domingo, 24 de agosto de 2025

Sinto Muito!



Flowers Nº 4 (1974) - Gebre Kristos Desta



Não me atrai ficar bêbado.
Como outras coisas, não.

E ainda que goste disso e daquilo,
sou menos afeito a querer.

Estou no tempo de largar, de fazer silêncio, de olhar.
Estou no tempo de ver as coisas acontecerem,
sem considerar, ingenuamente, que posso tangê-las
ou detê-las.

Sinto mais calor, sinto mais frio,
mas não lamento.

Aprecio melhor as frutas e os pássaros.
E igualmente a traição da nuvem que não chove
e a ilusão das flores pintadas, essas que adoçam aos olhos,
mas não têm cheiro.



|Autor: Webston Moura|




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Webston Moura
, administrador deste blog, é Tecnólogo de Frutos Tropicais, poeta e cronista. Natural do Ceará, Brasil, mora no município de Russas, na região do Vale do Jaguaribe. Aprendiz de Teosofia, segue a Loja Independente de Teosofistas - LIT. Tem apreço por silêncio, música, artes plásticas, bichos e plantas. É também administrador dos blogs O Caderno Livre e Só Um Transeunte.
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sábado, 5 de julho de 2025

Lua Azul



Blue Moon Night - Leonid Afremov



Sob a lua,
sós,
sem relógios.

A liberdade,
não o medo,
que se pode
(quando se pode)
viver.

Sob a lua,
onde cada palavra,
simples e mágica,
pode tocar o mistério,
sós.

E ninguém sabe
o que nos atravessa
- eternidade suprema,
   embora passageira.



|Autor: Webston Moura|




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Webston Moura
, administrador deste blog, é Tecnólogo de Frutos Tropicais, poeta e cronista. Natural do Ceará, Brasil, mora no município de Russas, na região do Vale do Jaguaribe. Aprendiz de Teosofia, segue a Loja Independente de Teosofistas - LIT. Tem apreço por silêncio, música, artes plásticas, bichos e plantas. É também administrador dos blogs O Caderno Livre e Só Um Transeunte.
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sexta-feira, 4 de julho de 2025

Como Lobos de Diferentes Bandos



Landscape with a Church and Houses (1885)
- Vincent van Gogh



Uma casa ao longe,
branca e pequena,
uma porta, uma janela,
algumas pessoas que,
aqui e ali, aparecem,
um cachorro magro,
sol em redor de tudo,
claridade.

Nunca fui lá.
Só vi, ao passar pela estrada.

Uma casa, muitas casas, mundo.
Mundo que nunca conheci.
Gente que sei existir, mas de quem
nunca tomei pé.

Por aqui passamos,
iguais em origem e destino,
mas nunca nos damos à fala,
ao mútuo olhar, ao encontro de mãos,
abraços, sorrisos e pão.

Nós nos vemos, de longe,
como lobos de diferentes bandos,
entendendo-se, mas de longe,
quase tristes, quase cismados,
quase como se não nos soubéssemos
da mesma vida.



|Autor: Webston Moura|

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segunda-feira, 30 de junho de 2025

O (Eterno) Problema do Lixão de Russas






"Todos têm direito o meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações."
- Introdução ao Artigo 225 da Constituição Federal


Madrugada de 30 de junho do corrente ano. Quem dorme por essas bandas, já que a fumaça com fedor de plástico queimado não deixa?

É isso mesmo. Passam-se os anos, entra prefeito, sai prefeito e a cidade de Russas ainda vive esse drama. Crianças, jovens, adultos, pessoas doentes, idosos, todos, em plena madrugada, submetidos ao terror de inalar fumaça do lixão de Russas. Não há para onde ir, não há como escapar.

Não há uma autoridade que, até hoje, se mostre capaz de resolver o problema. E não é por falta de reclamação, já que, no dia seguinte, já pela manhã, as pessoas dão conta, os programas de rádio noticiam e por aí vai. E nada de solução. Tudo continua como se fosse normal, como se fosse até bom. A fumaça se espalha pela cidade, atingindo inúmeros domicílios no momento em que as pessoas precisam descansar. É um problema que se arrasta como um castigo a todos os atingidos.

Até quando?



|Autor: Webston Moura|


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domingo, 22 de junho de 2025

Bastante



Prato de Maçãs (1879) - Paul Cézanne



Sento-me e apenas olho.
O prato de maçãs, de Cézanne, basta.

Mas poderia ser a lagartixa que se esconde atrás do fogão,
guerreira solitária a caçar insetos.

Ou qualquer disco dos Pet Shop Boys.

Nossos afetos, em silêncio,
dirigem-se ao que,
    para os outros,
        nem existe.

Somos assim mesmo.
E isto basta.



|Autor: Webston Moura|

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Laranja



Oranges - Tin Johnson



Por vezes, basta pegar
numa palavra - laranja - por exemplo.
Deixar que role,
que empreste à mão
a redondez e a cor do desejo.

Se lhe ferimos a casca
responde-nos
com um aroma cítrico
que entontece.

Quando levada à boca, gomos de ouro,
toma-se logo mais brando o olhar
sobre a névoa do quintal.

Lá fora, as laranjas, lanternas
dos jardins das Hespérides
Cá dentro, suco e sabor a saber
em redor da palavra-tema.
Por vezes, laranja
Por vezes, poema.

*

Óleo sobre tela: Oranges, de Tim Johnson

*

|Autoria: LÍDIA BORGES, in DESARRUMOS (Ed. de Autor, 2025)



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A Terceira Guerra Mundial






Vídeo retirado do perfil da Federação Árabe-Palestina (Fepal), no Instagram. Lá, há os seguintes dizeres: "Menino palestino chora de fome em Gaza: 'Estamos comendo areia ao invés de pão! Isso é errado da parte de vocês! Tenham misericórdia!'"

Uma guerra de proporções mundiais, ainda que não chegue diretamente ao lugar em que estamos, nos atinge, já que sociedades são dilaceradas, cidades são destruídas, pessoas são mortas, economias são sacudidas, enfim, toda uma reação em cadeia acontece, e isso, inevitavelmente, nos envolve.

Ameças, bombardeios, corpos, crianças chorando com fome, enfim, a desgraça está aí para quem quiser ver.

Hoje, o secretário-geral da ONU, António Guterres, dirigindo-se ao Conselho de Segurança, disse, entre outras coisas, o seguinte: "Sabemos qual caminho é o certo.  Exorto este Conselho – e todos os Estados-Membros – a agirem com razão, contenção e urgência. Não podemos – e não devemos – desistir da paz." (link: www.un.org/).

Mas, pelo visto, falar em paz, saia da boca de quem sair, parece ser ingênuo e irreal, dadas as circunstâncias em que (raivosas) lideranças de importância mundial se encontram. E parecem estar totalmente loucas.