quinta-feira, 6 de julho de 2017

ESCREVIVÊNCIAS: LIVRO DE VIDAS IMAGINOGRAFADAS




Escrevivências: livro de vidas imaginografadas é de autoria de Dércio Braúna e Joel Neto. Impresso sobre papel couchê fosco (miolo), tem capa dura e une imagens (por conta de Joel) e poemas nelas inspirados (por conta de Dércio). Trata-se de um trabalho de profunda sensibilidade sobre o cotidiano de pessoas simples do povo, pessoas “capturadas” em instantes que o fotógrafo e o poeta fazem aparecer aos nossos olhos (à nossa sensibilidade) de forma magnífica. O projeto foi contemplado no X EDITAL CEARÁ DE INCENTIVO ÀS ARTES 2015 (SECULT/CE) e realizado neste ano de 2017.

SERVIÇO:
Escrevivências: livro de vidas imaginografadas
Joel Neto e Dércio Braúna
Deleatur Editorial
Contatos:
joelnetor7@gmail.com

terça-feira, 4 de julho de 2017

TODOS OS INDÍCIOS



Medo, porque tudo conspira para tanto;
               e horizonte outro não há senão
                              este olhar em espreita,
                                     este gesto contido,
                                este fechar de portas,
                                     tantas precauções.

Medo, porque a vida anda a requerer ciência exímia,
toda a técnica com que nos alertamos contra os males.

Dormir, sonhar, ter medo ainda aí.
Acordar instigado, as mãos trêmulas
─ um barulho no telhado, serão os gatos?,
um crucifixo na parede, o silêncio de pedra  ─,
todos os indícios de que algo está suspenso no escuro.

Lá fora, o carnaubal geme.


│Poema da Série “Medo” – Autor: Webston Moura│

ESTRANHOS



Vigiamo-nos.
Nada mais é natural.
No perde-e-ganha, jogo insosso e agudo, sofremos.
E, sós, não imaginamos saídas.
Tocamo-nos, mas com a cisma de um estrangeiro
                                adentrado a uma terra estranha.

Nossas casas ─ lares não mais ─
guardam o torpor dos nossos corpos.

E o tempo escorre sua toda aridez no nosso sangue.


│Poema da Série “Medo” – Autor: Webston Moura│


AQUELE CÃO



The Madness of Fear (1819) - Francisco Goya




Ao pé do portão, aquele cão de cismada figura, a dormir.
Quem sabe o que lhe passa ao coração?

Se me ponho de pé até com os móveis,
não seria, pois, minha a cisma?

Não lembro outro tempo
que não seja este,
           o do temor.
Meu corpo adquiriu esse saber
e o sabe com a mais fina destreza.

Aquele cão!


│Poema da Série “Medo” – Autor: Webston Moura│

quarta-feira, 17 de maio de 2017

O PIANO



Não sabe onde toca, dentro de si, o piano.
Escuta-o, mas não com os ouvidos,
e não uma só música, que há muitas tocando.

Sabe-se saudável; não se toma por delirante:
pessoa de imaginação estendida e aberta, segue.

Como não encontra a porta que dê para o lugar do piano,
tampouco o piano diretamente sobre seu nariz, procura.

Lembra-se ─ como não? ─ da casa incendiando-se,
seus tios correndo, os vizinhos juntos, a rua acesa.
No meio do fogo, ardendo severo, ia-se o piano.
Faz tanto tempo, faz tanto tempo, faz tanto tempo.

Tanto tempo!


│Poema da Série “Objetos Perdidos” – Autor: Webston Moura│

O LIVRO



O Retrato de Dorian Gray nunca lido.
E, por algum motivo, sempre este encontro desmarcado.
Os anos se passando, o livro fechado, oculto em seu silêncio.
Por algum motivo, o livro pairando, suas palavras guardadas.
Ora, mas que motivo é este?!

A cada dia, a cada mês, a cada ano, o livro nunca lido
desaparecendo, virgem desta vontade que não o alcança,
                                           destes olhos que não o perscrutam,
                                                                                            sempre.

Objeto tocado, mas perdido, posto que não viajado entranhas adentro.

│Poema da Série “Objetos Perdidos” – Autor: Webston Moura│