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sexta-feira, 13 de maio de 2016

O Abandono



Abstract Composition (1915) - Jean Arp




(Onde o incerto, também a vida)

A calidez com que o dia se ergue
e afia o seu humor por sobre as casas.
A nossa forma mesma de recebê-lo,
impossibilitados de sermos mais.
A vaga lembrança, no meio da tarde,
de um momento de devaneio.
A consciência e os hiatos
que preencherão o corpo.
O inventário de infrações e desejos,
caderno posto a funcionar sem fim.
A pele que se enruga, ao espelho:
luz devolvida em desagrado.

Abrir a porta,
como quem já sabe,
e, a seu pé,
um perene tigre reencontrado.
Erguer os braços e despejar
os restos de um sono conhecido.

Bocejar
(um por um triz):
e ar não faz música.

Tomar banho,
comer o rápido
e sair em áspero.

O abandono.


|Autor: Webston Moura|

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Webston Moura
, administrador deste blog, é Tecnólogo de Frutos Tropicais, poeta e cronista. Natural do Ceará, Brasil, mora no município de Russas, na região do Vale do Jaguaribe. Aprendiz de Teosofia, segue a Loja Independente de Teosofistas - LIT. Tem apreço por silêncio, música, artes plásticas, bichos e plantas. É também administrador dos blogs O Caderno Livre e Só Um Transeunte.
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