A cidade de Russas necessita de um ABRIGO PÚBLICO PARA ANIMAIS ABANDONADOS, com clínica e profissionais adequados aos cuidados. Apoie essa ideia e exija dos nossos representantes políticos ações efetivas! A cada ano, dezenas de animais nascem e morrem, sem que haja uma política pública adequada que os proteja. Não podemos deixar que isso continue!

quinta-feira, 25 de setembro de 2014

O CORPO PARADOXAL

A cidade nova
traz um aroma de sol-de-suor,
dos operários
que lhe atravessam incansáveis,
da grama pelos quintais sem verdor.

Tomada de uma outra fauna
(bichos que se movem
na ferida do pó vermelho),
a cidade pulveriza meu pensamento;

detona-se-me!;

constrói-se num corpo paradoxal
sobre a ossatura do pensador ―
pois que já ele anunciara
este grandiloqüente funeral
que adoeceu o domingo
das crianças no parque.




Nova Jaguaribara, outubro/2001




│Autor: Dércio Braúna
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# Poema constante de O Pensador do Jardim dos Ossos; Edição do Autor, 2005.


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* Dércio Braúna é poeta, contista, historiador; autor de O pensador do jardim dos ossosA selvagem língua do coração das coisasMetal sem húmusComo um cão que sonha a noite sóUma nação entre dois mundos: questões pós-coloniais moçambicanas na obra de Mia Couto e Nyumba-Kaya: Mia Couto e a delicada escrevência da Nação Moçambicana.
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Roteiro para apartar escuridões

Temperar a fervura da cintilância
O desabafo das miríades de ló
Assustar o espasmo do riso
A reentrância das bochechas
E a disciplina da descoberta
Torturar a áspera essência do olfato
               E as nênias para solidão
Jurar de um sobressalto só
               (Um torpor de constelações)




│Autor: Whisner Fraga
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# Poema constante de O livro da carne (7Letras, 2010)

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Whisner Fraga é escritor, autor de, entre outros livros, Abismo poente (Ed. Ficções, 2009)
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CORPO, MATÉRIA INSISTENTE


Nada sou fora do meu corpo.
Não existo alhures: cá estou
nesta geografia que se vai no tempo
                                                  e sente
enquanto vive e suporta.

Quando digo “coração”, sei que lhe cabe
a Alpinia Purpurata e o Blueberry.
Mas, sem miocárdio, o músculo em si,
nenhuma massa que se diga mundo
                 (o ser que por mim passeia,
                            denso corpo que sou)
existiria.

Careço, não por capricho,
de água, arroz e teto
(o tanto quanto de fala,
            escuta e carinho).
Mais que isso:
           careço, com este eu-corpo,
           existir sem medo e andar livre
           por livres ruas, vento a me lamber a pele.

Por condição, corpo acirrado,
matéria organizada em sistemas e aparelhos,
componho-me insistência de vida
que se entende com estrelas e paredes
― não sem alguma luta.



│Autor: Webston Moura
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quarta-feira, 24 de setembro de 2014

Agreste



Caberia nestas palavras uma alegria
de alguma mulher, uma Maria,
seu rosto em rosa, apesar da luta,
seus sonhos todos, uma outra história
de um outro dia (domingo, talvez),
junção de luzes na amena manhã.

Mas, não!
Aí está ela, esta que se vê de vestido amarrotado,
gesto enorme, corpo dobrado sobre o corpo do filho,
estatística que sangra em plena rua
e ocupa um nome rasgado a coices,
explosão da vida em seu negativo.

É agreste olhar o que há
e não há agreste suficiente
que encarne uma palavra pra dizer disto.


│Autor: Webston Moura


terça-feira, 23 de setembro de 2014

ENTARDECER

Presente ao cair da tarde
                    noite (o pássaro
                              se recolhe
                              em gritos
                              de medo)

              onde me apresento
              em norte (o desnorteado
                             pássaro aninhado)

         e não me aguardo
         no encontro desigual
         entre luz e sombra

(ao pássaro cabe
 recuar e prender
 em galhos
              o ninho).



Autor: Pedro Du Bois 

# Leia também:

- CEDER

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* Pedro Du Bois [Passo Fundo-RS, Brasil] - Poeta, contista, autor de Iguais (poemas), O senhor das estátuas (poemas), Os objetos e as coisas (poemas) Pedro Du Bois Em Contos (contos). Participa do Projeto Passo Fundo (http://www.projetopassofundo.com.br/), é membro da Academia Itapemense de Letras e do Clube dos Escritores de Piracicaba. Mantém o blog Pedro Du Bois - Poemas (http://pedrodubois.blogspot.com.br/) e reside atualmente em Balneário Camboriu-SC, Brasil.
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