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terça-feira, 28 de fevereiro de 2017

LEMBRANÇA



Sempre que o céu se nubla,
lembro-me dos céus da infância,
aqueles infinitos horizontes
e a vertigem de antes de cair as águas.
Devagar ou rápida, vinha a chuva,
o mundo inteiro ficava úmido,
uma inteira posse de águas em toda parte.
Depois, a míngua dos fios d’água ao pé das calçadas,
o ar limpo, o retorno dos citadinos à rotina,
a vida lavada, a leveza com que se supunha a vindoura noite.

Diria alguém ser isto natural, ontem ou hoje,
como quem toma por banal o que a vida naturalmente repete
─ chuvas, crepúsculos, um broto de carnaubeira.

A cada chuva, porém, repetição que o seja,
reinicia-se alguma infância no coração do homem,
que, comum ou não, saberá sentir,
se acordado para mais, se criança ainda.

Nada há na vida que, sendo beleza, não seja uma forma de milagre.

Diante da chuva, gratuidade da vida, meu coração é bastante,
não sofre senão uma alegria íntima, muito íntima, quase secreta.


│Poema da Série “Por Ocasião da Chuva” – Autor: Webston Moura│

O LADO ESQUECIDO DA CIDADE



Toda cidade tem sua parte baixa, periférica.
É onde os pobres teimosamente vivem.
A chuva que molha os altos, a fazer serenata nas varandas,
é a mesma que, nas partes baixas, desassossega.
Desfazer casas e barracos, fazer rolar ribanceiras,
sua chegada tem dessas tarefas de ofensa.
Ainda assim, por uma mágica razão de sentir,
uma mão sensível recolhe pingos e os bebe misturados a um sorriso.


│Poema da Série “Por Ocasião da Chuva” – Autor: Webston Moura│

O OLHAR DO RIBEIRINHO



Chove.
A estação não cessa.
Vai-se o rio mais largo e mais veloz.
As casas do lado de lá tem suas cumieiras alcançáveis à mão
de quem navega em canoa ou noutro arranjo.

Porém, detrás do olhar do ribeirinho restante,
este que apruma nos lábios e nas mãos uma prece
e estuda cautelosamente as nuvens,
vê-se a lavoura, a vazante e o peixe de um domingo.

│Poema da Série “Por Ocasião da Chuva” – Autor: Webston Moura│