sexta-feira, 26 de julho de 2024

A Palavra Sob a Luz



Untitled - Wols



A palavra sob a luz,
esta que, separada, ilumina.

Como a saliência da dobra da camisa
                    quando nos movemos.

Ou a bandeira que o vento tange;
a poça, pequena poça no meio do equânime.

A palavra,
esta que,
às vezes,
surge por acaso
          (ou não)
          quando distraídos estamos
                         (ou nem tanto).

A palavra em relevo,
como uma cicatriz que se tem,
amaciada pelo tempo,
um relógio dourado
e guardado sob ternura pessoal.

A palavra tal qual aqueles olhos noturnos,
vivos olhos de rara aparência,
hipnotizando-me.

Honolulu, barbeiro,
fanal, pão doce.



|Poema da Série "Palavra" Autor: Webston Moura|


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Webston Moura
, administrador deste blog, é Tecnólogo de Frutos Tropicais, poeta e cronista. Natural do Ceará, Brasil, mora no município de Russas, na região do Vale do Jaguaribe. Aprendiz de Teosofia, segue a Loja Independente de Teosofistas - LIT. Tem apreço por silêncio, música, artes plásticas, bichos e plantas. É também administrador dos blogs O Araibu e Só Um Transeunte.
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Gosto de Música, Não de Festa



Grazioso (1933) - John Ferren



Gosto de música, mas nem tanto de festa. E assim foi por toda minha vida. Excetuados alguns momentos, assim foi.

Porém, o que aqui chamo de festa, é mais o que, no comportamento do brasileiro, é festivo, certa tendência a carnavalizar as coisas, escolher por uma postura menos reflexiva, ser mais do barulho que do pensamento. E é isso que não gosto.

Agradar-me-ia se fôssemos um povo para o contrário disso, embora não totalmente. Com o tempo, claro, poderemos nos tornar diferentes. Mas, pensando nisso, imagino que, se tiver que ser, o meu tempo de vida não alcançará, dada a forma - anárquica - com que boa parte da nossa cultura se mostra, o que a impede de mudar.


|Autor: Webston Moura|

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Webston Moura
, administrador deste blog, é Tecnólogo de Frutos Tropicais, poeta e cronista. Natural do Ceará, Brasil, mora no município de Russas, na região do Vale do Jaguaribe. Aprendiz de Teosofia, segue a Loja Independente de Teosofistas - LIT. Tem apreço por silêncio, música, artes plásticas, bichos e plantas. É também administrador dos blogs O Araibu e Só Um Transeunte.
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quinta-feira, 25 de julho de 2024

Consciente e Corajosamente



Landscape by Brook (1908) - Bertalan Por



Diz-nos Bernardo Soares* no "Livro do Desassossego": "A liberdade é a possibilidade do isolamento."

Creio que ele se refira ao fato de cada um poder ser quem é, indivíduo bem conseguido de suas (boas) vontades, garimpado de suas próprias entranhas, possível de alguma originalidade e, assim, de contentamento consigo mesmo.

Para tanto, o isolamento como forma de se individuar, encorpar-se a si mesmo contra o regime geral que nos faz massa de manobra. Evitar as ondas de notícias, de acontecimentos, evitar ser refém do que (sempre) vem de fora, os chamados aturdidos que sugerem "pense isso e faça aquilo".

Isolar-se como a semente, que, só, fermenta-se e explode, vagarosamente, criando nova planta, sua originalidade possível, dando ao mundo seu ser mais real.

Isolar-se do que gera alheamento, a tontura de estar imerso no que vem e vai, sem alegria, sem paz.

Não significa, propriamente, estar só de solidão que dói, mas estar em si, consciente e corajosamente.


|Autor: Webston Moura|


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Nota:
Bernardo Soares é um heterônimo do poeta português Fernando Pessoa

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Máquina Diária de Repetir Tarefas




Machine Element (1924) - Fernand Leger




"Às vezes, em sonhos distraídos,
que me surgem das esquinas do pensamento e da emoção,
visiono amores."
- Bernardo Soares*, no "Livro do Desassossego"



É quando me dou conta
de que já tenho o que preciso,
para mover a minha parte no mundo.

É quando meu apreço
pelas coisas gratuitas
se faz presente.

É quando, sem sofrer,
sinto saudade e antevejo
      a chuva (insuspeita)
             por trás do sol.

E, em seguida, tomado sou
pela urgência da rotina,
máquina diária de repetir tarefas
          e domesticar sentimentos.

|Autor: Webston Moura


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Nota:
Bernardo Soares é um heterônimo do poeta português Fernando Pessoa.

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Há Muitas Palavras no Mundo




Landscape with Posters (1912) - Pablo Picasso



Há muitas palavras no mundo, palavras de todo jeito. Como pedras (quase) sem fim na paisagem agreste da realidade.

Falo da demasia desta toda gasta energia com que nos movemos, falando e aumentando a tempestade que não nos traduz nem resolve problemas.

Há muitas palavras no mundo, ainda que disfarçadas de outras coisas. Palavras que parecem jorrar de alguma cachoeira enorme e ensandecida. E para a qual, cachoeira excessiva, não temos função a dar.



|Autor: Webston Moura|

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quarta-feira, 24 de julho de 2024

O Poder da Palavra



Virgin with Child (c.1455) - Jacopo Bellini



Nem só de pão vive o homem
Pois a Palavra conforta
Ressuscita a vida morta
Sossega os que se consomem
Sacia a todos que a comem
Como alimento do Amor
Do Cordeiro Salvador
Para a nossa Redenção
Através da Comunhão
Do Verbo Sustentador.


|Autor: João de Deus de Sousa [Russas, no Vale do Jaguaribe, Ceará, Brasil]
|Website do poeta no Recando das Letras: [LINK]
|A imagem que ilustra o poema foi escolha do editor de Arcanos Grávidos

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segunda-feira, 22 de julho de 2024

Um Gato Preto



Black Cat - Theophile steinlen



Um gato preto.

A noite,
muro a muro estendida,
     é o que lhe convém.

Cochila o vigilante,
entediado da rotina.
Dorme a criança,
inocente de tudo.

Eu leio notícias de ontem,
que, amanhã, serão requentadas.

O gato passa
e não me sabe senão
como uma fala absurda
que ele não decifra.

noite nos envolve
no silêncio e na canção.

E é o que nos convêm.


|Autor: Webston Moura|

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