sábado, 25 de novembro de 2017
CONSUMAÇÃO
Somos
tempo.
Estamos
na combustão,
na
consumação do que chamamos de vida,
nossas vidas,
esta
matéria da qual geralmente pouco sabemos.
Nela, o
tempo não se sobressai de fora para dentro,
mas explode
mesmo do centro em diante.
Somos
tempo, ao lado de estrelas, plantas e pedras.
│Autor:
Webston Moura│
quinta-feira, 23 de novembro de 2017
SERTÃO
Os
pés-d’água, onde, se a poeira é tudo?
A terra
seca, extrema, nos consome.
Devagar,
uma carroça se arrasta;
os
bois, magros, gastam-se no aberto.
Com as
pedras,
nossa
comunhão de enfadonha aridez se completa.
Sertão.
│Autor:
Webston Moura│
quarta-feira, 22 de novembro de 2017
VIAJANDO NA MADRUGADA
Você
quer paz
(galos
levantados para o sol),
mas há
uma intensidade estranha pelo quarto.
Você se
veste e vai à rua.
Tenta
encontrar o âmbar daquelas retinas.
(Vagando,
a solidão é este cão ao tornozelo,
torneira
pingando sua reza faminta).
Olhos-nenhuns
te visitam.
Você
não tem saída: é um dia sem porto.
Há,
ainda, de dormir, caso queira
─ e
para não sucumbir ao lodo final ─,
enovelado
ao céu gratuito da inteira noite,
viajando,
viajando, viajando.
I am on a lonely road and
I am traveling, traveling, traveling, traveling
Looking for something, what can it be?
─ Joni Mitchell, in All I want, álbum “Blue” (1971)
─ Joni Mitchell, in All I want, álbum “Blue” (1971)
│Autor:
Webston Moura│
ÁVIDA FLAMA INCESSANTE
Quer correr,
indefinidamente,
apenas correr,
como se o mar pudesse,
por sobre
as águas, velozes pés,
anjo de
fogo, riscar o azul, cortar ventos
e ir-se
para Áfricas e Ásias, golfinho e foguete,
ácido,
leve, pesado, pleno, só, total, inconcluso,
pessoa.
Quer correr
dentro da seiva contraditória da vida.
│Autor:
Webston Moura│
ÚLTIMO GRITO CONTRA A ESCURIDÃO
Fala-se
muito.
E há
muitos fogos.
Carros
assomam às ruas.
Sequer
é dia especial.
Fala-se
muito.
Há
muitas queixas e pouca solução.
No
vozerio,
um
homem, só,
desata
sua última canção
e sequer
risca a parede.
A moça,
de vermelho, passa.
Parece
feliz, com seu andar resolvido e leve.
Não vê
o homem.
Ninguém
o vê.
As
vozes não permitem,
o barulho
não permite,
a pressa
não permite.
Há um
mundo a se viver,
sem este homem, claro,
este que desata seu último grito contra a escuridão.
sem este homem, claro,
este que desata seu último grito contra a escuridão.
│Autor:
Webston Moura│
CATILINA
![]() |
Fotografia de (c) Carlos Eduardo Leal |
Eu sou o
solitário e nunca minto.
Rasguei toda a vaidade tira a tira
E caminho sem medo e sem mentira
À luz crepuscular do meu instinto.
E caminho sem medo e sem mentira
À luz crepuscular do meu instinto.
De tudo desligado, livre sinto
Cada coisa vibrar como uma lira,
Eu - coisa sem nome em que respira
Toda a inquietação dum deus extinto.
Eu - coisa sem nome em que respira
Toda a inquietação dum deus extinto.
Sou a seta lançada em pleno espaço
E tenho de cumprir o meu impulso,
Sou aquele que venho e logo passo.
Sou aquele que venho e logo passo.
E o coração batendo no meu pulso
Despedaçou a forma do meu braço
Pra além do nó de angústia mais convulso.
│Autora: Sophia de Mello Breyner Andresen│
Pra além do nó de angústia mais convulso.
│Autora: Sophia de Mello Breyner Andresen│
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