Que são
traças? Segundo os dicionários, são insetos que corroem lã, tapetes, livros,
papéis, dentre outras coisas. É óbvio que destas queremos distância. Jamais desejaríamos sua proliferação,
não é verdade? Principalmente nós que conseguimos reunir algumas dúzias, ou até
mesmo dezenas de livros – e deles cuidamos com extremado zelo – fugimos dessas
como o demo da cruz.
Mas,
existem outras traças... Na bela capital cearense, um Clube de Leitura possui o
sugestivo nome de “As Traças”. Não contrataram marqueteiro, mas acertaram na
mosca, pois para batizar uma reunião de devoradoras de livros, nada mais
apropriado do que o nome sugerido. Como funciona? É simples: em encontros
mensais, elas comentam suas leituras e trocam impressões com os demais membros
do grupo. Que beleza, hein?
Tudo
começou há dez anos, com a brilhante idéia das amigas Anete Gomes e Lúcia
Lustosa Martins que, levadas pelo desejo desta última em partilhar sua
biblioteca particular, resolveram promover reuniões com outras tantas amigas,
de maneira que pudessem, juntas,
viajar, sonhar, viver e crescer através da leitura. E vejam que belo resultado!
Atualmente,
o Clube é constituído de quarenta sócias que se reúnem numa determinada
segunda-feira do mês. A confraria está dividida em equipes que receberam os
nomes de escritores/poetas famosos. Mensalmente, um desses grupos é responsável
pela reunião, promovendo a apresentação de temas ligados, preferencialmente, à
literatura, através de palestrantes convidados ou de exposição feita pelo
próprio grupo.
Após as
reuniões, é servido um pequeno lanche e, em clima de descontração, as “traças” se confraternizam. Elas
também compartilham datas significativas, como os festejos juninos e as festas
natalinas, contando com a presença de familiares e amigos pertencentes a outros
movimentos literários.
O Clube
dispõe de uma biblioteca instalada em sua sede, que conta com considerável
acervo. São livros doados, em sua grande maioria, pela sócia fundadora Lúcia
Lustosa e, também, por doações de outras sócias
e de amigos ou, ainda, adquiridos pelo próprio Clube. Afinal de contas, para
sobreviver, traças precisam sempre de livros por perto.
Não se
faz necessário que sejam escritoras para admissão como sócias. Todavia, como todas são
boas leitoras e, pelo fato de gostarem de ler, isso logo suscita,
inexoravelmente, o prazer da escrita. Dessa forma, não é de difícil dedução
que, vamos encontrar entre elas, poetas e prosadoras, cujos títulos já desfilam
pelas melhores estantes do Ceará e alhures. Podemos citar, como exemplo, o
poético livro intitulado Meus
Amores, de autoria de Lúcia Maria do Monte Frota de Moura – mossoroense
radicada em Fortaleza – e o Poltrona
Azul, de Dulce Cavalcante, recentemente lançado.
Quando
soube da existência das “traças”,
e de sua movimentação, fiquei pensando como seria bom se cada um de nós tivesse
a oportunidade de participar de um “grupo de leitura”, ou de algo similar. E
melhor seria que essas iniciativas proliferassem pelas cidades com a mesma
força e pujança de tantas idéias maléficas e de tantos grupos iníquos que,
infelizmente, surgem. Certamente se isso ocorresse, alavancaríamos a literatura
para alturas inesperadas... Talvez ainda exista um ou outro questionamento,
principalmente em relação ao tempo pessoal, para participar de uma atividade
assim. Mas, recordo-me de um ensinamento religioso: tempo é questão de
preferência.
Vivam as
Traças!!! E que se multiplique a sua benfazeja faina devoradora!!!
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David de Medeiros Leite (Mossoró-RN, 1966) é doutor em Direito Administrativo
pela Universidade de Salamanca (Espanha), membro do Instituto Histórico e
Geográfico do Rio Grande do Norte (IHGRN), do Instituto Cultural do Oeste
Potiguar (ICOP), da Academia Maçõnica de Letras do Rio Grande do Norte (AMLERN)
e da Academia Mossoroense de Letras (AMOL). Dentre outros, é autor de: Companheiro
Góis – Dez Anos de Saudade (2001); Ombudsman
Mossoroense (2003); Incerto Caminhar (2009); Cartas de Salamanca (2011)
e A Casa das Lâmpadas . A presente crônica foi extraída de Cartas de Salamanca.
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