Era um
cacimbão grande, fundo.
Embora
desativado, ainda continha água,
uma água
escura, quieta.
Na
escola, era um dos lugares mágicos,
mesmo que
isso se desse por medo.
Íamos
ali, à sua boca, olhar
e temíamos
aquelas paredes descascadas,
aquela água
parada, a parecer antiga,
onde algum
monstro havia de morar,
para sair
durante a noite.
Um dia,
um gato caiu no cacimbão.
Um
garoto, astuto de sua natureza,
fez um
laço e o retirou lá de dentro,
içou-o
à borda, salvando-o.
Aplaudimos
nosso herói.
Até a
diretora gostou.
Os anos
se passaram.
Sem
perceber, estávamos maiores
e atentos
ao andar das meninas.
Suas
saias eram tão bonitas.
Seus
perfumes, seus cabelos.
Foi
assim que nos esquecemos do cacimbão,
ao menos
de olhá-lo tanto.
Mas,
nunca o deixamos totalmente.
Dizem
que ele não existe mais,
que fora
aterrado com entulho
e que
lhe pesam,
sob a escuridão da terra,
sob a escuridão da terra,
muitas
toneladas de memória.
│Autor:
Webston Moura│