Vozes do mar, de
ribeirinhos claros,
de árvores ameigadas pela aragem,
de montes e de vales e de ninhos,
de penedos e de ervas e bichinhos,
respirações suaves da Paisagem…;
de montes e de vales e de ninhos,
de penedos e de ervas e bichinhos,
respirações suaves da Paisagem…;
(uma formiga arrasta um grão: entanto,
há de o seu peso ir a arrastar no chão,
e esse peso, a arrastar, será um canto…;
vai à roseira a borboleta ansiosa:
e ao sugá-la, nos rápidos instantes,
há um barulho musical na rosa
e outro naquelas asas palpitantes…);
há um barulho musical na rosa
e outro naquelas asas palpitantes…);
cantos do Sol amanhecendo a aurora;
vozes do Sol enchendo o meio-dia,
ais do Sol pela tarde gemedora…;
ais do Sol pela tarde gemedora…;
vozes-sopros e sons crepusculares
que evaporais e adormeceis nos ares,
onde tudo dorme e tudo erra:
as dos frutos crescendo nos pomares,
a das raízes a furar a terra;
as dos astros que vão, longinquamente,
rompendo o ar, nas órbitas traçadas,
e donde nos virão (a alma as pressente)
outras vozes, também, adelgaçadas…;
onde tudo dorme e tudo erra:
as dos frutos crescendo nos pomares,
a das raízes a furar a terra;
as dos astros que vão, longinquamente,
rompendo o ar, nas órbitas traçadas,
e donde nos virão (a alma as pressente)
outras vozes, também, adelgaçadas…;
fala do Todo, línguas do universo,
cujos diversos timbres são iguais:
- sois vós, no vosso murmurar disperso,
que este Silêncio universal criais.
Apenas no Silêncio, na beleza
do seu falar, a alma se extasia:
harmonioso como a luz do dia,
o Silêncio é a voz da natureza.
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│Autor: Afonso Lopes Vieira│
Da obra “Ar Livre”, de Afonso Lopes Vieira, Livraria Editora Viuva Tavares Cardoso, Lisboa, Portugal, 1906, 211 pp., pp. 155-157.