A cidade de Russas necessita de um ABRIGO PÚBLICO PARA ANIMAIS ABANDONADOS, com clínica e profissionais adequados aos cuidados. Apoie essa ideia e exija dos nossos representantes políticos ações efetivas! A cada ano, dezenas de animais nascem e morrem, sem que haja uma política pública adequada que os proteja. Não podemos deixar que isso continue!

sábado, 31 de janeiro de 2015

CENA DOMÉSTICA



Na sala de jantar, na tarde mansa,
Está toda a família reunida;
No mister de bordar, em doce lida,
Minha mulher do seu labor descansa.

As linhas do bordado quem destrança
É a nossa menina mais crescida;
As outras duas, uma à outra lança,
Rente ao chão, uma bola colorida.

Numa poltrona o nosso filho lê;
Histórias em quadrinhos, já se vê,
Pelas quais o seu gosto se revela.

Eu escrevo da mesa à cabeceira;
Meu curió “Barão”, posto à janela,
Completa a cena e canta a tarde inteira...



Autor: JOSÉ GERALDO PIRES DE MELLO
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JOSÉ GERALDO PIRES DE MELLO – Nasceu em Niterói em 1924 e faleceu em Brasília em 2010. Estreou em livro com seu De Braços Dados (coroa de sonetos), em 1975, seguindo-se outros livros de sonetos: Chama de Amor (1978), O Catavento Amarelo (1978) e A Mensagem do Arco-íris (1981), todos eles publicados em Brasília, onde residiu por mais de quarenta anos.
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ÍNDICE




O homem é a matéria do meu canto,
qualquer que seja a cor do que ele sente.
E não importa o motivo do seu pranto,
é um homem, meu irmão, e estou doente

de sua dor, e é o meu o seu espanto
do mundo e desta hora incongruentes.
Na trincheira do Verbo me levanto
contra o que contra o homem se intente.

O homem é o objeto e o objetivo
de quanto sei cantar, e o canto é tudo
que pode me explicar porque estou vivo.

Às vezes sou ateu, noutras sou crente,
em outras sou rebelde, em algumas mudo:
― sou homem, e canto o homem no presente.


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VIRIATO (SANTOS) GASPAR – Nasceu em São Luís (MA), em 07/03/1952. Jornalista desde 1970, reside em Brasília desde agosto de 1978. Funcionário aposentado do Poder Judiciário. Participação em mais de uma dúzia de antologias poéticas no Maranhão e em Brasília. Vencedor de muitos prêmios literários tanto em sua terra natal quanto no Distrito Federal. Bibliografia: Manhã Portátil ― poesia, Gráfica SIOGE, Plano Editorial “Gonçalves Dias”, São Luís-MA, 1984; Onipresença ― poesia (versão incompleta), Gráfica SIOGE, Plano Editorial “Maranhão Sobrinho”, São Luís-MA, 1986; A Lâmina do Grito ― poesia, Gráfica SIOGE, Plano Editorial da Secretaria de Cultura do Estado em convênio com o SIOGE, São Luís-MA, 1988, e Sáfara Safra ― poesia, Plano Editorial da Secretaria de Cultura do Estado em convênio com o SIOGE, São Luís-MA, 1996. Tem, inéditos, dois livros de poemas, um de contos e um Livro de Salmos em linguagem moderna.
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AMOR



Amor é, não possuí-lo: amor, vivê-lo.
Possuí-lo é desvendá-lo. E amor ― verdade,
beleza, poesia,― sarça ardente,
é refratário a toda matemática.

Amor é sol que não se vê mas queima.
Ave, não canta, mas lhe o canto ouvimos,
― mas de um outro entender, que só de ouvidos
da alma é ouvir cantigas represadas.

Sol e ave. Mas, ave, é um sol que brilha.
Queimar-se dele. Por suprema graça,
ver-lhe do espectro as invisíveis cores.

Jamais situá-lo, em tosca astronomia.
Pesquisá-lo é destruí-lo. Amor, portanto:
queimar-se, e só, sem mais filosofia.


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# Constante de Sonetos de bolso: antologia poética (Thesaurus, 2013)

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Anderson Braga Horta – Nasceu em Carangola, MG, em 17/11/1934. Radicado em Brasília desde 1960. É poeta, contista, ensaísta e tradutor. Poesia: Altiplano e Outros Poemas, Marvário, Incomunicação, Exercícios de Homem, Cronoscópio, O Cordeiro e a Nuvem e O Pássaro no Aquário, publicados entre 1971 e 2000; Fragmentos da Paixão: Poemas Reunidos, Pulso e Quarteto Arcaico, 2000; Antologia Pessoal, Brasília, 2009; Elegia de Varna (bilíngüe), trad. de Rumen Stayoanov, Sófia, 2009; Signo: Antologia Metapoética, Thesaurus, Brasília, 2010; De Uma Janela em Minas Gerais ― 200 Sonetos, Guararapes, EMG, 2011; De Viva Voz, Thesaurus, Brasília, 2012.
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quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

ANOTAÇÃO ANTIGA



quando a noite
com seu eterno e sutil silêncio descer
repousarei sob a consciência

breve

meus olhos irão se desvanecer, breve
em pálpebras inertes...
― a minha mente vagará em outras dimensões

disperso

ficará anotado em meu diário:
― meu dia não foi em vão, amanhã serei outro tempo



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# Poema constante de AS CORES DO TEMPO (Calibán, 2007)

│Majela Colares
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quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

DOIS POEMAS DE DÉRCIO BRAÚNA


PEQUENOS DEUSES


Repara na tarde que te guarda (na vida
que te escapa, cada polegada por
segundo): o que nela não é senão essa
confusa distribuição de seda e péssimo?[18]

Vês aquelas crianças: contra a púrpura
da tarde, sobre suas velhas bicicletas
(como pequenos deuses em aparição),
não dirias que todo futuro será fabuloso?

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O CREPÚSCULO POR SOBRE AS COISAS


Mas as nuvens alaranjadas do crepúsculo
douram todas as coisas com o encanto da
nostalgia; até mesmo a guilhotina,[19] até
mesmo essas futuras bestas que, sobre
suas idílicas bicicletas, não imaginam
(poderiam?) a esplêndida atrocidade
que suas pequeninas mãos guardam. ―
Eis o milagre sumário das coisas.


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NOTAS (Conforme enumeradas no próprio livro, Metal sem Húmus):
18. CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE, Claro enigma – “Contemplação no banco” (Rio de Janeiro: Record, 2006, p. 38).
19. MILAN KUNDERA, A insustentável leveza do ser (São Paulo: Companhia das Letras, 1999, p. 10).


# Poemas constantes de Metal sem Húmus (7Letras)

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quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

VOLTAR AO SOPRO






“Tudo isto para brilhar um instante,
apenas, para ser lançado ao vento,
— por fidelidade à obscura semente,
ao que vem, na rotação da eternidade.”
- Cecília Meireles, em “Primavera”



Nada que não seja isto:
diante dos girassóis,
encher-me de amarelos,
com o horizonte ao fundo,
o azul em que dança
a imagem de um pássaro
                                    que,
                    por longe,
não diviso.

Nada que não seja isto:
abrir o livro da tarde
(em verdade, abrir-me),
para receber a luz
que do pássaro aos girassóis
a tudo repleta e aviva.

Nada que não seja estar
com estas inflorescências.
Longe de toda insalubridade,
poder voltar ao sopro.

│Autor: Webston Moura




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Webston Moura
, administrador deste blog, é Tecnólogo de Frutos Tropicais, poeta e cronista. Natural do Ceará, Brasil, mora no município de Russas, na região do Vale do Jaguaribe. Aprendiz de Teosofia, segue a Loja Independente de Teosofistas - LIT. Tem apreço por silêncio, música, artes plásticas, bichos e plantas. É também administrador dos blogs O Caderno Livre e Só Um Transeunte.
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