A cidade de Russas necessita de um ABRIGO PÚBLICO PARA ANIMAIS ABANDONADOS, com clínica e profissionais adequados aos cuidados. Apoie essa ideia e exija dos nossos representantes políticos ações efetivas! A cada ano, dezenas de animais nascem e morrem, sem que haja uma política pública adequada que os proteja. Não podemos deixar que isso continue!

sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

O HOMEM SENTADO

               Sentado
em sua impassível  cadeira de balanço
defronte a casa,
                             aquele velho
                             é só um velho,
um escombro
que não perturba
as infinitas claridades do dia.

             Sentado,
            imóvel,
é um campo inerte
de tácito silêncio
que não produz
um mínimo pulso
no coração voraz das coisas.

               Seria.

Pois eis que uma mão
toca,
        abre esse campo,
        traduz em caos e inércia;
e o que antes
não-era,
não-estava,
                     pulsa,
                     devasta
o equilíbrio límpido do branco ―

penetraste, Poeta,
no arcaico engendro da vida!



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* Poema constante de O Pensador do Jardim dos Ossos (Expressão Gráfica e Editora, 2005)
* Sobre Dércio Braúna, acesse este (LINK)
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│Autor: Dércio Braúna│
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18/54




Estranha estação existe
Quando quero qualquer
Alumbramento, ascensão, acorde



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* Poema constante de Aliterar versos 20/60 + alguns instantâneos (Expressão Gráfica e Editora, 2013)




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Luciano Bonfim – Natural de Crateús-CE, vive em Sobral. Professor da Universidade Estadual Vale do Acaraú – UVA. Mestre em Educação Pela Faced/UFC. Publicou: Dançando com sapatos que incomodam (2002); Beber água é tomar banho por dentro (2006) e Móbiles – hestórias e considerações (2007). Possui contos e poemas publicados em blogs e sites, revistas e antologias literárias. Em 2010 foi selecionado pelo programa Bolsa Funarte de Criação Literária Funarte/MinC, onde desenvolveu o projeto Caminhos do Sol [livro e exposição de fotografias]. E-mail: lucianogbonfim@gmail.com
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Manhã branca

Manhã branca,
tênue.
O mar é o meu vestido,
quase claro, quase volátil.
O ar é asa quase leve, quase nada.
Desnecessário é dizer-te
que te espero nas frestas
mais mornas da brisa.
Sonhei com uma corda
puxada pelos dois,
para que lado, esfumou-se...

Acredito que um dia o dia seja uno
e sejamos ambos a manhã.



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# Poema constante de Parto Com os Ventos (Kreamus, 2013)



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Lília Tavares (1961)  é psicóloga clínica, há 24 anos a trabalhar na reabilitação de jovens e adultos. Casada e mãe de dois filhos, frestas de luz que a vida lhe deu. Unida à Poesia desde os treze anos, publicou em 1979 Fusão Crepuscular e outros Poemas em edição de autor. Participou, a convite, numa antologia de poetas do Baixo Alentejo, dois anos mais tarde. Natural de Sines, traz consigo o aroma das marés vivas de Setembro. De extremos, ama o aroma das terras, o sol, as alfazemas em Junho. Criadora e co-autora da Página "Quem lê Sophia de Mello Breyner Andresen"Lília é co-autora da Página "Poesia com Artes" e, neste âmbito, realiza  Encontros de Poesia e Artes em Oeiras. Tem criado eventos, prefaciado,  participado e/ou apresentado diversos livros de poesia de outros autores. Participou com outros onze autores em Rio de Doze Águas(Coisas de Ler, 2012), antologia prefaciada por Joaquim Pessoa. Publicou Parto com os Ventos (Kreamus, 2013), prefaciado por Carlos Eduardo Leal, RJ, e ilustrado com esculturas de arame de Simone Grecco, SP. Ama as pequenas coisas. Prende o olhar numa lágrima, num amigo, numa estrela.
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quinta-feira, 1 de janeiro de 2015

DA DELICADEZA DE DEUS

[...] do mesmo modo como o queijo é feito
do leite, e do qual surgem os vermes [...]
Carlo Ginzsburg, O Queijo e os Vermes



Criar é uma grade brutalidade.[1]
Deus o sabe ―
                      por isso a vida.

Se falta irrigação
à minúscula carne de um recém-feto,
se falta a vital pancada
ao músculo que nos mantêm,
se morre uma besta estropiada:
                                        a delicadeza de deus
                                        põe os vermes
                                        a cantarem
                                        sobre tudo isso ―

e que dessa música faça-se tudo!


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1. HERBERTO HÉLDER, Ou o poema contínuo – “Poemacto – IV” (São Paulo: A Girafa, 2006, p. 119)
# Poema constante de Metal sem Húmus (7Letras, 2008)

│Autor: Dércio Braúna│
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NÉON



Luz descerrada e crua
Que não rodeia as coisas
Mas as desventra
De fora para dentro

Espaço de uma insônia sem refúgio
Tudo é como um interior violado
Como um quarto saqueado
Luz de máquina e fantasma


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# Poema constante de Geografia (Editorial Caminho, 2004)


│Autor: Sophia de Mello Breyner Andresen
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quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

MANHÃ




Estou
E num breve instante
Sinto tudo
Sinto-me tudo


Deito-me no meu corpo

E despeço-me de mim
Para me encontrar
No próximo olhar.


Ausento-me da morte
não quero nada
eu sou tudo
respiro-me até à exaustão.


Nada me alimenta

porque sou feito de todas as coisas
e adormeço onde tombam a luz e a poeira


A vida (ensinaram-me assim)
deve ser bebida
quando os lábios estiverem já mortos


Educadamente mortos



(1979)




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# Poema constante de RAIZ DE ORVALHO E OUTROS POEMAS (Caminho, 2009)
# Originalmente, postado na página Quem lê Sophia de Mello Breyner Andresen (Clique AQUI)

│Autor: Mia Couto
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POEMA DE AMOR




O Céu, as linhas de luz na água, 
caminhos diferentes para o coração. 
A queda de sons diversos na atenta coincidência 
dos ouvidos. A relação de uma límpida tarde 
com um movimento de ombros junto do teu corpo, 
na luminosa sequência da tua voz. 
Um andar divino de transparente espectro 
sobre o fundo de árvores; 
o acentuar da impressão dos teus olhos 
na quente atmosfera estagnada. 
Mas o súbito levantar do vento dissipou 
a primitiva aparência. Um canto lívido 
de mortas recordações apenas subsistiu, 
o indefinido desgosto dos teus braços, 
o remorso de gestos incompletos 
que a memória suspende. 
Nem me espanto já com a tua proximidade. 
Bem vindos, decompostos lábios! 
O ranger da cama sobrepõe-se 
ao ruído das cigarras.



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# Poema constante de POESIA REUNIDA [(1967-2000) Pub. D.Quixote, 2000)]
# Originalmente, publicado na página Quem lê Sophia de Mello Breyner Andresen (Clique AQUI)

│Autor: Nuno Júdice
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sábado, 20 de dezembro de 2014

TAL A UMA ÁRVORE MORTA DE PÉ



“O tolo cruza as suas mãos, e come a sua própria carne.
- Eclesiastes 4:5




São tantas as vozes, mas não lhes há esteio,
exceto por suas próprias sequelas,
ramos ardidos que noutros se repetem,
fastios de cães na noite infinda.

Pedem água e justiça; choram por leis
às quais apregoam bálsamo do mundo,
                                     se bem que não.
São elas mesmas toda a mesmice
que se consegue à força do hábito.

São tantas as vozes, mas uma voz só,
o canto de um bicho que se perdeu,
como a aborrecida beleza de um osso
ou tal a uma árvore morta de pé.


│Autor: Webston Moura│



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Webston Moura
, administrador deste blog, é Tecnólogo de Frutos Tropicais, poeta e cronista. Natural do Ceará, Brasil, mora no município de Russas, na região do Vale do Jaguaribe. Aprendiz de Teosofia, segue a Loja Independente de Teosofistas - LIT. Tem apreço por silêncio, música, artes plásticas, bichos e plantas. É também administrador dos blogs O Caderno Livre e Só Um Transeunte.
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COISA AMAR




Contar-te longamente as perigosas
coisas do mar. Contar-te o amor ardente
e as ilhas que só há no verbo amar.
Contar-te longamente longamente.

Amor ardente. Amor ardente. E mar.
Contar-te longamente as misteriosas
maravilhas do verbo navegar.
E mar. Amar: as coisas perigosas.

Contar-te longamente que já foi
num tempo doce coisa amar. E mar.
Contar-te longamente como dói

desembarcar nas ilhas misteriosas.
Contar-te o mar ardente e o verbo amar.
E longamente as coisas perigosas.

(1976)


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# Poema constante de Coisas do Mar (Perspectivas e Realidades; Lisboa, 1976)
# Poema replicado da página Quem lê Sophia de Mello Breyner Andresen (Clique AQUI)


│Autor: Manuel Alegre
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sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

Visão



A montanha escondida
sob  a névoa. A neblina fecha
a vista. Reviso a matéria
ainda pulsante.

Memorizo igualitariamente
o sucesso e o fracasso.

Do sucesso estudo
o início. Do fracasso
conservo a névoa
toldada na visão
do artista.


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* Poema constante de Iguais: poemas (Projeto Passo Fundo; 2013) - Clique (AQUI).

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* Pedro Du Bois [Passo Fundo-RS, Brasil] - Poeta, contista, autor de Iguais (poemas), O senhor das estátuas (poemas), Os objetos e as coisas (poemas) Pedro Du Bois Em Contos (contos). Participa do Projeto Passo Fundo (http://www.projetopassofundo.com.br/), é membro da Academia Itapemense de Letras e do Clube dos Escritores de Piracicaba. Mantém o blog Pedro Du Bois - Poemas (http://pedrodubois.blogspot.com.br/) e reside atualmente em Balneário Camboriu-SC, Brasil.
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quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

MANHÃ



É um pequeno milagre, esta claridade. 
Os telhados acendem-se como fornalhas, 
permanece vermelha uma parte do céu. 
A noite, se existiu, foi para nós um erro 
de perspectiva, uma ilusão, um ardil de 
sombras e estrelas perdidas no escuro.

Agora é de um azul sem mácula, o céu; 
a cidade, um corpo branco a levantar-se; 
e esta luz — rasa, rosa, crua — já não um 
pequeno milagre, mas uma evidência.


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* Poema constante de LUZ INDECISA (Oceanos, 2010).
* Post replicado da página Quem lê Sophia de Mello Breyner Andresen (Clique AQUI)

│Autor: José Mário da Silva
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sexta-feira, 3 de outubro de 2014

Inexistência


Busco no calendário o inexistente
e escuto o vento rodear a casa.
Empunho a arma doutrinária
da elasticidade com que distâncias
se fecham em notícias. O dia
anunciado no regredir do ano.
A estrela apanhada em rituais.
Uno a finalização dos destinos
e do interior da casa escuto
a ordem de retorno. O vento
cessa a busca por enquanto.



│Autor: Pedro Du Bois
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# Poema constante de Iguais (Projeto Passo Fundo, 2013)

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* Pedro Du Bois [Passo Fundo-RS, Brasil] - Poeta, contista, autor de Iguais (poemas), O senhor das estátuas(poemas), Os objetos e as coisas (poemas) Pedro Du Bois Em Contos (contos). Participa do Projeto Passo Fundo (http://www.projetopassofundo.com.br/), é membro da Academia Itapemense de Letras e do Clube dos Escritores de Piracicaba. Mantém o blog Pedro Du Bois - Poemas(http://pedrodubois.blogspot.com.br/) e reside atualmente em Balneário Camboriu-SC, Brasil.
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quinta-feira, 2 de outubro de 2014

BREVE MAPA DE UMA TERÇA-FEIRA

nenhuma data rezinga na solidão de agora,
exceto a que, tarde de chuva e barcos de papel,
pronuncia o menino que fui e que em mim continua.

                   (o amarelo das fotos me tinge)

lá fora, um inchaço a que chamamos cidade:
                caminhos e labirintos; dinheiro.

sob esta goiabeira, a sol resistida,
com um arisco azulão a saltar,
sou remorso quase alegre, quase melancólico,
e penso: é preciso deflagrar o bálsamo.



│Autor: Webston Moura
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NOTA:
I. Os versos em negrito e itálico constam, respectivamente, dos meus poemas "Alma de lacrau",  "Cascas do sono" e "Bálsamo violento" (Encontros imprecisos: insinuações poéticas; 2016)
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quarta-feira, 1 de outubro de 2014

[É por ti que se enchem os rios]

É por ti que se enchem os rios
de carpas azuis,
de águas que querem saltar
pela minha janela.
Como é belo este silêncio ilimitado
quando nas copas redondas das árvores
o teu nome me chama.
Pedi-te que apagasses a lua
e que nos campos tacteando te encontrasse.
Sei-te na aurora, por isso não temo
e agora a lanterna dos dias pode
por fim ficar em ventos de abraços.
Voam aves dentro dos teus sonhos
como memórias de pétalas acordadas.
Ficas ancorado dentro do meu tempo.
Não há saudade nem solidão
que se não derrube.





│Autora: Lília Tavares
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# Poema constante de PARTO COM OS VENTOS, Prefácio de Carlos Eduardo Leal, Ilustrações a partir de esculturas de arame, por Simone Grecco (Kreamus, 2013)

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Lília Tavares (1961)  é psicóloga clínica, há 24 anos a trabalhar na reabilitação de jovens e adultos. Casada e mãe de dois filhos, frestas de luz que a vida lhe deu. Unida à Poesia desde os treze anos, publicou em 1979 Fusão Crepuscular e outros Poemas em edição de autor. Participou, a convite, numa antologia de poetas do Baixo Alentejo, dois anos mais tarde. Natural de Sines, traz consigo o aroma das marés vivas de Setembro. De extremos, ama o aroma das terras, o sol, as alfazemas em Junho. Criadora e co-autora da Página "Quem lê Sophia de Mello Breyner Andresen"Lília é co-autora da Página "Poesia com Artes" e, neste âmbito, realiza  Encontros de Poesia e Artes em Oeiras. Tem criado eventos, prefaciado,  participado e/ou apresentado diversos livros de poesia de outros autores. Participou com outros onze autores em Rio de Doze Águas (Coisas de Ler, 2012), antologia prefaciada por Joaquim Pessoa. Publicou Parto com os Ventos (Kreamus, 2013), prefaciado por Carlos Eduardo Leal, RJ, e ilustrado com esculturas de arame de Simone Grecco, SP. Ama as pequenas coisas. Prende o olhar numa lágrima, num amigo, numa estrela.
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