domingo, 13 de abril de 2025

O Paraíso




Butterflies - Odilon Redon



O melhor é rir,
mas nem sempre.

Nem tudo nos sorri.

O melhor seria,
imaginemos,
não haver dor.
Porém, há!

O melhor, o melhor, o melhor...
Perseguimos o paraíso,
mas não como fuga.
É que, por uma íntima razão,
ele fala dentro de nós.

Dentro, dentro, dentro, fundo, lá no fim,
outro começo.

O paraíso.


|Autor: Webston Moura|

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Webston Moura
, administrador deste blog, é Tecnólogo de Frutos Tropicais, poeta e cronista. Natural do Ceará, Brasil, mora no município de Russas, na região do Vale do Jaguaribe. Aprendiz de Teosofia, segue a Loja Independente de Teosofistas - LIT. Tem apreço por silêncio, música, artes plásticas, bichos e plantas. É também administrador dos blogs O Caderno Livre e Só Um Transeunte.
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Impossibilidade




Deseret (1959) - Theodoro Stamos




Toda a aridez posta à palavra:
silêncio que se estende pelo incerto.

Camada sob camada,
tudo o que se oculta
no silêncio, a luz
escondida dos olhos,
paisagem de areia
e só.

Toda a aridez posta à palavra:
sua impossibilidade de se parir





|Autor: Webston Moura|

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Webston Moura
, administrador deste blog, é Tecnólogo de Frutos Tropicais, poeta e cronista. Natural do Ceará, Brasil, mora no município de Russas, na região do Vale do Jaguaribe. Aprendiz de Teosofia, segue a Loja Independente de Teosofistas - LIT. Tem apreço por silêncio, música, artes plásticas, bichos e plantas. É também administrador dos blogs O Caderno Livre e Só Um Transeunte.
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quinta-feira, 3 de abril de 2025

A Novidade




Untitled (1972) - Dorothea Rockburne



De fato, e ironicamente, chegamos aqui:
areal de extensão impossível,
o real.

De fato, se posso dizer, chegamos
ao ponto zero de algum lugar sem nome,
novidade repleta de luz e silêncio.

De fato, aqui, os fatos se dissolvem
ante o rigor da calma consolidada
em ser, apenas ser,
e só.



|Autor: Webston Moura|

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quarta-feira, 26 de março de 2025

A Democracia




Dadaville (1924) - Max Ernst



A democracia nos possibilita um grau de liberdade que em outros regimes não há. Mas, simultaneamente, mantém a desigualdade em seu lugar de sempre, inviabilizando a vida de muitos. E ainda que se fale em aprofundar a ideia, aprofundando a prática, isso termina não passando de teoria. Basta ver que, mesmo em municípios do interior, lugares onde possivelmente se estabelecesse melhor uma democracia direta, o que ocorre é o contrário: uma casta que se renova no poder, com as autoridades por sobre todo o resto. Não se trata deste ou daquele grupo, partido ou líder, mas de um modo de ser enferrujado, uma cultura de poder engessada e que, com o tempo, aperfeiçoa apenas suas ferramentas de domínio.



|Autor: Webston Moura|

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Entre a Erva e os Lobos




Barcos - Jean David



Como luvas largadas a um canto, barcos na solidão da praia. Sem jugos e cadeiastal às emoções ao sabor do instinto, pairam. São selvagens, pois sós. São livres, pois livres de nós, estes destinadores inquietos e eternamente em desterro. Não mais dependem de nossa ira. São as flores da montanha, crescendo entre a erva e os lobos.


|Autor: Webston Moura|

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terça-feira, 25 de março de 2025

Plantar e Colher




Colheita - Stefan Popescu



Colhe-se, a cada dia, os dias de antes, o labor e o resto, o sofrer e o gozar, ainda que não se saiba conscientemente disto. Plantar e colher, sem fim, desde que haja vida, do acordar à hora do sono. Isto não digo com qualquer sentido de castigo, mas apenas examinando causa e efeito, a mecânica de nossas ações.

Sou o que faço é uma forma de uma pessoa se ver. Ao se ver, observa melhor o que escolhe plantar e, assim, determina melhor o que vai colher.

Ah, mas a vida é tão incerta! Sim, mas sem planejamento, sem análise, sem ponderação, seria pior.



|Autor: Webston Moura|



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Um Quase




Mèches d'herbes (1978)
- Pierre Tal-Coat




"O suor da mão, o atrito com o papel,
a pressão na caneta sobre a folha."



O poema,
luta mínima do sonhador
que carrego sob a pele.

Atrito viável sob o fogo
e sopro que o vento leva,
            sem cerimônia,
eis a palavra,
um quase no meio do caos,
a soar o que poucos podem
ver e tocar.

|Autor: Webston Moura|

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