedro Du Bois
Projeto Passo Fundo

Sobre Pedro Du Bois, acesse o blog: http://pedrodubois.blogspot.com.br/

quinta-feira, 22 de fevereiro de 2018

MUTIRÃO 3 NO ISSU


Terceira edição do Livreto-revista Mutirão. Com participação de André Dias — Bárbara Costa Ribeiro — Brennand de Sousa — Carlos Nóbrega — Carlos Vazconcelos — Cláudio Araripe — Deribaldo Santos — Ellis Mário Pereira — Francisco de Almeida — Henrique Beltrão — Jarbas Oliveira — Liciany Rodrigues — Lia Leite — Luis Marcos — O Poeta de Meia-Tigela — Ralphe Alves — Raymundo Netto — Rosanni Guerra — Suellen Lima — Webston Moura

Para acessar e ler a publicação Mutirão 3, organizada por Alves de Aquino, O Poeta de Meia-Tigela, clique neste link: https://issuu.com/opoetademeia-tigela/docs/mutirão3.

segunda-feira, 12 de fevereiro de 2018

Borboleta



Butterflies - Odilon Redon



O que me desorganiza, é esta borboleta.
Não é outra, semelhante, mas esta,
uma borboleta estranha e, como todas, paciente,
capaz de estacionar, imóvel, de parar o espaço que ocupa,
de hipnotizar o ar em redor e ocultar a duração do tempo.

Não há néctar nas cortinas,
nem nos móveis,
tampouco nos livros.
Assim, por que ela não some?

O azul de suas asas, forte e denso, é pétreo.
Nunca o vi, sequer o imaginei.

Noutro tempo, havia candeeiros, muitos,
como num enxame, luzes infinititas.
Peixes deslizavam no ar, luziam cores ácidas.
Loreena McKennitt cantava “Stolen Child”.
E não havia esta borboleta
─ que incide e subleva, sem dar clareza dos porquês.


|Autor: Webston Moura|




.....................................................................
Webston Moura
, administrador deste blog, é Tecnólogo de Frutos Tropicais, poeta e cronista. Natural do Ceará, Brasil, mora no município de Russas, na região do Vale do Jaguaribe. Aprendiz de Teosofia, segue a Loja Independente de Teosofistas - LIT. Tem apreço por silêncio, música, artes plásticas, bichos e plantas. É também administrador dos blogs O Caderno Livre e Só Um Transeunte.
..............................................................................


quinta-feira, 8 de fevereiro de 2018

MAIS


Não nos damos exatamente
pelo mistério das coisas,
que é apurar os olhos sobre o invisível.

Oculta, a vida é mais.

Sequer nos vemos senão como
essas unidades de produzir e sofrer,
de repetir os olhos e repisar a paisagem.

Mas, oculta, a vida é mais.


│Autor: Webston Moura│


LUGARES DE SER


Eu quero ser como a Rita Lee,
um lírio forte, uma pedra meiga,
uma cadeira na calçada do anteontem.

Eu quero o aroma da manga
desfazendo aflições e angústias.

Eu vi um Zepelim indelével
compondo a formosura do azul.

Eu quero a cachoeira secreta de águas lídimas,
onde nenhum ruído desagradável tome posse.

Eu quero palavras-vazios,
lugares-de-ser.

E quero poder jardins em meu coração.


│Autor: Webston Moura│


GRAÇA


É assim mesmo, gratuitamente.
Andar sem rumo, devagar, cidade ir, ruas e ruas.
É assim, sem um grande plano, sem uma terra a conquistar.
Se chover, não se corre, que a chuva desliga o tempo.

Ah, o tempo, o cão e o portão, o crachá, a burocracia!
Não! Não é deste tempo rijo que precisamos.
É daquele outro, daquele dito fruição.

Fruição:
1.Usufruir de goiabas no pé e do verde nos olhos de quem der;
2.Ouvir, sem afobamento, “Dr. Joe”, com Chick Corea,
John Patitucci e Antonio Sanchez;
3. Sonhar com Maria Casadevall.

É assim, e não pense, que pensar dá pregos.
Andar sem rumo, devagar, cidade ir, ruas e ruas.
Se chover, seja tão despossuído quanto um mendigo

ou um poeta.


│Autor: Webston Moura│

ASA PERDIDA


A ave, livre, voa e vê o que não vemos,
sente o que não sentimos, vive sua singularidade.

Armadilhamos sua vida em gaiolas bem cuidadas,
damos-lhe de comer e de beber e lhe exigimos um canto.

Presa, ela canta o que nossa prisão íntima supõe ser alegria.
Ela canta ─ bem nos disse um bruxo ─ a saudade-dó.

E o que fazemos com o canto-cárcere
que não poderíamos fazer com o voo-dádiva?
Sabe-se lá! Ou, de outro modo, sabe-se, sim:
                             fazemos mando presunçoso,
pois desaprendemos nossas próprias asas.
E nosso canto é farto dó e demasia de exílio.


│Autor: Webston Moura│