sábado, 12 de maio de 2018

AQUELE INSTANTE ANTES DA CHUVA






[Enquanto escuto o lindo
Bright Size Life (1976),
de Pat Metheny,
especialmente a faixa “Sirabhorn”]

...............

Ao alto, o som da água caindo,
como se relógio fosse,
a caixa d’água no escuro,
madrugada úmida.

Vai chover.
Há calor espalhado, abafamento,
densidade crescente no ar.
Porém, estou protegido.

Decifro, a partir de uma antiga arte,
uma figura em vermelho, O Fantasma,
sua companheira, Diana Palmer,
e seu cão, Capeto.
Quadro a quadro, uma estória,
um lugar distante,
males que precisam de combate,
os ardis e, por fim, o desfecho.
Fantasia.

Perco o tempo, dizem,
pois, com esses passatempos de demoras tolas,
não estou a erguer os dias onde todos se congregam.

Mas,
pergunto eu aos homens-força
se já ouviram os tambores de Bengala na floresta.
Ouviram?

E, de pé,
com os olhos fechados,
nus em seus quartos,
girando leve,
souberam-se vivos,
assim vivos desprovidos de disfarces?


│Autor: Webston Moura│


Fonte da imagem: Google Imagens

AINDA BEM QUE TOCOU ESSA MÚSICA SUAVE






Sim, eu também tenho o meu “lado brega”, como se costuma dizer de todo aquele que, mesmo de modo leve, gosta do Roberto Carlos. Considero bons e agradáveis todos os discos dele do início da carreira até o final dos anos 1970. E este que comento é de 1978, quando eu era uma criança e seguia minha mãe nesta viagem sentimental naquelas manhãs em que ela ligava a velha radiola e colocava o vinil tocando alto. O álbum leva o nome do autor, como outros, coisa de rei, não é? Aos primeiros acordes de “Fé”, lá estava eu envolvido pela música. Com o passar do tempo e o amadurecimento, pude crescer meu coração para apreciar, com ternura, “A Primeira Vez” (canção que me lembra a primeira namorada), “Música Suave” ─ “Ainda bem que tocou / Essa música suave ? Eu posso dançar com você / Como no passado” ─, o clássico “Café da Manhã” e a misteriosa “Por fin Mañana”, onde se ouve: “Por fin, mañana / Tendré la dicha / De Tomarte entre mís brazos”. Meus caros amigos, caso possam, escutem, que hoje é sábado, um dia para relaxarmos um pouco e, quem sabe, reencontrarmos doces lembranças. Este disco é muito bom para isso. Acho que tem no youtube.

OBS.: O título do post é, por certo, versos de "Música Suave"

Fonte da imagem: Google Imagens

INSÍDIA






Invisíveis,
como os perfumes
ou os sentimentos,
aquele não-sei-quê
que alho não é,
tampouco laetitia indiana antiga,
ainda menos a docilidade das brisas,
estes todos venenos que a lei permite e o mercado impõe.

Para a nossa saúde & bem-estar.


│Autor: Webston Moura


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NOTA DO AUTOR:
Poema inspirado num post do Greenpeace, lá no Facebook, cuja imagem peguei de empréstimo (a que se vê acima), e cujo texto (do post, obviamente) reproduzo a seguir:

"Esses deputados querem colocar mais veneno em nosso prato! O Ministério Público Federal diz que o PL 6299/2002 é inconstitucional. A ANVISA, a Fiocruz, o INCA, o IBAMA e o Conselho Nacional de Direitos Humanos repudiam o projeto. Mais de 100 mil pessoas e 300 organizações da sociedade civil são contra. Mas eles preferem ignorar a opinião dos cidadãos! Entenda e confira quem é a favor deste absurdo >> https://act.gp/2rAWy2P"

DE MÃOS VAZIAS






De mãos vazias,
como uma criança em primeiros passos,
para receber o susto que os trovões dão,
a surpresa dos ciclos naturais,
a paciência eficaz das lagartas sobre o milho.

De mãos vazias,
como uma criança domingando o tempo inteiro,
para viver ─ adultos dizem descobrir ─ e nada mais.

De mãos vazias:
assim, teus olhos me chegarão
e eu não terei analgésicos contra,
nem customizarei qualquer cor erguida espontânea.


│Autor: Webston Moura│

Fonte da imagem: Google Imagens