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quinta-feira, 5 de março de 2015

Sotaque da terra



Estas pedras
sonham ser casa

sei
porque falo
a língua do chão

nascida
na véspera de mim
minha voz
ficou cativa do mundo,
pegadas nas areias do Índico

agora,
ouço em mim
os sotaques da terra

e choro
com as pedras
a demora de subirem ao sol

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* Poema constante de Raiz de Orvalho e Outros Poemas (Caminho)

│Autor: Mia Couto

quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

MANHÃ




Estou
E num breve instante
Sinto tudo
Sinto-me tudo


Deito-me no meu corpo

E despeço-me de mim
Para me encontrar
No próximo olhar.


Ausento-me da morte
não quero nada
eu sou tudo
respiro-me até à exaustão.


Nada me alimenta

porque sou feito de todas as coisas
e adormeço onde tombam a luz e a poeira


A vida (ensinaram-me assim)
deve ser bebida
quando os lábios estiverem já mortos


Educadamente mortos



(1979)




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# Poema constante de RAIZ DE ORVALHO E OUTROS POEMAS (Caminho, 2009)
# Originalmente, postado na página Quem lê Sophia de Mello Breyner Andresen (Clique AQUI)

│Autor: Mia Couto
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