quarta-feira, 22 de novembro de 2017

CATILINA



Fotografia de (c) Carlos Eduardo Leal



Eu sou o solitário e nunca minto.
Rasguei toda a vaidade tira a tira
E caminho sem medo e sem mentira
À luz crepuscular do meu instinto.

De tudo desligado, livre sinto
Cada coisa vibrar como uma lira,
Eu - coisa sem nome em que respira
Toda a inquietação dum deus extinto.

Sou a seta lançada em pleno espaço
E tenho de cumprir o meu impulso,
Sou aquele que venho e logo passo.

E o coração batendo no meu pulso
Despedaçou a forma do meu braço
Pra além do nó de angústia mais convulso.



│Autora: Sophia de Mello Breyner Andresen│

- O poema e a gravura foram retirados da página “Quem Lê Sophia de Mello Breyner Andresen - https://www.facebook.com/quem.le.sophia.de.mello.breyner.andresen

RUÍNAS




Óleo s/ tela, de ©Cesar Santos (Cubano-americano)



Se é sempre Outono o rir das primaveras,
Castelos, um a um, deixa-os cair...
Que a vida é um constante derruir
De palácios do Reino das Quimeras!

E deixa sobre as ruínas crescer heras.
Deixa-as beijar as pedras e florir!
Que a vida é um contínuo destruir
De palácios do Reino de Quimeras!

Deixa tombar meus rútilos castelos!
Tenho ainda mais sonhos para erguê-los
Mais altos do que as águias pelo ar!

Sonhos que tombam! Derrocada louca!
São como os beijos duma linda boca!
Sonhos!... Deixa-os tombar... deixa-os tombar...


│Autora: Florbela Espanca│

- O presente poema e a gravura que o acompanha foram retirados da página “Quem Lê Sophia de Mello Breyner Andresen" - https://www.facebook.com/quem.le.sophia.de.mello.breyner.andresen

domingo, 27 de agosto de 2017

MUTIRÃO #3




O projeto do Livro Mutirão nasceu da vontade de reunir amigos em torno de uma produção que desse espaço a múltiplas linguagens, somando a diversidade e singularidade dos indivíduos à ideia de unidade do conjunto. Somam-se, assim, as palavras às imagens: são poemas, poemas visuais, prosa, prosemas, fotografias, desenhos, colagens, canções e o que mais convier – com-vier.

No dia 01 de setembro de 2017, sexta-feira, às 19 horas, no Espaço O POVO de Cultura e Arte, Av. Aguanambi, 282, será lançada a edição 3 do Mutirão, que conta com a participação dos seguintes autores: André Dias - Bárbara Costa Ribeiro - Brennand de Sousa - Cláudio Araripe - Carlos Nóbrega - Carlos Vazconcelos - Deribaldo Santos - Ellis Mário Pereira - Francisco de Almeida - Henrique Beltrão - Jarbas Oliveira - Lia leite - Liciany Rodrigues - Luis Marcos - O Poeta de Meia-Tigela - Ralphe Alves - Raymundo Netto - Rosanni Guerra - Suellen Lima - Webston Moura.

A ilustração da capa é de Francisco de Almeida e o encarte - um CD com quatro faixas - é parceria de Henrique Beltrão e de Ellis Mário Pereira. O livro será vendido a R$ 20,00, e dois exemplares a R$ 30,00 (com direito a brinde). Entrada franca e amiga.

Sejam bem-vindos!

Alves de Aquino,  O Poeta de Meia-Tigela
http://opoetademeiatigela.blogspot.com.br/
____________________

sexta-feira, 25 de agosto de 2017

ÁGUAS SOB O SOL

Dou-me ao silêncio e o percorro.
Não digo do barco, devagar, cortando as águas;
apenas o vejo frente ao horizonte, sol por toda parte.

Dá-me receio estas ágoras em desespero.
Por isso, este silêncio que me percorre,
horizontes em demasia, águas sob o sol.


│Poema da Série “Silêncio” – Autor: Webston Moura│

MÚSICA PARA FUGIR DO CAOS

Enquanto lê.
Enquanto prepara o café.
Enquanto arruma o quarto.
Enquanto se banha.
Enquanto esquece o tempo.

Esta música da repleta cor de rouxinóis livres.


│Poema da Série “Silêncio” – Autor: Webston Moura│

RECESSO



Se não meus olhos,
a textura da minha pele.
Meu corpo mesmo
(esse vai-e-vem de tronco-e-membros)
parece querer gritar.
Minha boca, contudo, nada diz.

São dias e dias, desertos cultivados com carinho,
amor e aflição preparados na mesma receita.


│Poema da Série “Silêncio” – Autor: Webston Moura│

SOMBRAS E SOBRIEDADE




Eu sombreei aquele dia
E eram contornos cinzentos
Numa moldura, eu diria, vazia.
Se estas linhas não têm sentido
Digo-lhes que não me isento.

Porque se os contornos são cinzentos,
Eu também reitero: eles são frios.
E a frialdade de cada ser é enigma intangível
E só a entende ele próprio.

Naquele dia sombrio,
No entanto, fiquei um pouco sóbrio.
Não foi ópio, mas não tolheu euforias
Ao relento, vislumbrei um sorriso.

Como se no vento pairasse
E a mim chegasse,
Sombreei de amarelo-vida
Meus sóis de felicidade.


│Autor: Magno Catão – Livro “Convalescente”;  Sarau das Letras, 2017│