quarta-feira, 7 de novembro de 2018

SONHOS

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Alguns sonham o momento
                         o passado
                         o futuro

     alguns sonham o instante
                  em fulgurantes astros
                  cadentes em nuvens

alguns sonham a volta
                         na revolta
                         do mar revolto
                         amainado em brisas

alguns sonham a verdade
                             no espaço
                             das desculpas

alguns sonham que são felizes
                            e se realizam
                               ao acordar.

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DREAMS

Some dream about the moment
                                 the past
                                 the future

    some dream about the instant
               in flashing stars
               shooting in clouds

some dream about the return
                              in the revolt
                              of the rough sea
                              fallen in breezes

some dream about the truth
                             in the space
                             of apologies

some dream that they are happy
                           and it takes place
                                   upon waking.

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Poema do livro Imagem & Reflexo, de Pedro du Bois e Marina Du Bois (tradutora dos poemas para a língua inglesa), Projeto Passo Fundo, 2018 [http://www.projetopassofundo.com.br/]. Pedro De Bois mantém o seguinte blog: http://pedrodubois.blogspot.com/.

Para ler outros poemas do Pedro neste blog, clique [aqui].

ENTRELAÇOS – CRÔNICAS EPISTOLARES, de Tânia Du Bois



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Buscar papel, ausentar-se do mundo, trancar-se num quarto, escrever uma carta, mas não de uma vez só. No decorrer de dias, escrevê-la, percorrendo lembranças, intimidades, emoções, palavras mais em conta, alguma surpresa (ou novidade) a ser posta no papel. Envelopar, ir aos Correios, tomar a fila, esperar, concluir o ritual de quem, ansioso e alegre, se comunica, à distância, com um outro, pensamento firme e leve, sorriso em silêncio, cumplicidade. Já fiz isto. Num tempo em que havia menos crimes e mais confiança entre as pessoas; num tempo onde se utilizava fichas telefônicas e orelhões, já fiz isto. E também gostava, claro, de receber cartas. Detalhe: carta não é encomenda, mas sentimento, confissão, amizade, intimidade, conversa especial que não mais, ou muito pouco, existe. E também receber cartas, abrir envelopes, sentir seus cheiros, desembrulhar os papéis de diferentes cores, encontrar alguém, já o fi. Depois, com carinho, redobrar os papéis, recolocar nos envelopes, se não muito estragados ao serem abertos, e guardar tudo numa caixa especial, esta colocada num lugar também de afeto. Relê-las? Sim, como quem reencontra o outro, para reavivar algo, instantaneamente, e, se possível, fazer demorar, demorar-se ali, silenciosamente, tempo estendido. Durante os anos, revê-las, mesmo que só imaginando-as, sabendo-as guardadas dos outros, como um segredo entre duas pessoas que, talvez, já não mais se falem, um amor despedaçado, uma amizade desfeita, mas, de algum modo, guardado ainda intacto, seja memória de um tempo, de um ano, um verão, um inverno, uma viagem, uma música (“a nossa música’, pensava-se com terna condescendência). Camadas de vida, história. É disso que se trata o Entrelaços – crônicas epistolares, de Tânia Du Bois, Projeto Passo Fundo. Ou, ao menos, foi como me tocou o livro. E eu, que por fraqueza e comodismo deixei de escrever cartas, reacendo-me com suas histórias, detalhes, vidas entrelaçadas que ali me estão à mão, para que eu também, de alguma forma entrelaçado na trama, saiba-me vivo, apesar dos dias turbulentos que todos vivenciamos.

SERVIÇO:
Entrelaços - crônicas epistolares
Tânia Du Bois
Projeto Passo Fundo

sexta-feira, 3 de agosto de 2018

PRESSAS E ATRASOS


Na rodoviária,
o ninguém da multidão
indo e vindo,
sem nome,
só rostos
e coisas de carregar.

O nome do bêbado
(na mesma calçada),
caso o tenham dito,
nem se sabe mais:
o trânsito
(este dever,
esta sensação)
não nos deixa saber
nada além
de seu usufruto:
ir e vir, ser útil,
pagar e agradecer.

Na rodoviária,
um atraso
é um tipo de sorte:
uma senhora
de Tangará da Serra
conta-me
de filhos e viagens,
mostra-me a foto
do marido sumido
na Serra Pelada,
diz-me de uma ida
à Caiena, na Guiana,
e outras miudezas destas
que fazem a vida
valer pressas e atrasos.


│Autor: Webston Moura│

BAGAGEM


Esta bagagem
de miúdas solidões
que me pesam as palavras
e,
às vezes,
as impedem,
barrando-as,
fazendo-me engolir o cotidiano.

Esta bagagem
que não posso,
por acaso,
esquecer
na porta de uma lanchonete
ou sobre um banco de praça.

Esta bagagem,
os anos,
a luz e os obscuros nascidos disto,
sonhos ora calmos, ora aturdidos
com que me observo,
observando o mundo.


│Autor: Webston Moura│